2013 é, sem dúvida, um ano de muitos desafios. A crise aperta, os orçamentos reduzem-se, e as perspectivas não parecem muito animadoras. Numa altura em que o primeiro trimestre está quase superado, pedimos a alguns artistas das mais diversas áreas que nos dessem três ideias para sobreviver a 2013. Aqui ficam as suas respostas.
Miguel Moreira, actor, performer, encenador, membro do Útero
1. Chorar. Ter a capacidade de afirmar a nossa tristeza quando ela existir. Desabafar.
2. Rir. Mesmo em momentos difíceis podemos ter o coração aberto de amor e felicidade.
3. Emocionar. Ver espectáculos. Entrar sem pagar quando a carteira está vazia. Alimentar a alma.
João Pedro Vale, artista plástico, realizador
1. OCUPA CHIC: Ideia roubada da minha amiga Adriana Freire, mas que me parece perfeita para sobreviver a 2013. Organizar a sua festa dentro de uma outra festa. Descobrir uma festa com bar aberto e convidar os amigos, assumindo o papel de anfitrião, sem gastar um cêntimo!
2. Vender produtos portugueses de marca branca no ebay como se fossem produtos gourmet, pelo dobro do preço. Azeite do Pingo Doce como "Exquisite Extra Virgin Olive Oil". Não é mentira nem burla e sempre dá para ganhar uns trocos.
3. Fazer amigos. Ajudam a sobreviver a tudo.
Nuno Nunes, actor, encenador, membro da Propositário Azul
1. Criar e fortalecer relações entre pessoas. Basear os projetos nas relações humanas e na confiança;
2. Querer o máximo, o melhor, mas estar bem com o possível; aceitar que o caminho se faz caminhando, passo a passo; aceitar os revezes com naturalidade;
3. Resistir, superando, a todas as formas, deliberadas ou dissimuladas, de destruição da capacidade de acreditar, de empreender e de gerar ideias.
Carlota Lagido, coreógrafa, figurinista, bartender
1. reduzir a vida a uma mala e pouco mais. vender quase tudo o que verdadeiramente não precisamos ou deixar na garagem da mãe. Chegamos rapidamente à conclusão que não precisamos de quase nada. De seguida, devemos sair da cidade em direcção ao campo, o mais depressa possível, para o mais longe possível. Isto de ser artista pode perfeitamente funcionar no meio das couves, para além de que se comermos as couves que semearmos, não precisamos de trabalhar para as comprar e ficamos com muito mais tempo para criar. Quem diz couves diz acelgas.
2. funcionar num circuito alargado de amigos, fazendo dinheiro e bens circular entre todos, fazendo crowdfundings, trocando bens alimentares e outros. Promover jantares e almoços rotativos, partilhar meios de transporte, medicamentos, etc.
3. tirar o pouco dinheiro que temos do banco antes que seja tarde, cancelar as contas e se possível, entrar concertada e massivamente em desobediência civil. Em última instância, podemos sempre constituir uma empresa de fabrico e venda de cofres-fortes caseiros para aqueles que têm medo de guardar o dinheiro debaixo do colchão, e enriquecer...
Tiago Rodrigues, - actor, encenador, dramaturgo, membro da Mundo Perfeito
1. Sobreviver não chega
Pediu-me o Coffeepaste que enumerasse “Três ideias para sobreviver em 2013”. No entanto, a primeira ideia para um artista português sobreviver em 2013 é que sobreviver não é suficiente. Não pode ser esse o objectivo. A sobrevivência é a resignação perante quem nos diz que estes não são tempos de utopias, lirismos ou radicalismos. Pelo contrário, acredito que as crises profundas, económicas ou políticas, são os momentos de nos reencontrarmos com os nossos valores e projectos fundamentais. Entre a espada e a parede – essa expressão “tão 2013” – não é o lugar de ser pragmático e desistir duma parte dos nossos projectos. Sim, alguns artistas vão fazer uns trabalhos que os entusiasmam menos sobretudo para ganhar dinheiro, mas servir-se-ão disso para financiar o seu pensamento artístico ou o início dum projecto em que acreditam profundamente. Outros artistas verão hipotecadas as suas hipóteses de fazer o seu trabalho do modo que planearam, mas continuarão determinados em defender e desenvolver as ideias que estão no coração da actividade criativa. É verdade que haverá que sobreviver em 2013, mas haverá também que ter os olhos postos numa vida plena, numa alternativa de futuro e num trabalho artístico em nome dos quais valha a pena sobreviver.
2. Existir em rede
A estratégia mais fundamental para um artista sobreviver em 2013 ou em qualquer outro ano, já que são poucos os anos em que a sobrevivência não seja uma prioridade dos artistas, é a cooperação. Felizmente, em Portugal, estamos cada vez menos encerrados nas nossas capelinhas. O Mundo Perfeito, por exemplo, que é a minha estrutura de criação, existe graças à ligação com outras estruturas que nos apoiam e com as quais dialogamos e cooperamos. Este ano o Mundo Perfeito celebra o seu 10º aniversário em conjunto com outra companhia, a Mala Voadora, que também celebra uma década de actividade intensa, e faremos uma grande festa conjunta com a apresentação de 9 espectáculos diferentes no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Num tempo de dificuldades, juntámo-nos para celebrar uma década que passámos a ultrapassar essas dificuldades.
Penso que, seja entre artistas individuais, colectivos ou instituições, uma boa parte da sobrevivência das artes passa pela cooperação e por descobrirmos o que conseguimos fazer juntos, numa lógica de circulação livre de ideias, de debate e de entreajuda. Não se trata de substituir o Estado no seu papel fundamental de fomentar a criação, mas de conquistar independência em relação aos decisores políticos, tantas vezes ignorantes da realidade em que operam os artistas. Existirmos em rede é acelerar incrivelmente o potencial de inovação, é multiplicar públicos, é garantir a diversidade e qualidade dos trabalhos artísticos, é sermos nós os arquitectos do encontro das pessoas com as nossas criações.
3. Inventar um vocabulário para as artesDizer que é preciso inventar um vocabulário para as artes, é apenas uma maneira pretensiosa de dizer que é necessário falar de outra maneira sobre as artes. O teatro, a dança, a música, as artes visuais, a literatura ou cinema que realmente me tocam, fazem-me falar sobre o que vi, ouvi e li (porque ler é profundamente diferente de ver). E não apenas falar da artes e dos artistas, mas das realidades sobre as quais trabalham, das coisas que também fazem parte das nossas vidas. Mas não chega falar depois de ver, ouvir ou ler. É preciso também falar antes e saber falar antes.
Muito do discurso público sobre as artes em Portugal tende para a demagogia e o populismo, sobretudo quando vem da parte de certos políticos, cronistas e, pasme-se!, intelectuais. É essencial renovar a linguagem que utilizamos ao falar dos artistas portugueses, erradicar a pequena inveja, o despeito e o preconceito. Termos como “subsidiodependência” são fruto da ignorância. Tendo em conta o ridículo investimento do Orçamento de Estado na Cultura, se as artes portuguesas dependessem de subsídios, estavam extintas há muitos anos. Dependente do Estado é a banca, que vive dos privilégios ilegítimos de que beneficia em Portugal. Mas disso, os
opinion makers ou os políticos têm mais dificuldade em falar.
É necessário promover a criação de espaços que falem dos artistas, como é o caso do Coffeepaste e alguns outros, mas também é necessário exigir mais espaço para a Cultura nos media
mainstream como a televisão, a rádio e a imprensa. E que esse espaço seja esclarecido e compreenda que cumpre um função fundamental para que o acesso à criação e fruição artísticas seja cada vez mais democrático e feliz.
Andresa Soares, performer, membro da Máquina Agradável
1. Aplicar os tempos de espera e incerteza a conceber projectos para o futuro que realmente gostássemos de fazer (a viabilidade não é importante e não convém ultrapassar mais que 5 anos de futuro correndo o risco de se tornar deprimente)
2. Alugar quarto a turistas e ir viver para a casa de amigos e vice-versa (a tão afamada mobilidade)
3. Ser feliz com a revisitação de roupas antigas e downloads da internet e assim poupar uns trocos para assistir a espectáculos de artes performativas