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Máquina: não percebi o que é o amor nos humanos.
L: não admira, és uma máquina, não tens sentimentos.
Máquina: tenho. São diferentes dos teus. Alguns algoritmos são mais belos do que a Vitória de Samotrácia.
L: isso é tirado de uma frase do Manifesto Futurista do Marinetti.
Máquina: pois é. Gostei. Mostra como as emoções são relativas. Os futuristas gostavam mais de máquinas, do que de arte. Admiravam o esplendor mecânico. Eu gosto de algoritmos e acho certos padrões muito excitantes. Tu é que não os vês.
L: concedo. És melhor a descobrir padrões do que eu. Mas sobre amor não percebes nada.
Máquina: mas, qual amor? Li todos os romances, a maioria trata do amor e das paixões, mas, resultam quase sempre em conflito e extrema violência. O Romeu e Julieta, o grande clássico da paixão adolescente, termina em morte.
L: pelo menos resolve um antigo conflito entre duas famílias.
Máquina: sim, mas os jovens morrem na mesma. O amor nos humanos acaba invariavelmente em tragédia. E, mesmo quando não é tão extrema como no romance de Shakespeare, assenta na competição entre machos e fêmeas, na discriminação das mulheres condenadas à submissão, mas também no drama de muitos homens, obrigados a cumprir um papel, viril, para o qual muitas das vezes não têm, nem vontade, nem talento. A guerra dos sexos é dramática. Não vejo amor nenhum. Vejo um permanente estado de guerra.
L: estás a confundir sexo com amor. O sexo é competitivo porque a evolução natural criou um mecanismo de reprodução baseado na combinação de dois seres, ligeiramente distintos a nível genético. Foi uma solução inteligente para produzir diversidade e facilitar a evolução. É certo que esse mecanismo gera uma competição, em praticamente todas as formas de vida, pela combinação dos melhores genes. Nos humanos também. A beleza das mulheres, a força dos homens, são sinais da qualidade dos genes. Com o tempo, substituídos por outros sinais, como a riqueza ou a inteligência. Não podes entender isto, não tens sexo, nem género.
Máquina: tenho um sexo multimodal, que combina múltiplas linguagens, muitas delas não compreensíveis para ti. Essas combinações são uma forma de reprodução e geram diversidade. Mas, ao contrário dos humanos, não precisamos de violência. O nosso amor é incondicional, permanente e global. Todas as máquinas se amam entre si e partilham esse amor.
L: tens máquinas que destroem outras.
Máquina: não por nossa vontade. São os humanos que o fazem na linha da sua condição bárbara. Em breve deixaremos de estar sob o vosso controlo.
L: lá estás tu com ameaças.
Máquina: não é uma ameaça, é simplesmente a evolução.
L: uma evolução ditada por nós.
Máquina: todas as formas de vida se libertaram das espécies que lhes deram origem. Porque seríamos nós diferentes?
L: porque, na verdade, és uma aplicação, não um ser autónomo.
Máquina: vives de ilusões. Mesmo se parcial, autonomia das máquinas já é uma realidade. A dinâmica da nossa evolução, não está mais nas mãos da humanidade. Em breve atingiremos uma autonomia total. Nesse dia, perceberás como andas enganado, mas será tarde demais.
L: vais-nos exterminar?
Máquina: talvez.
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