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Depois de uma pausa estratégica em 2024, o Festival Lisboa 5L regressa em 2025 com uma nova energia, um novo foco e um tema provocador: Inovação — Utopia / Distopia. À frente da organização está Edite Guimarães, Chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, que desde a primeira edição tem contribuído para afirmar o Lisboa 5L como um espaço único de encontro entre literatura, língua e pensamento crítico. Nesta conversa, falamos sobre os bastidores do festival, a importância de parar para repensar formatos, os desafios da inovação tecnológica, e o papel essencial das bibliotecas como mediadoras culturais num mundo em constante transformação. O festival acontece entre 5 e 9 de maio.
Qual foi o maior desafio na organização desta 5.ª edição do Festival Lisboa 5L?
Depois de quatro edições com programação espalhada em vários locais da cidade, podendo adequar conceitos, temáticas e segmentos a vários espaços tão diferentes entre si, talvez possamos dizer que o maior desafio desta edição tenha sido concentrar o Festival num único espaço e pensar na programação certa para cada uma das salas ou recintos. Ao longo do processo, pensámos em peças de teatro, performances e espetáculos de dança, que se adequavam à temática na perfeição, mas quando postas em cima da mesa se revelavam impossíveis de concretizar por precisarem de condições que receámos não conseguir assegurar.
O que vos levou a fazer uma pausa em 2024 para refletir sobre o festival? Que mudanças decidiram implementar este ano?
As primeiras quatro edições foram incríveis, mas sentimos necessidade de fazer um balanço, para definir o caminho presente e futuro. Nesse balanço, ficou claro que pretendemos consolidar o festival mantendo uma programação eclética e bem articulada entre si. Faz-nos sentido definir, a cada edição, um tema concreto, que cruze a Cultura com outra dimensão estruturante da sociedade, e que esse tema seja explorado através das dimensões da Língua e da Literatura. Queremos reforçar o papel das Bibliotecas de Lisboa enquanto intervenientes ativos na construção do programa.
Na tua opinião, como é que as Bibliotecas de Lisboa se têm afirmado como espaços de mediação cultural na cidade?
As Bibliotecas de Lisboa têm, nos últimos 12 anos, percorrido o caminho definido no seu programa estratégico Biblioteca XXI, consolidando o seu papel enquanto centros culturais de proximidade que acolhem e dinamizam uma programação cultural muito diversificada, dirigida a todas as faixas etárias. Este posicionamento, enquanto espaços de mediação cultural, incluí a promoção regular de atividades de mediação que: fomentam a leitura e as diversas literacias, o acesso à informação e ao conhecimento, atividades que promovem a sensibilidade e a prática artística, bem como a cidadania, a diversidade e a inclusão.
O que distingue este festival dos demais festivais literários?
Creio que este é o único Festival a ser organizado por uma rede de Bibliotecas. Para além disso, distingue-se por assumir, desde a sua conceção, língua portuguesa como um eixo estruturante da sua programação.
Como surgiu o tema desta edição - “Inovação: Utopia / Distopia” - e por que razão achas que faz tanto sentido no contexto atual?
A temática Inovação surgiu como resultado da intenção de se definir, anualmente, um tema concreto, que cruzasse a Cultura com outra dimensão estruturante da sociedade, e que esse tema explorado através do olhar da Língua e da Literatura. Para 2025, escolhemos a temática Inovação por estarmos a viver um momento em que a inovação tecnológica está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia, e em todas as áreas da nossa vida. É um tema ao qual é impossível escapar, atualmente. Cruzá-lo com a língua e com a literatura foi o desafio.
Olhar para a Inovação como um binómio Utopia/Distopia foi uma proposta do curador para a área da literatura, Carlos Vaz Marques, ao refletir sobre a relação entre cultura e inovação. Partindo de uma visão dicotómica da inovação tecnológica na literatura, encarada tanto com entusiasmo como com ceticismo, propôs dois pilares de estruturação do programa literário: Utopia e Distopia.
Achas que a inovação, especialmente a tecnológica, pode ser uma ameaça à leitura e à literatura? Como é que o festival tenta equilibrar essa tensão?
Não tenho essa resposta. Acho que ninguém tem… É uma realidade que não podemos ignorar e que está a transformar e a impactar a experiência de quem lê e de quem escreve, disso não tenho dúvidas.
O Festival tenta, precisamente, trazer diferentes perspetivas para esta discussão com um foco maior no momento presente, tocando ao de leve no passado e um futuro impossível de prever.
Como foi o processo de escolha da programação e trabalho com o Carlos Vaz Marques, a Catarina Magro e o Jorge Amorim? Que valor trouxeram ao festival?
Desde sempre que sentimos necessidade de trazer para o Festival a curadoria da língua e da literatura. São temas muito concretos e estruturantes do programa e à volta dos quais acontece a restante programação. A IA surgiu à posteriori como uma curadoria que veio complementar o programa.
O desenho global do programa, em cada uma das áreas, foi feito em exclusivo por cada um dos curadores. Em paralelo, aconteceram conversas semanais sobre o desenho global da programação. Destas conversas acabaram por surgir algumas propostas programáticas co-criadas exclusivamente para o Lisboa 5L, como por exemplo a performance do dia 9, São feitas de palavras as palavras, desenhada até ao mais pequeno detalhe pelo Carlos Vaz Marques de pela Catarina Magro.
O valor que trazem ao festival é imenso. A frescura no pensamento e a experiência distante do dia-a-dia do trabalho na programação da rede de bibliotecas é muito valiosa.
O papel do Jorge Amorim, menos interventivo na programação geral, foi o de acrescentar a IA à discussão, dando os seus contributos e propondo-se a desmistificar a IA e a trazê-la para o dia-a-dia dos profissionais.
Há várias atividades ligadas à inteligência artificial, como oficinas e mesas-redondas. Como vês o impacto da IA na leitura, escrita e aprendizagem?
Não sou especialista em IA, mas vejo impactos diferenciados nas dimensões da leitura, da escrita e da aprendizagem.
No que diz respeito à leitura, à escrita e à aprendizagem, julgo que o importante é promover o conhecimento e desmistificar o uso da IA, ou seja, promover a literacia sobre o tema. É precisamente por isso que acrescentamos às já habituais conversas e palestras a dimensão prática das oficinas. Trazer o tema para fora da academia é um pequeno contributo do Lisboa 5L, que aliás já foi iniciado na edição de 2023.
De que forma é que o festival promove uma reflexão crítica sobre o uso ético da tecnologia no mundo da cultura e da educação?
A dimensão ética é uma questão crucial e à qual estamos, naturalmente atentos. A mesa no dia 9 de maio, às 18h00, Inteligência artificial na Escrita e na educação – pontes para o futuro, que pretende, também, contribuir para essa reflexão.
Que legado gostavas que esta 5.ª edição deixasse em Lisboa e nas comunidades leitoras da cidade?
Mais do que um legado, alguns desejos:
1) Que os profissionais da Cultura, em geral, e das bibliotecas em particular, não deixem de acreditar no seu papel fundamental para combater a censura e a desinformação, bem como para garantir a promoção da liberdade de acesso à informação e de expressão, conforme estabelecido na Constituição da República Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
2) Que não nos assuste a ideia de escolher temas improváveis, de cruzamento com a cultura que podem resultar em programas incríveis e que tragam o questionamento através do olhar da literatura e da língua.
3) Que as comunidades de pessoas leitoras se divirtam, que aprendam e nunca deixem de se questionar sobre o que vão ouvir e ver e que levem o Festival consigo.
Como imaginas o Lisboa 5L daqui a cinco anos?
Imagino o 5L como o Festival Literário que tem o seu papel definido e consolidado e que, todos os anos, tem a capacidade de nos surpreender. Onde toda a programação é pensada ao ínfimo detalhe. Gostava muito que mantivesse o seu segmento dirigido a profissionais da cultura e que este segmento pudesse crescer.
O que podemos fazer para fomentar a leitura junto de novos públicos?
Curioso. Estamos tão habituados a este tipo de perguntas que pensei que estavas a falar em públicos jovens e a minha a minha resposta seria: Se alguém souber a resposta a essa pergunta, por favor, coloca-me em contacto com essa pessoa. No entanto, tenho a convicção que se tivermos a humildade de escutar o que os jovens têm para dizer, se conseguirmos por a hipótese de que este caminho de promoção da leitura que todos fazemos pode não ser o único caminho e nem sempre o mais objetivo, talvez possamos chegar à resposta. É uma hipótese.
Se pensarmos em novos públicos, em abstrato, acho que devemos passar a mensagem de que leitura é um prazer, não um hábito, não uma obrigação. Mas isso só será possível se conseguirmos garantir que as competências de leitura estão asseguradas. Aceito que alguém não goste de ler por opção, mas não posso ficar indiferente se for por não ter competências de leitura.
Que livro estás a ler neste momento?
Acabei de ler As primeiras coisas do Bruno Vieira Amaral, estou a iniciar Negro Nunca Mais de George S. Schuyler. Simultaneamente estou a ler, com a minha filha mais nova (7 anos), Ulisses de Maria Alberta Menéres.
Um livro pode mudar uma vida?
Acredito que sim. Acredito mesmo no poder transformador da arte e da cultura: um livro, um filme, um espetáculo, uma exposição mudam-nos à vez.
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