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O poder da correspondência

Por

 

Guilherme Gomes
25 de Novembro de 2022

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O poder da correspondência

Recebi há umas semanas, por email, um PDF necessário para uma pesquisa. Uma preciosidade que não estava a conseguir encontrar. Enviou-mo uma pessoa do gabinete do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, em resposta a um email que lhe dirigi; e a forma como este PDF chega lembra-me o que um senhor me disse um dia em Belmonte, quando por lá passei de mota “diga aos de lá de Lisboa, que podem fazer isto mais vezes”, sendo isto parar para perguntar.

 

Já no início do ano troquei cartas com Jon Fosse, autor que admiro. O assunto era uma ilha que não sabia se existia. Pedi-lhe indicações sobre a sua existência no mapa das referências mundanas, e ele enviou-me um roteiro detalhado e um parágrafo sobre o nome da ilha que queria visitar.

 

Quando tinha uns 14 ou 15 anos, no momento de decidir o que se segue no ensino secundário, encontrei-me divido entre o interesse pelas ciências e a paixão pelo teatro. Na altura assisti a uma entrevista de vida do então director do Teatro Nacional D. Maria II, Diogo Infante. No meio das minhas incertezas, tomei a liberdade de escrever um email para a bilheteira do TNDMII pedindo que o reencaminhassem para o director. E o director respondeu uns dias depois, com um email extenso em que se projectava nas minhas dúvidas, e aconselhou o que acabei por fazer como percurso.

 

Nunca me impedi de enviar um email que achasse justo. Ainda há uns dias falava com uma amiga sobre como as coisas estão ao nosso alcance, assim nós o consigamos vislumbrar.

 

Quando era pequeno, o meu pai incentivou-nos muito, a mim e ao meu irmão, a pensar que as nossas palavras tinham impacto. Se queríamos dizer algo, devíamos fazer com que as palavras chegassem ao destinatário certo. Isto deu para muita coisa: eu comecei a enviar os emails e cartas de que vos falo (chegou ao cúmulo de enviar uma ideia de episódio para Os Simpsons), e o meu irmão, que um dia chegou a casa chateado por não ter passadeiras no percurso que fazia até à escola, escreveu um email para a Câmara Municipal, a reivindicá-las. E é sobre este que me debruço como caso de estudo: umas semanas depois, dois senhores bateram à porta de casa, perguntaram se o Miguel estava. Cumprimentaram-no, abriram um dossier com o mapa do bairro, eram pessoas da Câmara, Onde queres as passadeiras?, perguntaram.

 

Nem todas as pessoas têm esta experiência. Para muitos e muitas, a história das suas palavras é uma história de silenciamentos sucessivos, de acções hostis que põem em causa a própria essência das palavras, ou o seu fundamento. Mas o que as pessoas da Câmara fizeram não é nenhum favor: o Miguel, do alto dos seus 6 anos, independentemente de tudo o que possa constituir o seu contexto, tinha direito àquelas passadeiras. Se não pelo seu direito pessoal, porque com o Miguel tantas outras pessoas.

 

Por vezes, o mais difícil é saber a quem escrever - qual a narrativa desta correspondência. Para me inspirar gosto de ler cartas antigas (do Joyce, por exemplo, que passa do elogio ao insulto em duas cartas), em que normalizo coisas que provocam um certo desconforto: como insisti numa resposta? Como abordo este tema? Depois penso, se o Shakespeare teve de escrever isto, quem sou eu para me fazer de esquisito?

 

A verdade é que, seja para reivindicar algo ou para pedir conselho, autorização, para dizer que se gosta de alguém, ou só para arrumar ideias, o poder da correspondência impressiona qualquer um. E é, muitas vezes, o princípio da mudança do mundo para melhor.

Imagem gerada por inteligência artificial com recurso ao Dall.E

BREVES CRÓNICAS DO TEMPO são pequenos episódios, registos, princípios de reflexão pelo dramaturgo Guilherme Gomes.

 

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