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Em "Obrigada por terem vindo", há uma zona, particularmente densa, apesar de breve, dedicada a falar sobre os códigos no teatro. Foi depois de ver dois juízes, no público, reagir com simpatia a essa cena que me lembrei do código penal, do código da estrada, dos códigos de programação e até do código postal. São inúmeras as profissões que trabalham com códigos, de várias maneiras, mas em nenhuma como no mundo do espetáculo.
Num ensaio, a Mariana Lobo Vaz, atriz e cocriadora da peça, improvisava sobre códigos e chamava-lhes uma magia invisível, para depois se corrigir rapidamente dizendo que a magia é sempre invisível. Mas será que é, mesmo?
Os códigos no teatro são diferentes do código civil ou do código do trabalho porque não são palpáveis, o que não quer dizer que não se vejam. Esta coluna chama-se Rés-do-Chão em referência às casas no piso térreo que conseguimos ver da rua, através de janelas sem cortinas, qual quarta parede deitada abaixo. A quarta parede é, precisamente, um dos grandes códigos do teatro e, apesar de não existir fisicamente, às vezes vemo-la tão claramente, entre palco e plateia, como qualquer coisa real.
O momento dos aplausos é outro exemplo - e um dos que abordamos no espetáculo. Há uma série de códigos que indicam que é tempo de bater palmas: as frases finais do texto têm uma certa cadência, os atores saem de cena, a régie faz blackout… no limite, acendem-se as luzes de público. Novamente, embora sejam conceitos imateriais, vemo-los acontecer, como deixas, mesmo que não as compreendamos e nos saiam as palmas em momentos precoces e aleatórios de entusiasmo ou nervosismo.
Na magia, propriamente dita, o que nos fascina é o mistério: não saber como é que um certo truque foi feito diante dos nossos olhos e levou a carta de um baralho ao bolso da nossa camisa sem que déssemos por nada. Parece que o segredo é mesmo a alma do negócio – deste, pelo menos.
Mas, no caso do teatro, daquele que eu gosto de ver e que agora se pode dizer que faço, o deslumbramento surge de perceber como é que se faz o número: mostrar as costuras do objeto, virar o palco do avesso, deixar ver por dentro. Acho que fazer teatro não pode ser verdadeiramente egoísta, porque estamos sempre a considerar o outro, que é o público, e a pôr-nos no lugar dele. Não há nada que me dê maior prazer do que tornar transparentes para quem vê as ferramentas que usámos, os objetivos que tínhamos, o lugar aonde queríamos chegar – e mesmo assim espantar-me, a mim e a toda a gente, quando lá chegamos. É magia, porque apesar de visível, continua a surpreender-nos.
O código do teatro, enfim, talvez alguém devesse escrevê-lo. Temos pensado, ao longo desta criação, na vantagem de ver coisas escritas. Neste caso, não para o tornar visível ou palpável, mas para conseguirmos partilhá-lo. Gosto de acreditar que, de alguma maneira, também é isso que estamos a fazer neste "Obrigada por terem vindo", sobre o qual faço hoje algumas inconfidências, apenas porque este é o último artigo que aqui assino. Nove habitações do Rés-do-chão depois, tentei partir, tijolo a tijolo, as paredes que andam por aí a afastar-nos dos palcos alheios.
Ontem, no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço – onde estaremos em cena sexta-feira, dia 19, e sábado, dia 20, às 21h00 – o telemóvel de alguém na equipa mostrava dois fusos horários bizarros e demorámos imenso tempo a perceber porque é que o relógio estava uma hora atrasado. É que o telemóvel julgava que estava nos Açores e ninguém conseguia convencê-lo do contrário. Conforme fomos contando este episódio a toda a gente, recebemos a resposta que esperávamos: estamos no teatro, essa é a magia, tudo é possível. E é mesmo, basta acreditar.
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