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Os livros, afinal, não nascem nas prateleiras

29 de Maio de 2020

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Os livros, afinal, não nascem nas prateleiras
Por Isabel Garcez

As Novas Cartas Portuguesas tiveram a sua primeira edição em 1972, pela Editorial Estúdios Cor. A Editorial Estúdios Cor já foi uma referência no meio literário português. Publicou nomes maiores quando ainda não eram nomes maiores. Como foi o caso destas autoras, embora Novas Cartas Portuguesas não tenha sido o primeiro livro de nenhuma delas.

Não procurei aprofundar a história desta primeira edição porque quase tudo o que acontece antes de uma obra estar publicada não é do conhecimento público, e assim deve ser – na cultura, não existem pescadas, pelo que não há nada que antes de o ser já o era. Mas a importância desta obra e das suas três autoras levou-me a fazer o exercício que agora vos proponho.

  1. Três jovens e quase totalmente desconhecidas autoras decidem escrever um livro. Na sua origem pode ou não ter estado a revolta perante um estado das coisas muito mais velho do que novo. O que interessa é que decidem juntar forças e talentos para decantar a palavra e, com ela, quer as autoras o quisessem quer não, escancarar uma realidade muito feia de uma forma muitíssimo bonita.
  2. Se esta junção de forças e talentos é o suficiente para (d)escrever essa realidade, não o é, certamente, para a escancarar; para isso, é necessário torná-la pública, ou seja, publicá-la.
  3. Alguém da Estúdios Cor, mais ou menos responsável, recebe a versão original desta obra. Não sabemos se foi em primeira, segunda ou terceira mão nem sabemos quem entregou a quem. Não interessam os nomes nem as respetivas posições. Basta conhecer o livro e saber que nenhuma das autoras era, à data, uma «escritora irrecusável».


Enfim, para efeito deste exercício, vamos decidir que esse alguém-que-lê-a-obra percebe imediatamente que está perante um texto de grande qualidade (e é sempre tão difícil ser o primeiro a dizer «presente» no que respeita à validação da arte), mas percebe também, talvez mais depressa ainda, que se trata de uma obra perigosa. Para as próprias autoras, para a sua editora, para si. Mesmo assim, a Editorial Estúdios Cor disse «Publique-se!» às Novas Cartas Portuguesas e, desta forma, honrou o espelho onde, desde sempre, se refletem os mediadores culturais que aceitam todas as responsabilidades que os seus «sins» e «nãos» carregam.

Ler pode ser sinónimo de ver, ouvir, cheirar, saborear e tocar o nosso tempo e o nosso espaço. Por isso, quando me cruzo com uma obra que melhora a minha capacidade de ler, fico sempre muito grata. Agradeço ao autor, muito, porque ele é a origem de tudo, o verdadeiro deus maior, o único que sabe mesmo dizer o verbo de que são feitas todas as coisas. Mas agradeço também a todos os que trabalharam para que essa obra chegasse a mim. Principalmente se for de um autor jovem e quase desconhecido, principalmente se for uma obra perigosa. No caso das Novas Cartas Portuguesas, agradeço também ao livreiro/bibliotecário/crítico/professor/amigo que, um dia, me depositou este livro nas mãos enquanto me dizia: Ainda não tens idade para isto, mas experimenta.

Experimentei. E ainda hoje gosto de pensar que continuo a não ler os livros certos para a minha idade. Ou para mim. E ainda bem.

Os livros, afinal, não nascem nas prateleiras. Quantas vezes nos lembramos disso?

Isabel Garcez
É investigadora no Centro de Culturas e Literaturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa (CLEPUL). Trabalha em edição desde 1993 (Editorial Caminho: 1996-2016). É membro fundador da Associação Cultural Prado.

Esta iniciativa resulta de uma parceria Coffeepaste / Prado. A Prado é uma estrutura financiada pela DGArtes / Governo de Portugal para o biénio 2020/2021.

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