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A língua como Çubiaco

Por

 

Tânia Ramos
4 de Junho de 2022

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A língua como Çubiaco

Em cada língua existem expressões que muito dizem a quem as fala num espaço geográfico demarcado e que pouco dizem a quem está fora dele. Duas das expressões que a minha avó dizia eram estas:

Dar de Vaia – Cumprimentar

Dar notícia – Reparar

A minha primeira professora foi a minha avó. Tínhamos um livro antigo, da prima Manuela, e a avó ia serenamente passando as páginas e ensinando cada uma das letras. Menos o S.

Quando chegávamos ao S descia em mim um João Villaret e não havia tempo para mais nada – a procissão começava a passar entre a sala e a cozinha – “Tocam os sinos, da torre da Igreja…”

A minha avó foi também a primeira professora com quem discuti: “por causa dela” tive o meu primeiro erro de português num ditado da escola.

A minha avó não via as notícias, não dava notícia. Ela dava Motícia.

“Outra Língua” é um trabalho que aparece de uma forma cómica e leve para nos inquietar e tirar o tapete debaixo dos pés em todas as certezas que temos do ponto de vista eurocêntrico no que toca à língua portuguesa. Entramos na Sala Estúdio e parece que aterramos numa ilha equidistante entre Portugal, Angola e o Brasil. Numa terra que não reivindica o poder sobre o meio de comunicação porque sabe que, mal ou bem, é essa a sua finalidade. Comunicar. Chegar a. Unir.

O lugar de poder define-se sempre por quem tem mais – dinheiro ou retórica podem ser só as moedas de troca, mas é aqui que se joga o importante jogo das cadeiras. Quem tem dinheiro, define as regras. Quem não tem, não pode desistir do jogo sob pena de ficar isolado.

A Keli, a Tita, a Raquel e a Náná vão apresentando quadros sobre as suas diversas experiências e adicionam contexto de estudos linguísticos: o que define uma língua, o que é a norma e o qual a validade do que foge à norma. E a Valentina? É tão natural não estar lá a Língua Gestual, a audiodescrição, a legendagem que nunca nos apercebemos do impacto que poderá ter para o público a sua presença como parte integrante e não apenas num dia, e não apenas numa sessão especial.

Enquanto escuto, leio e sorrio lembro-me de outra das minhas paixões secretas – o estudo das Línguas (consideradas) menos importantes.

Quando aprendi Mirandês, dizia quem me ensinava que nas aldeias toda a gente o falava mas que tinham gosto em que os seus descendentes aprendessem Português a que chamavam a Língua fidalga, a língua de quem subia na vida. Quando nos anos 90 se tentou parametrizar a língua e criar uma norma que foi aprovada, os falantes de mirandês foram os primeiros iletrados. Portanto, quando se institucionalizou a língua com regras quem a falava não a sabia escrever.

Foi também no mirandês que descobri que não é só a palavra Saudade que é difícil de traduzir em outras línguas. Tentem compreender a ternura da palavra mirandesa Çubiaco.

São estas as questões que nos vão surpreendendo durante esta peça – a língua como instrumento político, cultural, social. A língua como liberdade, como identificação, como ponte.

Cabe-nos esse papel de questionar e de pensar. De desafiar e crescer com uma língua que sendo viva estará sempre em constante mutação.Talvez seja hora de darmos motícia disto, não é avó?

“Outra Língua”
Criação: Keli Freitas, Nádia Yracema, Raquel André e Tita Maravilha
26/05/2022-12/06/2022
Teatro Nacioal D Maria II

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