
O MUVI Lisboa é um festival de cinema que pretende responder à pergunta "e se a música pudesse ser vista?". Realiza-se este ano a sua primeira edição. Ocorre de 3 a 7 de Setembro no Cinema São Jorge. O Coffeepaste é parceiro do MUVI; falámos com a organização do festival para saber mais sobre o evento.
Como surgiu a ideia do MUVI?A ideia veio com o Filipe Mateus Pedro, membro do MUVI e da FWD Coop, cooperativa cultural que o organiza. Depois a ideia foi sendo trabalhada no seio da cooperativa pelos vários elementos até termos arriscado em reunir com a EGEAC e passar à ação. Esta parte só aconteceu há 3 meses atrás, em maio, quando a EGEAC deu a luz verde e nós arregaçamos as mangas.
Lançaram uma campanha de crowdfunding, e atingiram o objectivo. Qual o balanço?O objectivo foi atingido embora o prazo tenha sido curto e não tenha estado a par da divulgação nos media. Infelizmente os prazos não andaram de mãos dadas mas foi surpreendente a quantidade de gente que se envolveu e as mensagens de apoio e incentivo que tivemos. A essas pessoas, queria deixar um obrigado de toda a equipa do muvi porque foram de facto o nosso único apoio financeiro. Obrigado por terem dado um empurrão à cultura da música em Portugal. Infelizmente, nesta edição estamos por nossa conta o que implica bastantes dificuldades logísticas, espremer o orçamento a toda a hora.
Quais os critérios que vos levaram à composição do programa?Tivemos em vista outros festivais do mesmo género que acontecem no estrangeiro, o nosso instinto e conhecimento de uns bons anos a frequentar festivais de cinema, depois naturalmente o programa foi sendo composto e limado. Temos uma secção competitiva e outra não-competitiva. E paralelamente, teremos showcases, djsets, exposições, sessões especiais, premiere musical, sessão de curtas de festivais de música, etc. Podem consultar tudo no nosso site em
www.muvilisboa.comEm que grandes temas se divide o festival?o tema é um e é a música, o conceito é "e se a música pudesse ser vista?" e tudo roda à volta disto.
Quais os destaques da programação?Destaco nas Odisseias Musicais o "The Winding Stream" para quem gosta de folk e country, o "Our Vinyl Weighs a Ton" para a malta do vinyl e do hip hop, "No Room for Rockstars" mais no rock e na busca de uma carreira ou a "Sétima Vida de Gualdino" onde conhecemos uma pessoa que teve mão no jazz nacional, levando a que outras pessoas como Jorge palma, Sassetti chegassem a músicos ou "mudar de Vida" uma excelente biografia documental de José Mário branco. A nossa competição sonetos cantados tem um delicioso documentário sobre os 12 anos da editora DFA com imensas bandas como LCD Soundsystem, The Rapture, Shit Robot, etc, ou o intrigante "Are you ok?" com as Dum Dum Girls, a nível nacional destaco o "A Música à Moda do Porto" com a Capicua, Jose Mário Branco.
Na competição Canções com gente dentro a escolha é muito difícil e aconselho vivamente a sentarem-se na sala do cinema são Jorge e deixarem-se levar na 1h30 de sessão de vídeos musicais. A escolha foi a dedo e a qualidade destes mini-filmes/mini-histórias espetacularmente elaboradas leva a que faça todo o sentido haver um espaço dedicado aos mesmos num festival do género. Será de certeza uma boa surpresa.
Fora da competição, temos os Acordes Históricos e destaco o "Underground Chinese Hip Hop" pela cultura do género musical em ebulição na china, o filme de encerramento do festival "Anyone Can Play Guitar", e "Musica em pó" sobre coleccionadores de discos em Portugal.
Que actividades paralelas vão decorrer?As sessões especiais de canais de entretenimento é uma delas, com uma seleção de vídeos de canais de entretenimento que estão há alguns anos nesta indústria como o canal 180, Fuel tv, filmesdamente, videoteca bodyspace, etc, os showcases onde os artistas vêm mostrar os seus vídeos musicais, tocar alguns temas e conversar com o público, no caso de noiserv, PZ, NBC e os First Breath After Coma, e os DJ sets onde na festa de abertura estará a Phizz na mesa de mistura, que no fundo sou eu e a minha carreira como DJ ao longo de 3 anos.
O MUVI é um projecto para repetir?Sem dúvida que sim, este é o ano zero como carinhosamente lhe chamamos. O resto que aí vem, vamos ver.
Como vêem o panorama cinematográfico actual?Há muito ainda a percorrer, nomeadamente a nível de quantidade e qualidade. Temos tantos anos de história e influência na música, desde o fado à música africana que não se percebe como a produção nacional não vai buscar estas referências. E outras tantas biografias de pessoas da música nacional que não conhecemos mas através de um filme poderiamos alterar esse facto ou dar mesmo a conhecer esse patrimonio ao 'estrangeiro'. Vejo outras culturas que orgulhosamente mostram a sua história musical como Inglaterra, EUA, França, Espanha e nós a esse nível fazemos muito pouco.
Este festival serve para isso, para incentivar a essa produção. Quem sabe se daqui a uns anos não o estamos a fazer? Por isso é que apoios a estes projectos que nascem em pessoas proactivas, que apesar das dificuldades metem os projectos a rolar, é que devem ser apoiados. Uma migalha para alguns é imenso para nos, e que falta nos fez. O nosso projecto foi feito muito low-cost, com a ajuda de amigos e das nossas horas livres, à parte da vida profissional. Infelizmente podemos contar apenas connosco e com a nossa força. Temos orgulho do trabalho que fizemos e claro que podíamos ter este ou aquele filme, mas neste ano zero, o programa completo é este e até eu fico indecisa no que toca a destacar filmes porque são todos muito bons.
Espero ver-vos por lá e que venham ver para além do que ouvem. :)