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Com estreia marcada para 18 de setembro no Teatro Ibérico, Bairro Profano é a nova criação de Rita Costa - autora, encenadora e diretora artística do espaço. O espetáculo nasce da relação entre indivíduo e território, tomando como ponto de partida os bairros do Beato e a convivência entre um passado marcado por memórias de devoção e comunidade e um presente que muitas vezes parece querer apagar essas histórias.
Em conversa com o Coffeepaste, Rita Costa fala sobre o processo de criação, o papel das associações locais, a importância de dar visibilidade às vidas e realidades muitas vezes escondidas, e sobre como o teatro pode ser ponte entre vizinhanças, territórios e públicos.
O que te levou a olhar especificamente para o Beato como ponto de partida para Bairro Profano?
O facto de querer conhecer um pouco das pessoas que vivem e trabalham aqui, à volta do Teatro Ibérico. De querer conhecer a vizinhança. E de perceber que, sendo uma geografia física tão pequena, a distância entre vivências, experiências, de expectativas, é enorme. E também o desejar conhecer quem são. Como vamos até às pessoas que estão à nossa volta? Como as trazemos aqui ao teatro?
A sinopse fala de uma “ponte inexistente” entre o sagrado e o profano. Como é que traduzes essa ideia em cena?
É a ideia do antes e do agora. O que ficou por fazer, e o que se reivindicou e nunca aconteceu. A ponte é a forma como se atravessam esses dois tempos.
O sagrado não o é no sentido religioso, mas resulta da recriação desse passado pela memória – as barracas, as quintas, mesmo a lama – dando-lhe um sentido que o torna superior, mais valioso, do que a realidade actual. É recordado com melancolia e nostalgia. E esse passado passa a ser vivido de forma sagrada pelas pessoas, comparativamente ao presente.
Até que ponto o trabalho nasceu de pesquisa direta com a comunidade do bairro, e até que ponto foi uma construção mais ficcional ou simbólica?
O projecto nasceu todo da pesquisa com as comunidades e não existiria sem o contacto directo com os habitantes dos bairros do Beato. Porém, isto não exclui a existência de uma construção ficcional, que acontece a partir do momento em que nos apropriamos de histórias que não são nossas e as colocamos em cena.
Que papel tiveram as associações locais na construção do espetáculo?
As associações tiveram o papel principal. Sem elas não conheceríamos os bairros, os moradores, as comunidades. Foram a ponte entre a equipa artística e os moradores e o seu papel foi essencial para um trabalho de criação teatral com base nas pessoas.
E tiveram também uma acção fundamental na construção da dramaturgia, ao acompanharem o processo criativo. Há elementos que inicialmente estavam mais evidentes no texto e que, através do diálogo e da partilha que foi existindo com as associações, acabei por considerar não fazer sentido e retirar.
Como é que, na tua perspetiva, o teatro pode revelar histórias de lugares que muitas vezes ficam invisíveis ou apagados?
O Teatro é uma representação da vida. Ao falar destas histórias, dá-lhes uma visibilidade e um impacto tremendos, porque passam a estar à nossa frente, em cima de um palco. Tornam-se realidades palpáveis. Sem o Teatro, estas histórias e lugares são invisíveis, ficam escondidos perante outros que se sobrepõem. O papel do Teatro é dar-lhes uma voz.
O que significa para ti “pertencer” a um bairro, a um território?
Significa conhecer as pessoas quando vou tomar um café à rua. Ter comunicação com os meus vizinhos, perceber as pessoas que habitam neste território. Ele não existe sozinho, existe porque tem estes habitantes. Pertencer é sentir-me uma espécie de filha da casa.
Sentes que Lisboa vive hoje mais essa tensão entre centro e periferia, postal e realidade escondida?
Completamente. E os bairros do Beato são um espelho dessa condição. É precisamente como um postal, olhamos fascinados para a fotografia e esquecemo-nos de que a informação sobre quem o envia, e a mensagem, estão nas costas.
Aqui, à beira-rio, criam-se espaços de lazer, de entretenimento e a cidade esquece-se dos lugares que ficam por detrás. Que têm também a sua beleza. Uma beleza não tão brilhante, talvez, mas que está lá.
Que opções cénicas e visuais foram fundamentais para materializar este “bairro profano” em palco?
Uma delas é o próprio espaço cénico, com a colocação do público em cima do palco despido do Teatro Ibérico, que é, por si só, um elemento único e muito potente. Outra opção cénica é o vídeo mapping, que retrata a construção destes lugares, assim como o fundo sonoro e a música tocada em palco por uma das intérpretes. E também os figurinos, que procuram aproximar as intérpretes das pessoas com quem nos fomos relacionando.
Trabalhaste com uma equipa diversa de criadores. Que contributos inesperados surgiram dessa colaboração?
Em Bairro Profano o trabalho acontece com uma equipa de criadores que se conhece bem. Só as actrizes são elementos novos. Mas muitos dos contributos mais inesperados, e ricos surgiram da parte das associações de moradores e das pessoas com quem fomos contactando e que ajudaram a criar este espectáculo. Acho que o inesperado foi mesmo receber tanto parecer e contribuição, coisa a que nem sempre estamos habituados.
No teu trabalho anterior, tens procurado cruzar o teatro com outras linguagens artísticas. Como é que essa exploração aparece em Bairro Profano?
Através da música, com o Ricardo Martins que agora está fora do palco a criar a música e os ambientes sonoros. Com o vídeo mapping, criado pelo Roger Madureira, e na utilização do espaço como um todo, com a possibilidade do o habitar, onde se convidada o publico a fazer parte da cena.
Como diretora artística do Teatro Ibérico, sentes que este espetáculo também reflete a missão da casa?
Completamente. É cada vez mais importante para mim que o Teatro Ibérico se aproxime das comunidades que o rodeiam. Sendo um teatro longe dos centros, no contexto da cidade de Lisboa, é determinante olhar para quem está à nossa volta. E criar artisticamente com as comunidades faz já parte da identidade do Teatro Ibérico.
Que transformação gostarias que este espetáculo provocasse no olhar do público sobre Lisboa e os seus bairros?
Não pretendo que haja uma transformação especifica, mas pensamento. Se Bairro Profano fizer pensar e levantar questões sobre estas pessoas e as suas vidas, é uma vitória. Reflectir é também uma forma de reconhecer o outro e de nos reconhecermos perante ele. Quem são estas pessoas? E até que ponto eu não sou uma delas? E colocar isto como uma possibilidade real. O pensamento, por si só, já é uma transformação.
Foto: Ensaio de Bairro Profano © Alípio Padilha
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