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“O cinema pode transformar comunidades” - entrevista com Paula Duque, diretora do Festival Periferias

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Pedro Mendes
6 de Agosto de 2025

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“O cinema pode transformar comunidades” - entrevista com Paula Duque, diretora do Festival Periferias

Em pleno coração das zonas raianas entre o Alentejo e a Extremadura, o Festival Internacional de Cinema Periferias afirma-se, desde 2013, como um projeto cultural único, comprometido com o território, a justiça social e a democratização do acesso à arte cinematográfica. Nesta 13.ª edição, o festival regressa com uma programação vibrante que dá destaque à riqueza cultural do povo cigano, levando cinema, música e reflexão a locais sem salas de exibição, transformando praças, lagares e castelos em verdadeiros palcos de encontro e partilha.

Conversámos com Paula Duque, diretora do festival, sobre os desafios de levar cinema às periferias, a importância da descentralização cultural, o poder do cinema no combate aos preconceitos e os caminhos futuros de um evento que une comunidades através da arte.

O Periferias nasceu em 2013 com um forte compromisso territorial. Que transformação sentes que o festival já provocou nas comunidades onde atua?
Nestes 13 anos, o Periferias tem aproximado o cinema de territórios onde a oferta cultural é muito limitada, criando pontos de encontro e diálogo. Sentimos que a comunidade ganhou novos hábitos culturais, maior curiosidade pelo cinema independente e um sentimento de pertença a um projeto que também é seu.

De que forma o festival contribui para a democratização do acesso à cultura cinematográfica?
O Periferias leva filmes a localidades sem salas de cinema, transformando praças, lagares de azeite, aduanas, castelos e espaços rurais em salas ao ar livre. A programação é pensada para ser diversa, dialogando com diferentes públicos e realidades sociais. A ideia é mostrar que o cinema pode e deve chegar a todos, independentemente do lugar onde se vive.

Por que escolheram dedicar a 13.ª edição à cultura cigana? Que impacto esperam gerar com esta homenagem?
Escolhemos dedicar esta edição à cultura cigana porque acreditamos ser fundamental valorizar e dar visibilidade a um património cultural muito rico, mas frequentemente marginalizado e alvo de estigmas.

Através do cinema, procuramos fomentar um pensamento crítico, desconstruir preconceitos e celebrar as suas expressões musicais, orais e cénicas. Filmes como Chaplin, Espírito Cigano, realizado pela neta de Charles Chaplin, Carmen Chaplin, lembram-nos que até figuras universais como Charles Chaplin possuem heranças ciganas pouco conhecidas. O festival pretende, assim, despertar olhares mais atentos e respeitosos para este legado cultural.

No entanto, toda a programação não está dedicada exclusivamente a este tema. Contamos também com filmes internacionais que abordam outras temáticas, como Una Quinta, de Avelina Prat, O Último Azul, de Gabriel Mascaro, ou Uma Vida Luminosa, de João Rosas, Amazônia Vermelha de Felipe Brêtas.

Como foi o processo de curadoria dos filmes e atividades que representam a diversidade e complexidade da cultura cigana?
Foi uma seleção natural, composta por filmes já apresentados recentemente em festivais como San Sebastián, Málaga e Sevilha. Grande parte das produções escolhidas são produções espanholas, onde se nota uma apropriação muito significativa do património cultural desta comunidade, especialmente através do cante e do flamenco. Procurámos obras que mostrassem a pluralidade das suas experiências, evitando estereótipos, e que celebrassem a riqueza desta herança cultural. Em Portugal, e graças à colaboração da Cinemateca Portuguesa, exibiremos também a cópia restaurada do filme Ciganos (1979), de João Abel Aboim.

Acreditas que o cinema pode ajudar a combater estigmas e preconceitos? Como?
Sim, absolutamente. O cinema tem o poder de criar empatia, dar voz a quem é silenciado e permitir que nos coloquemos no lugar do outro. Ao mostrar realidades muitas vezes distorcidas ou ignoradas, o cinema pode desconstruir preconceitos e abrir caminho para um diálogo mais humano e tolerante.

O Periferias leva o cinema a locais sem salas de exibição. Que desafios logísticos implica transformar espaços rurais em salas ao ar livre?
Cada local é um desafio: desde as condições técnicas de som e projeção até à adaptação à meteorologia ou à iluminação dos espaços. É também um processo bastante dispendioso e, pelo facto de o festival acontecer simultaneamente em dois países, exige um desafio diário de coordenação. Ainda assim, transformar um lagar de azeite ou um castelo numa sala de cinema é uma das marcas do Periferias. A proximidade com o público compensa todo o esforço logístico. Felizmente, contamos com uma equipa profundamente comprometida com este projeto, e o reencontro anual para concretizá-lo é sempre uma grande alegria.

Como é recebida a programação pelas comunidades locais? Há envolvimento do público na escolha ou construção do festival?
A receção é sempre muito calorosa. A comunidade sente-se parte do festival, participa nas sessões e nas conversas com realizadores, nas atividades paralelas. Muitas vezes são os próprios habitantes a sugerir filmes, temáticas ou espaços para exibição. O Periferias é um festival construído em diálogo com quem o vive no território.

O festival envolve filmes e artistas de mais de uma dezena de países. Como se faz esta ponte entre o local e o global?
Procuramos mostrar que o cinema independente não tem fronteiras. Ligamos o território a outras realidades culturais, sociais e ambientais, criando pontes entre comunidades locais e produções internacionais. Acreditamos que a mediação cultural é muito importante e é na troca de experiências que o cinema se torna mais vivo e transformador.

Como se articula a colaboração transfronteiriça entre o Alentejo e a Extremadura?
A colaboração é um dos pilares do Periferias. Ao longo destes 13 anos, construímos algo único, que nos faz olhar para um território comum e não para uma fronteira. Temos duas associações, uma em Espanha e outra em Portugal, com duas equipas que trabalham lado a lado, promovendo a mediação cultural para unir culturas vizinhas, partilhar problemas, valorizar potencialidades e criar um verdadeiro espaço cultural ibérico, sem barreiras geográficas.

O documentário “Chaplin, espírito cigano” é um dos destaques. Que significado tem exibir este filme na Filmoteca de Extremadura?
O legado de Charles Chaplin está profundamente ligado à defesa dos mais necessitados e marginalizados. A sua obra reflete uma grande sensibilidade social, dando voz às dificuldades dos menos favorecidos e promovendo valores de empatia e justiça social. Este espírito humanista marcou o cinema e continua a inspirar gerações.

Exibir este documentário na Filmoteca de Extremadura é muito importante para o festival, pois revela um lado pouco conhecido da vida e obra de Chaplin, destacando as influências que moldaram a sua sensibilidade artística. A escolha do filme, com curadoria de Rui Tendinha, foi calorosamente recebida pela Junta de Extremadura, que reconheceu publicamente, numa conferência de imprensa, o valor desta programação para a promoção da diversidade e de narrativas culturais relevantes através do cinema.

Que tipo de legado pretende deixar o Periferias a longo prazo para o território e para o cinema independente?
Ao longo destes 13 anos, o festival tem mostrado que é possível oferecer uma programação cultural exigente, vibrante e contemporânea no meio rural, mesmo sem os recursos das grandes cidades. Por isso, sentimos um enorme orgulho deste percurso. Estamos a mudar a ideia de ruralidade. Estamos a provar que o interior não é um fim, mas um centro de oportunidades.

O Periferias quer deixar a semente de que a cultura é um direito e que o cinema pode transformar comunidades. O legado que queremos deixar é fomentar uma cultura viva, envolver novos públicos e posicionar o cinema independente como um motor de inspiração, reflexão e transformação social.

Qual será o próximo passo para o festival? Há planos de expansão, novas parcerias ou formatos?
Gostamos de pensar o Periferias como um projeto vivo, em constante adaptação e transformação com o tempo. Queremos fortalecer uma estrutura de trabalho que nos permita continuar, apostar em parcerias transfronteiriças e explorar novos formatos. Também pretendemos dar continuidade ao nosso projeto educativo "O Cinema Somos Nós" e, acima de tudo, seguir a caminhar com o nosso público, mediando culturalmente em cada momento. O nosso desejo é que o Periferias cresça, mas sem perder a essência de proximidade e compromisso social que o define desde o início.

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