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A performance "As Troianas" foi inspirada na tragédia escrita por Eurípides sobre a Guerra de Tróia. As mulheres que se tornaram despojos dos vitoriosos aqueus após a captura de Tróia lembram as vítimas indefesas das guerras modernas. A crueldade dos vencedores é a mesma de há centenas de anos. A violência descrita na antiga tragédia não é diferente daquela dos refugiados de guerra no século XXI. “As Troianas” torna-se inabalavelmente atual. Ana Isabel Sousa e David Correia, fundadores da companhia de teatro Gato Escaldado, contam-nos mais sobre a performance, que será apresentada no dia 1 de agosto de 2024 na Fábrica da Pólvora de Barcarena, tendo entrada livre.
Como surge e qual a missão da companhia de teatro Gato Escaldado?
A nossa companhia surge em 2019. Depois de alguns anos no mercado de trabalho, estavámos "cansados" de integrar projetos que eram liderados por pessoas que veem o teatro apenas como um negócio. E é também assim que surge o nome Gato Escaldado, isto porque sentíamos que estávamos escaldados de trabalhar sempre no mesmo tipo de projectos para pessoas que infelizmente nem sempre cumpriam com o que era prometido. A nossa missão passava por criar um lugar seguro onde os atores sabiam com o que podiam contar, um lugar onde não sentissem que eram apenas mais um, mas onde também pudessem fazer parte, que tinham um espaço na parte da criação e na evolução do projeto. Infelizmente, em Portugal os jovens atores têm poucas condições de trabalho, e várias vezes têm de trabalhar em projectos apenas para ganhar dinheiro. Ano após ano, apenas trabalham os mesmos textos com pouca margem de progressão. O que queríamos era criar um local onde o artista se sentisse valorizado.
Falem um pouco do vosso percurso artístico
O nosso projecto começou em Outubro de 2019, apenas 4 meses depois, chegou o COVID. Fomos obrigados a parar e a repensar tudo o que tínhamos imaginado. Depois de termos feito um grande investimento inicial, estávamos parados com todos os espetáculos cancelados. Durante o confinamento, continuámos a criar alguns espetáculos para o serviço educativo, nomeadamente projectos de teatro digital. Era a única forma que tínhamos de trabalhar. Mais tarde, estes projetos tiveram a oportunidade de saltar para o palco. No fim da fase de confinamento, sentimos que o público ainda não se sentia totalmente seguro num espaço fechado e com o apoio da Câmara de Cascais e em co-produção com a SMUP, criámos o Festival Teatro no Parque. Este festival teve duas edições: Na primeira adaptámos o espetáculo Muito Barulho por Nada e na segunda o espetáculo O CID, ambos encenados por Manuel Jerónimo. Depois disso, fomos apoiados pelo projeto Europa Criativa e começámos a trabalhar na performance digital d` As Troianas. Este ano, já estreámos duas produções: O Jantar de Hugo Barreiros; e em co-produção com o Cine Teatro Louletano adaptámos A Ilha do Tesouro. Para fechar a nossa temporada, vamos adaptar para o palco a performance digital d`As Troianas, vamos estrear no dia 1 de Agosto em Portugal, seguindo em digressão pela Polónia e pela Grécia com o projecto.
Como nasce o projeto D.I.V.A e qual o seu objetivo?
O projecto DIVA ( Diversidade Inclusão e Visibilidade nas Artes), surge depois de várias reuniões no programa Europa Criativa, com o líder do projecto: A companhia de Teatro Theama, a companhia mais antiga de teatro inclusivo da Grécia. As Troianas é um projeto de teatro inclusivo que visa proporcionar um espetáculo mais acessível a quem está em cena e fora dela
Como chegaram à decisão de levar a cena “As Troianas”?
O projecto começou a ser criado ainda durante a pandemia, numa altura em que começámos a perceber que a invasão da Rússia à Ucrânia era algo cada vez mais real e assustador.
De que nos fala este texto?
O texto fala-nos do pós-guerra. A guerra não acaba no dia em que há um vencedor, as vítimas continuam ali, as mães, as mulheres, as filhas, ou os pais, os filhos, os maridos de todos os seres humanos que ali morreram, continuam vivos. Grande parte das vezes continuam a ser torturados pelos "vencedores". O texto fala-nos de vítimas que sofrem nas mãos de um agressor.
Como é que um texto inspirado na Guerra de Tróia continua atual em 2024?
Como é possível que uma peça escrita em 425 AC, seja ainda tão atual em pleno séculoXXI? Quem seriam aquelas mulheres nos dias de hoje? E foi aí que percebemos que não são apenas sobreviventes da guerra. Mas todas as pessoas que sofrem de violência doméstica, todas as vítimas dos abusos da igreja católica, neste exemplo muitas destas vítimas são as Cassandras dos nossos dias, que expuseram os seus casos, os seus problemas e foram apenas considerados "loucos", que foram ignorados ou silenciados.
Falem-nos da composição do elenco, e de como a ele chegaram
O elenco é composto por 8 atrizes e 2 atores: Ana Isabel Sousa, Andreia Alves, Arknel Marques, Bárbara Rosa,Bruno Realista, Catarina de Dios, Daniela Rosa, Inês Cóias, Inês Yazalde e Vânia Naia. Para além dos atores e atrizes que colaboram regularmente com a companhia, contratámos mais 6 atrizes depois de realizar um casting. Não foi fácil chegar ao elenco final, existe muita qualidade em Portugal. Mas podemos dizer que estamos muito satisfeitos com o nosso elenco.
Qual a importância da acessibilidade e de que forma está presente nesta criação?
Ao realizarmos este projeto, percebemos com mais clareza o quão fulcral é a acessibilidade, e como estamos tão mal preparados no nosso país, infelizmente. Podemos dizer que até agora foi o projeto mais difícil para encontrar um espaço de ensaios, os espaços não estão preparados para receber atores com cadeira de rodas, por exemplo. Várias vezes, os espaços diziam que nos podiam receber e quando chegávamos aos sítios existiam degraus que não permitiam que os atores subissem a palco. Foi um trabalho muito complicado, e ainda continua a ser. Depois são precisos valores muito elevados para contratarmos equipas de Audiodescrição, de LGP, etc.. e infelizmente existem pouquíssimos apoios para os projectos que queiram ser mais acessíveis. Nesta criação, temos audiodescrição, legendas e LGP e a entrada para o espetáculo é livre de modo a que todos possam assistir. De qualquer maneira, sentimos que todos os dias aparecem novos desafios, e que ainda temos muito para aprender, muitas vezes tentamos dar o nosso máximo, preparar as coisas da melhor maneira possível, mas mesmo assim, no fim do dia, sentimos que falhou alguma coisa, e que ainda podíamos ter encontrado melhores soluções.
É vossa intenção continuar a apostar em projetos internacionais?
Sim, sentimos que neste momento, é mais fácil ter apoio da Europa, do que concorrer aos apoios internos. Aliás, ainda este ano, em Novembro, vamos criar o Festival One-to-One, onde vamos receber 9 artistas da Europa. O festival vai acontecer em Portugal e na Finlândia. E três destes artistas ainda vão poder fazer uma residência artística na Croácia. Por isso, queremos continuar a apostar em projectos internacionais, na esperança que um dia em Portugal, também seja possível receber financiamento para alguns dos nossos projectos.
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