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As quatro primeiras obras poéticas de Alberto Pimenta, publicadas entre 1970 e 1977 e nunca reeditadas, estão de volta às livrarias, num projeto que visa devolver aos leitores textos considerados decisivos para a compreensão da literatura portuguesa contemporânea.
Este projeto está a cargo da editora independente 7 Nós, e resulta de um percurso partilhado entre editores e autor, ligado à livraria Gato Vadio, no Porto, fundada em 2007 por Júlio do Carmo Gomes.
“Existe uma história, histórias de vida que se tecem com fios que vão dar ao mesmo novelo”, contou Júlio do Carmo Gomes, também editor da 7 Nós, acrescentando que a ideia e proposta inicial de reedição das quatro primeiras obras de Alberto Pimenta surgiu “há mais de uma década”, naquela livraria, entendida como “uma comunidade”.
As obras – “O labirintodonte”, “Os entes e os contraentes”, “Corpos estranhos” e “Ascensão de dez gostos à boca”, que compõem o conjunto designado “Tetraphármakos” - foram escolhidas por representarem “a encruzilhada artística mais decisiva e necessária para compreendermos o que a literatura portuguesa podia ter sido e não foi. Ou foi apenas, em constância e génio, na obra do Pimenta”, explicou o editor, em entrevista por escrito à Lusa.
Para Júlio do Carmo Gomes, a obra do poeta, escritor e ensaísta Alberto Pimenta caracteriza-se por um contínuo processo de experimentação estética e crítica cultural.
“A obra do Pimenta é um meio de busca, de experimentação e descoberta, que satiriza e desacredita os valores que nos reprimem”, afirmou, considerando “demasiado sonante” o silêncio editorial de cerca de meio século em torno das primeiras obras do poeta.
Questionado sobre a continuidade do projeto editorial em torno da obra do autor, Júlio do Carmo Gomes revelou que passou para as Edições do Saguão, sublinhando o papel do seu editor, Rui Miguel Ribeiro.
“Sem a sua presença quase diária no dia-a-dia do Alberto teria sido quase impossível, nos últimos seis ou sete anos, a publicação de qualquer obra do Pimenta”, afirmou, destacando o cuidado e a proximidade mantidos com o autor, que completou neste mês 88 anos.
Júlio do Carmo Gomes define Alberto Pimenta como um criador singular, marcado pela transgressão formal e pela multiplicidade de registos.
“Pimenta é o mestre dos multi-hequivocatio, a sua criatividade é ímpar porque traduz-se num sólido e genial trajeto de experimentação estética e esgaravunha cultural”, salientou, lembrando que a sua obra atravessa poesia, prosa, teatro, sátira, lírica, experimentalismo linguístico puro, crítica, performance, ‘happening’ e colagem, sem se repetir.
Nas suas mãos, as formas transformam-se noutra coisa, “hibridam-se e escapam ao molde, em virtude da execução genial e obsessivamente laborada pelo poeta”.
Segundo o editor, essa transgressão das formas alia-se a uma forte dimensão ética e empática, visível na forma como o autor consegue “descentrar-se do seu papel” e assume diferentes vozes e experiências humanas, desde figuras marginalizadas a narrativas coletivas invisibilizadas, num percurso que considera “(quase) único na língua portuguesa contemporânea”.
“Essa sensibilidade epicrítica que o coloca na pele do outro, seja na pele monstruosamente humilhada de uma ‘transgender’ ilegal (‘Indulgência plenária’), seja na voz angustiada de um poeta iraquiano invadido pela máquina de terror do fascismo financeiro (‘Marthiya de Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta’), ou seja nas épicas e invisíveis histórias de vida dos moradores das ilhas do Porto (‘Ilhíada’), é fulgurante”.
Admitindo que Alberto Pimenta não tem o reconhecimento que deveria ter, o editor distingue, todavia, o reconhecimento institucional e o alcance junto dos leitores.
“Pimenta fez tudo bem para nunca ter sido alvo desse falso reconhecimento das instituições que são cúmplices da destruição simbólica e cultural das populações”, preferindo uma postura crítica e independente.
Ainda assim, considera que “muitos mais leitores mereciam conhecer a obra dele”, defendendo por isso a necessidade de dar maior visibilidade ao seu legado.
“Que fazer? O ‘Centro Pimenta Em todas as Línguas’? Para não deixar morrer as sementes do poeta e artista. Um centro não apenas para estudar e dar visibilidade à sua obra pós-incompleta, mas um centro para transgredir e nos descentrarmos do nosso papel como fez e faz o Alberto”, sugeriu, admitindo, contudo, que para isso é preciso “ter unhas”.
A 7 Nós é um coletivo editorial fundado por três amigos -Manuel Tavares Teles (também escritor, que morreu em 2022), Óscar Sá e Júlio do Carmo Gomes - unidos pelo “gosto compulsivo pelos livros” e por um projeto centrado na publicação de literatura crítica.
A editora nasceu há alguns anos em torno do espaço da livraria Gato Vadio e aposta em obras “prenhes de uma atualidade clássica”, muitas vezes afastadas do circuito editorial dominante, publicando autores como Van Ostaijen, Gombrowicz, Beuys, Michael Albert e Vollmann, explicou Júlio do Carmo Gomes.
Entre as dificuldades sentidas, o editor aponta os efeitos do mercado e do contexto pós-capitalista na edição e na distribuição de livros, defendendo uma maior cooperação entre editoras independentes.
No âmbito do projeto “Tetraphármakos”, Júlio do Carmo Gomes destaca ainda o trabalho gráfico e artístico de Maja Marek, responsável pelas ilustrações do conjunto, bem como a colaboração de Micaela Amaral.
Foto: © DR
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