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A honestidade da peça "Má fé"

Por

 

Joana Neto
17 de Julho de 2023

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A honestidade da peça "Má fé"

Má fé é um espetáculo honesto. Parece um paradoxo, mas é a busca da verdade, tantas vezes dolorosa, que perpassa todo o espetáculo. A verdade está algures escondida atrás de um segredo. E a mentira pode ser, afinal, um ato de generosidade? O texto joga bem com as duas faces da mesma moeda. É curioso ter escolhido ver uma peça cujo título é um conceito jurídico. Sim, talvez tenha sido justamente essa deformação profissional que, inconscientemente, me despertou interesse. E deixou-me agradavelmente surpreendida. Uma das personagens é uma estudante de Direito, "a betinha filha de um advogado" que foi fazer "turismo social" para a discoteca frequentada pela sua amiga do bairro. Certo é que entre notificações, inquérito, instrução, os conceitos jurídicos são (o que é raro) usados com rigor. 


E mesmo quando se conclui que o termo jurídico adequado para uma situação é "que azar do caralho" não se pode negar que é, hilariantemente, oportuno.


A peça usa o vernáculo sem parcimónia, mas fá-lo com ritmo, intenção e realismo. Os diálogos, que a dado passo podem parecer conversas triviais, e essa leveza é um dos deliciosos condimentos do texto dramatúrgico, são também confissões profundas de adolescentes marcadas por um acontecimento ou, talvez, mais marcadas ainda por diferenças sociais que as fascinam ao ponto de as aproximarem, mas fortes o suficiente ao ponto de as separarem. E chega-se aqui com referências nostálgicas à juventude, com o revivalismo da música dos Beatles, dos Talking Heads, da Patti Smith, com essa memória do tempo em que fervilham as ideias, mas não se encontram as palavras. Estamos a ver adolescentes naquele tempo em que se sente que se pode falar de tudo, sem filtros, sentado numa sanita, com álcool e drogas à mistura. A cumplicidade sem paralelo de uma conversa na casa de banho de uma discoteca. Um clássico memorável, pois. É ali que se toma balanço para a música, as pessoas, a confusão e que se partilham sensações tão arrebatadoras quanto turvas. 


Os adolescentes vão-se identificar e atrevo-me a dizer que os não adolescentes vão encontrar o adolescente dentro deles, porventura com um misto de saudade e de tranquilidade, afinal toda aquela inquietação também é, tantas vezes, ou quase todas, demolidora. As interpretações da Inês Afonso Cardoso, da Luísa Guerra e da Sara Neves (que chega depois para um momento divertidíssimo: come a cena em frente a um público ávido) são cheias da entrega da juventude e é tão bom ver tanta energia em cena. Elas fumam, gritam, insultam-se, falam de forma sobreposta, interrompem-se, discutem, adoram-se, detestam-se, perdoam-se, persistem e, sobretudo, fazem o público sentir-lhes a pulsação, devolvem emoções para a plateia. A adolescência nunca morre. É uma chama que fica. O entusiasmo da sala de bolso, lotada, na Rua da Miragaia, continuará a fazer daquela sala um lugar muito especial.  


Mesmo que seja só por Má Fé não deixem de ir. 


A peça é de Pedro Galiza, encenada por Daniel Silva, cenografia de Sissa Afonso, figurinos de Joana Africano, desenho de som e sonoplastia de Joel Azevedo, desenho de luz de Renato Marinho e Tiago Silva, assistência de encenação e assistência de produção de Simao do Vale Africano, produção executiva de Ruana Carolina e assistência de produção de Maria Inês Peixoto.

Uma produção da Subcutâneo - Teatro Hialurónico.


Como cantava a Cindy Lauper "In a world full of people/You can lose sight of it all/And the darkness it's inside you/Can make you feel so small/But I see your true colors/Shining through".

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