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Entre plantas, gestos e afetos, Marina Guzzo volta a misturar arte e natureza em Coimbra. A artista e pesquisadora brasileira apresenta Mistura #8, uma exposição imersiva no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, no âmbito do festival Linha de Fuga. O projeto nasce de uma oficina-performativa realizada em 2024, onde participantes, sobretudo mulheres, exploraram o corpo e a paisagem num processo coletivo de escuta e criação. A exposição, registada por Carlota Lagido, prolonga agora esse gesto, transformando rastros e presenças em matéria poética.
Conversámos com Marina Guzzo sobre este encontro entre corpo e território, o papel da arte diante da crise climática e a potência transformadora das práticas artísticas em contextos comunitários.
O projeto Mistura #8 nasce de uma oficina-performativa. Como foi o processo de envolver pessoas de Coimbra e transformar essa experiência numa exposição?
O Mistura é sempre um processo de escuta e de invenção coletiva. Em Coimbra, trabalhamos com um grupo maravilhoso, a maioria de mulheres, e foi muito especial porque a gente trabalhou na estufa do Jardim Botânico, e isso já foi uma experiência em si. A partir de encontros durante uma semana — caminhamos, respiramos juntas, experimentamos coreografias vegetais, misturamos pequenas coreografias com plantas e objetos/ tecidos. Foi um convite para que as pessoas trouxessem suas próprias histórias e afetos em relação à paisagem, às plantas, às roupas. A exposição foi, na verdade, a continuação dessa oficina: ela não documenta apenas o que aconteceu, mas prolonga o gesto, oferecendo ao público a possibilidade de entrar em contato com essas presenças, rastros e imaginários produzidos em comum. Tudo que a gente produziu desapareceu, ficou no corpo das participantes. A fotografia, de alguma maneira, traz uma materialidade para essa experiência.
Desde 2011 tens centrado a tua pesquisa na crise climática. Qual achas que é o papel da arte e do artista na criação de imaginários para enfrentar o Antropoceno?
A arte tem a capacidade de criar novos regimes de percepção. Não se trata de oferecer soluções técnicas, mas de abrir espaço para imaginar e sentir de outras formas. No Antropoceno, precisamos mais do que nunca de gestos de cuidado, de descanso, de reencantamento. A arte pode nos ajudar a perceber a dimensão mais-que-humana da vida, a formar alianças afetivas e a inventar narrativas que escapem da lógica de exploração e exaustão. Para mim, o papel do artista é cultivar esses espaços de imaginação coletiva.
Trabalhas frequentemente em parceria com instituições de saúde, cultura e assistência social. O que descobres quando a arte sai dos palcos tradicionais e entra nesses contextos?
Descubro que as práticas artísticas são, antes de tudo, tecnologias de cuidado. Quando ela se desloca para hospitais, centros comunitários, territórios vulneráveis, ela deixa de ser um produto de um determinado mercado e passa a ser uma prática relacional. Isso muda tudo: muda a maneira como pensamos o corpo, o tempo, a presença. Nesse contexto, a arte pode acessar e transformar também realidades que não chegariam a um teatro, uma galeria, uma mostra.
Nesta exposição trabalhaste com Carlota Lagido. Como surgiu essa colaboração e de que forma o olhar dela influenciou o resultado final?
A Carlota tem um olhar muito atento para os detalhes, para a delicadeza dos gestos. A nossa colaboração surgiu do desejo da Catarina Saraiva, que é a curadora do festival, de cruzar o meu trabalho coreográfico com a sua pesquisa em moda e performance. E deu muito certo! Parecia que a gente já tinha feito muita coisa juntas, parecia que éramos amigas de longa data. Ela trouxe essa atenção especial, criando camadas poéticas que ampliaram a experiência de Mistura #8. O resultado foi muito lindo e orgânico. Eu fiquei muito satisfeita e acho que as mulheres participantes também.
Participaste na conversa “O que me faz artista?”. Então pergunto: o que te faz artista?
O que me faz artista é a vontade de dançar com o mundo - ou com os mundos, porque são muitos mundos! De estar perto desses mundos de um jeito muito intenso. De transformar a experiência em gesto, em partilha, em criação coletiva. Ser artista, para mim, não é uma identidade fixa, mas um modo de estar viva: atenta, porosa, disposta a me deixar afetar e a inventar com os outros. O que me faz artista é essa busca constante de criar espaços de encontro, de cuidado e de imaginação em meio à crise.
Foto: © Carlota Lagido
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