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Big Van, de Silly Season

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COFFEEPASTE
24 de Setembro de 2022

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Big Van, de Silly Season

Podemos, talvez com alguma boa-vontade e ligeireza de critérios, definir artistas ou companhias de acordo com determinados signos que pautam os respetivos percursos criativos — mas este exercício de simplificação é somente útil, no máximo, enquanto combustível a animadas conversas de café sobre o tecido artístico contemporâneo ou, neste caso, à crítica que hoje vos trago. Ainda assim, se tivesse de atribuir ao coletivo Silly Season um símbolo, uma inclinação heráldica, o seu brasão seria o Tempo.

Uma e outra vez, fazem uso do Tempo para escutar, digladiar e questionar a sua presença contemporânea enquanto artistas, enquanto indivíduos. A prova disso são os imensos avanços e recuos cronológicos, transversais à obra do grupo: ora invocam os pais, ora matam os mestres, ora projetam o futuro, ora nutrem a emergência, ora, ora, ora. Louvo particularmente a recente reescrita do projeto de curadoria que têm vindo a desenvolver na Rua das Gaivotas 6, onde agora é possível ver artistas maduras e maduros de várias proveniências, como a Casa do Artista ou a Companhia Maior, a apresentar solos fruto de uma residência artística de meia-dúzia de dias. All Yestarday’s Parties é uma lufada de ar fresco na tendência hiper-vigente de foco nos novos artistas.

Mas a razão que me traz à pena, no dia de hoje, é a estreia do novo espetáculo do coletivo. Em BIG VAN, que abre também a temporada do TBA, a ação passa-se num ponto singular do fluxo dos tempos, deixando-nos na dúvida se nos encontraMos no fim de um universo ou — como sugerido no título — na alvorada de outro. Essa mesma eterna oscilação Sillyca cumpre-se também no cenário: o elenco encontra-se numa espécie de grande van, com interior de Volkswagen pão-de-forma saído diretamente dos sixties que goza, no entanto, de características que a permitem cruzar galáxias e suportar eventos cósmicos inomináveis. É neste anacronismo có(s)mico e kitsch que encontramos as sete personagens, enclausuradas, a cargo de uma missão que se divide simultaneamente entre a moral, filosofia, ontologia e a arte.

Toda a matéria performática, ação e texto, desenrola-se sob uma só problemática. Como em todas as grandes questões, o enunciado é simples: deverão essas figuras deixar que a nova cosmologia parta do zero, em termos culturais e antropológicos, prevenindo interferências, ou deverão elas transpor todas as suas referências e o seu legado para o admirável mundo novo que agora acorda? É neste ponto central, entre o que foi e o que há de ser, que se desenrola um extenso debate que esgrima argumentos francamente pertinentes — demonstrativos de uma profunda pesquisa e debate dramatúrgicos a montante — onde personagens se posicionam no largo espetro compreendido entre o conservadorismo e o progressismo, entre o apreço pelo passado e a sede de rutura do futuro. Se há quem defenda que o novo universo, para o qual se dirigem, deve ter a liberdade da autodeterminação cultural, deixando às leis da espontaneidade e da inspiração o surgimento de novos dogmas, de novos deuses e de novas ciências, outros veem como essencial a partilha do conhecimento do antigo mundo enquanto cópia de segurança, enquanto primeiro degrau que poderá permitir um avanço na corrida evolutiva. Esta discussão, além de belissimamente desemPenhada por um elenco muito competente que a ela lhe empresta a voz e o corpo sem pedir desculpa, reveste-se ainda de uma maior relevância por ter óbvias inspirações em temáticas bem contemporâneas como são a revisão do colonialismo, as recentes políticas de democratização de estados terceiro-mundistas, a corrida espacial, a herança antropológica, a fixação da memória e o direito ao esquecimento.

Sempre críptico, sempre fresco, sempre sincero, o coletivo Silly Season demonstra uma vez mais porque são das companhias que melhor oferecem um bolo simultaneamente estético e filosófico que vai bem com qualquer apetite artístico.

Critic@ Sombr@
sombra.critic@gmail.com

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