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Marlene Barreto - Entrevista

26 de Maio de 2020

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Marlene Barreto - Entrevista
A actriz Marlene Barreto, em tempos de confinamento, e ao ver o seu mais recente espectáculo cancelado, tem-se dedicado à produção de um documentário a que chamou "Isolamento obrigatório". Nele recolhe testemunhos diversos sobre a crise que atravessamos. Conversámos sobre estes dias, sobre o documentário, sobre realidade e ficção, e sobre a situação dos trabalhadores da cultura.

Antes de mais, como estás a viver estes dias incertos?
Têm sido dias muito intensos com a mente sempre muito ativa e constante reflexão conjunta. Embora em confinamento, não parei de trabalhar. Agarrei-me afincadamente à realização do documentário Isolamento Obrigatório e como o propósito era a realidade durante o Estado de Emergência as coisas mudavam a cada momento, senti uma pressão imensa e contra o tempo. Dormia com notícias e acordava com notícias. Estou convicta que trabalhei mais ainda do que estava a trabalhar antes de tudo acontecer.

Tem passado tudo muito rápido e ainda está meio confuso na minha mente. Um espécie de: está a acontecer mesmo? Há dias que acordo cheia de força, vontade e esperança e outros são bem mais difíceis onde a incerteza e a ansiedade me têm roubado horas de sono.

Como surgiu a ideia para o documentário “Isolamento obrigatório”?
A ideia do Isolamento obrigatório surgiu no final da primeira semana, após ter sido declarado o Estado de Emergência em Portugal.

Como grande parte dos artistas, vi cancelado o espetáculo “Mulheres Ácidas” que estava a ensaiar - uma produção do Casulo – Núcleo de artes performativas do Grémio Dramático Povoense. Misturando toda a ansiedade do momento ao facto da minha necessidade de reflexão sobre o que estávamos e estamos a viver (embora agora numa perspectiva mais adaptada) propus-me a uma reflexão conjunta com outras pessoas. A romantização da quarentena nunca me fez sentido. Compreendo que as pessoas precisem de encontrar alguma leveza nas coisas para poder sobreviver mas recusei essa visão. Estava instalada a doença, o medo do desconhecido, a ansiedade, a necessidade e era preciso escavar mais fundo. Foi para mim urgente entender e discutir o impacto que esta pandemia estava a ter na vida de todos aqueles que estavam em confinamento entre quatro paredes. Foi uma forma de ativismo que eu e o meu colega Jorge Feliciano (na produção e pesquisa) encontrámos para contribuir socialmente de alguma forma.

Quais as principais questões que nele tentas responder?
Não quero exaltar nenhuma linha de pensamento nem juízos de valor próprios através deste documentário. De facto a permissa inicial é a perspectiva de alguém que está em isolamento sozinha em casa, mas que tem como objetivo abrir uma janela de reflexão e discussão documentando histórias de pessoas reais com as mais diversas experiências sociais que quiseram e queiram falar sobre as suas novas rotinas, os seus gritos e dores perante a incerteza do momento. Esta é uma realidade nova e desconhecida para todos e nunca mais esqueceremos o que sentimos durante os 45 dias de Estado de Emergência, onde uma simples ida ao supermercado era uma incerteza. Neste momento, estamos mais adaptados à nova realidade, os médicos e enfermeiros estão mais preparados, a sociedade mais funcional... mas na altura o pânico era notável nos olhos das pessoas e as entrevistas e vídeos que fui recolhendo transparecem esse sentimento. Seria uma pena se esse ponto de vista não ficasse documentado, pois este é certamente um período que fará parte dos manuais de História não só os nossos, mas os do mundo.

Como é que as pessoas podem participar no filme?
Ainda estamos a fazer a recolha de material. Aliás este trabalho só é possível com o apoio e colaboração de todos. Quanto mais pessoas tivermos a colaborar com a sua experiência mais abrangente será o resultado final. Para participar no documentário basta enviar um vídeo simples gravado na horizontal (preferencialmente) com uma reflexão, testemunho, novas rotinas ... a realidade da sua quarentena. Poderão enviar para: isolamento.obrigatorio@gmail.com.Tenho a certeza que se as pessoas forem à galeria dos seus telefones vão encontrar material muito rico para partilhar neste documentário.

Que tipo de representatividade procuras abranger?
Procuro ser o mais abrangente possível. Todas as histórias, reflexões são válidas. Todas as pessoas têm algo para contar e é precisamente essa diversidade que me interessa. Neste momento tenho visões muito distintas: o operador de caixa de supermercado que esteve sempre na linha da frente, pessoas infetadas, outras que perderam os seus empregos, famílias em tele trabalho, enfermeiros e médicos no combate, idosos isolados e longe das suas famílias, crianças que de repente se tiveram de adaptar a uma telescola (...)  até o Amor em quarentena tive a oportunidade de abordar. Enfim, a realidade tal como ela foi e é, mais ampla quanto conseguir.

Esta crise é um exemplo de como a realidade pode ultrapassar a ficção?
A ficção é sempre baseada na realidade. Aliás a realidade é a matéria-prima de qualquer artista. Romantizá-la, intensificá-la, exaltá-la, desconstruí-la ou ir mais além, vai na visão de cada criador. Portanto, eu diria que esta é uma realidade anunciada (prova disso são as várias produções que têm a guerra biológica como tema central) no entanto, acho que nunca demos o devido valor a essa possibilidade. O Ser Humano acha que tem tudo sob controle até chegar um inimigo invisível que deita por terra essa ideia.

Como antevês o futuro próximo do sector cultural e dos seus trabalhadores?
Este é o tema urgente do momento e não é por ser artista que o digo.  Os artistas estão totalmente desprotegidos, sempre estiveram e não é novidade. Simplesmente, a pandemia veio colocar a nu a realidade miserável a que muitos de nós estamos sujeitos. Não temos uma legislação à altura que nos proteja e basta um momento delicado como este para pôr o setor à fome e com necessidades extremas. É muito doloroso tudo o que temos assistido. Vemos os artistas a lançar iniciativas de solidariedade para combater as graves necessidades que muitos estão a passar, enquanto o Governo faz o quê? Lança concursos colocando uma pressão extra nos artistas para criarem num momento em que a maior atenção está na sobrevivência. É cruel.

Medidas atrás de medidas totalmente desajustadas em relação às necessidades do hoje. Em contrapartida este é um momento que os artistas estão mais unidos que nunca. Estão a mobilizar-se, a organizar-se para reivindicar serem ouvidos. Espero que esta união cresça fortalecida.

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