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Amália, de Pedro Penim

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18 de Janeiro de 2023

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Amália, de Pedro Penim

Toda a gente conhece a ladainha do empreiteiro: “sabe, é que isto, vêm aí os feriados, depois mete-se o Natal, e a seguir o Ano Novo, isso depois só lá p’ra Agosto”. Pedro Penim, antevendo a demora das obras no Teatro Nacional D. Maria II, não foi de modas: deixou as chaves com a porteira, aproveitou que tinha o seu posto de trabalho ocupado com caixotes de economato, e dedicou-se de corpo e alma à sua nova e muito antecipada criação, Amália.

Desde que se emancipou da estrutura-mãe, o Teatro Praga, Pedro Penim tem seguido um percurso artístico mais solitário e reservado. Parece, no entanto, que bateu a saudade de trabalhar em equipa: convidou, para a cocriação de Amália, um colaborador da sua estreita confiança. Mark Lowen, jornalista e correspondente, assina e partilha todas as responsabilidades criativas e logísticas com Pedro Penim, naquilo que poderia caracterizar-se como um casamento perfeito. E, à semelhança de um dos seus últimos espetáculos, Pais&Filhos — cujo nome remonta diretamente à icónica Magazine portuguesa dedicada à parentalidade —, o dramaturgo voltou a debruçar-se sobre o tema da filiação, da família, e respetivos ecos no mundo contemporâneo.

Para já, e infelizmente, o acesso a este espetáculo é ainda bastante reservado. Em primeiro lugar, o espetáculo estreou no distante Canadá; e segundo, a plateia tem-se resumido a um punhado de pessoas do círculo íntimo da direção artística, com o objetivo de testar o dispositivo performático, avaliar as reações aos estímulos externos e nutri-lo para que cresça saudável e resiliente. Sabe-se também que Amália tem habitado sobretudo fora dos palcos, em espaços não convencionais, e que tem gozado de uma receção bastante calorosa e empática por parte de quem já teve a oportunidade de assistir. As poucas fotografias que têm chegado à nossa consideração, nomeadamente através de plataformas digitais, revelam um cenário bastante realista, frio e austero, quase polar, que contrasta com figurinos de cores pastel e adereços da Prénatal — tudo pontuado com bom gosto e polvilhado com uma patine de “vida real” e naturalismo, como é apanágio do criador. Apesar do contexto gelado em que se aparenta enquadrar, esta obra foi feita para derreter até o mais glacial dos corações.

Parece, no entanto, que este é dos projetos mais imaturos e inacabados que o recém-empossado diretor do Teatro Nacional alguma vez apresentou. Trata-se de uma performance muito pouco autónoma em relação aos seus criadores, por vezes demasiado barulhenta, outras demasiado silenciosa, com um texto impercetível e incapaz de seguir um guião minimamente estruturado. A peça é responsiva somente a algumas deixas — e, mesmo assim, falível — o que torna cada récita bastante imprevisível, Prometendo à espectadora ou ao espectador uma risada, uma muda de fralda ou, tão simplesmente, uma sesta bem dormida. Temos, pois, um espetáculo que carece constantemente de alimentação, estímulo e carinho do seu público.

Apesar da imperfeição e do aspeto inacabado, são essas mesmas características que conferem a Amália o seu maior potencial de crescimento — sabe-se que foi uma ideia muito preparada, ensaiada e antecipada quer por Pedro, por Mark, que por toda a equipa envolvida. É, e sempre foi, objetivo do encenador criar um objeto artístico que não fosse estático nem estanque, mas que evoluísse com o tempo, que encontrasse o seu lugar no mundo contemporâneo e que fosse permeável às pessoas, eventos, lugares, e contextos. Pedro Penim, ainda assim, defende que este não é um projeto como tantos outros, de “acontecer e arquivar”: afirma que estamos perante um projeto de uma vida, genuinamente. Esta é a sua obra maior, que se espera duracional — diria até poder tratar-se de uma espécie de interpretação muito pessoal da já clássica longa-metragem Boyhood.

O público português aguarda agora a chegada do projeto a solo nacional. Se não se repetirem os fados de Santa Engrácia, talvez ainda o possamos ver Amália a dar os primeiros passos na sala Garrett, no próximo ano. Por agora, enviamos além-mar os nossos parabéns a toda a equipa por ter dado à luz esta obra.

 

sombra.critic@gmail.com

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