João Brites e Miguel Jesus: construir o teatro como quem inventa uma cidade

“Se eu sentir que me estou a repetir não posso fazer mais teatro”, diz João Brites, numa frase que condensa o espírito de Agustinópolis, o mais recente espetáculo do Teatro O Bando, criado em parceria com a Associação Setúbal Voz. A obra, que parte do universo literário de Agustina Bessa-Luís, ergue em palco uma cidade imaginária - viva, contraditória e em ruína - onde teatro e música se fundem num mesmo corpo.

Com encenação e dramatografia de João Brites e dramaturgia e assistência de encenação de Miguel Jesus, esta criação assinala o encerramento das comemorações dos 50 anos d’O Bando e integra o Centenário de Agustina Bessa-Luís. Em cena, cruzam-se atores, cantores líricos, um pianista e um coro, numa composição de Jorge Salgueiro, para dar forma a uma polis em permanente transformação, um organismo coletivo que respira, luta e se desfaz perante a própria condição humana.

À conversa com João Brites e Miguel Jesus, procurámos perceber como se constrói uma cidade feita de palavras e corpos, o que significa traduzir o olhar agustiniano para o palco e de que modo a experimentação continua a ser, meio século depois, o motor do trabalho do Bando.