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Roberto Moreira - Entrevista

17 de Agosto de 2020

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Roberto Moreira - Entrevista
Conversámos com Roberto Moreira, diretor artístico do CTCMCB - Centro de Teatro da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto. Falou-se sobre as actividades do Centro, sobre o espectáculo que estão a apresentar, sobre trabalhar junto da comunidade, e sobre o futuro.

Antes de mais, como estás a viver estes tempos únicos?
Estão a ser realmente tempos difíceis para todos nós, isso é inquestionável.

No nosso caso concreto fomos bastante prejudicados, uma vez que vimos a nossa programação ser cancelada até ao final do ano e inúmeros projetos e candidaturas a serem adiados, alguns deles até podem não acontecer.

No entanto, estou bastante satisfeito pois o CTCMCB - Centro de Teatro da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, mais uma vez, soube adaptar-se às novas regras do jogo e está a responder muito bem, reinventando a sua programação e criando novos produtos artísticos e culturais que de outra forma não surgiriam.

Relembro o desafio artístico do web espectáculo de teatro "OLHAR FRATERNO" criado no âmbito das comemorações do 25 de abril, onde em pleno confinamento foi ensaiado em vídeoconferência com 40 pessoas a partir da casa de cada um, e apresentado na sala online do CTCMCB.
E agora este Circo Lar, com 33 apresentações em lugares e aldeias do Concelho de Cabeceiras de Basto. A ideia é bastante simples, uma vez que não podemos fazer espetáculos para centenas de pessoas, como tem vindo a acontecer nestes oito anos, decidimos fazer mais espetáculos para pouco público, garantindo que todos os cabeceirenses têm a oportunidade de assistir e usufruir deste espetáculo.
Uma coisa é certa, perante os obstáculos e dificuldades que estamos a passar, parar não é opção. O que pode um criativo querer mais do que reinventar-se nestas condições? A arte faz-se pelo risco.

Fala-nos um pouco do percurso do Centro de Teatro de Cabeceiras de Basto
Este projeto nasceu em 2012 da vontade de três jovens, não naturais do Concelho, aliado ao desejo do município em investir num projeto cultural de valor que tivesse por base um objetivo fulcral: o trabalho artístico com a comunidade. Desde então, o CTCMCB tem atuado como agente e dinamizador cultural neste concelho através de um conjunto de iniciativas artísticas e pedagógicas, abrangendo cada vez mais um número maior de pessoas e conquistando um espaço de relevância na programação cultural e social no concelho.
Nestes oito anos foram alcançados significativos avanços na projeção e visibilidade do projeto a nível internacional, nacional e, sobretudo, local. O projeto já criou 52 espetáculos, acolheu 9 companhias internacionais, esteve presente em 8 festivais de teatro nacionais e internacionais, e tem proporcionado uma dinâmica de continuidade ao concelho com um programa de ações e atividades que atingem uma população heterogénea e intergeracional.

Tem realizado atividades, espetáculos de teatro e ações descentralizadas por todas as freguesias que envolvem jovens e adultos, contruindo fortes ligações na e com a comunidade, tal como o “DesCentralizar” ou o “Cortejo Etnográfico”, projetos integrados no serviço educativo das escolas atingindo desde os Jardins de Infância ao Secundário. Por exemplo, as crianças em Cabeceiras comemoram o Dia Mundial da Criança com um espetáculo de teatro e, quando não são elas a virem ter connosco à Biblioteca Municipal para assistirem a uma história ou fazerem atividades lúdicas connosco, somos nós a ir ao seu encontro, sala adentro, num dia normal de aulas. No caso dos alunos do Secundário, estes não precisam de sair do concelho para assistir a espetáculos que estudam nas aulas de Português, basta atravessarem a rua, porque também o fazemos, como é o caso do “Auto da Barca Do Inferno” ou a “Farsa de Inês Pereira”, contribuindo assim para a sua aprendizagem.
Trabalhamos muito em espaços não convencionais através de projetos como o “Passeio Literário” que desafia o público a fazer um percurso assistindo a uma peça itinerante, de forma a usufruír dos lugares e a olhar para eles com uma nova visão, como por diversas vezes foi o caso do Mosteiro de S. Miguel de Refojos, imagem de marca do concelho, ou em jardins que não são usados ou até mesmo em praias fluviais.

Predominantemente o trabalho do CTCMCB centra-se neste concelho, mas tem desenvolvido outros projetos com os municípios vizinhos. Durante os seus oito anos de existência tem atuado em diversos palcos nacionais e internacionais, tais como Espanha, França e Brasil, onde ganhou o prémio de melhor cenografia em Dança/Teatro no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, no Recife, acolhe residências artísticas nacionais e Internacionais e tem uma forte componente de formação através das Oficinas de Teatro para jovens e adultos e as Oficinas de Jogos Dramáticos para as crianças.

Quais os principais temas que trabalham?
A base para as nossas produções são as lendas, as histórias, as tradições e memórias das gentes e do território, ou seja toda a identidade que torna único o concelho de Cabeceiras de Basto. Existe um trabalho contínuo de pesquisa e recolha entre a comunidade e os seus agentes culturais e associativos para depois transformar esse património imaterial em criações artísticas. Esse também é um dos objetivos do projeto.
Exemplo disso são os espetáculos como o “Ruralidades” que aborda a dureza do trabalho no campo, o “Canções Para Um Amor de Milho – Rei” que enaltece as músicas populares que se cantam cá, o “Trajetória” que fala de um tema tão presente na memória dos cabeceirenses – a emigração ou até mesmo “A Primeira Viagem”, espetáculo feito na Estação Ferroviária do Arco de Baúlhe, agora desativada, que representa o dia da sua inauguração. Todos eles foram escritos e inspirados pela recolha de testemunhos e de memórias dos cabeceirenses.
Eu digo muitas vezes que o CTCMCB não traz cultura a Cabeceiras de Basto, a cultura já aqui está! Seja no rufar dos bombos, nos passos de dança de um Rancho, nas suas expressões tão características e únicas... O que este projeto faz é usar todas essas manifestações, vivências e transformá-las em produtos artísticos, de forma a valorizar e preservá-las para o futuro. O que seria de nós se não conhecêssemos a nossa identidade, as nossas raízes? É um trabalho pertinente que cada vez mais se torna urgente fazer. E nós já o fazemos, há oito anos!
Temos também investido na diversidade de propostas estéticas, o que desafia o público a apreciar o teatro de uma forma ampla e rica, atravessando temas cómicos e dramáticos que envolvem não só a própria identidade local, como já referi, mas também questões universais. E com esta variedade de propostas artísticas, a equipa é desafiada num constante processo coletivo de reflexão criativa, que procura trazer a cena peças consistentes e que, sobretudo, mantenham uma comunicação clara no que se propõem com os espectadores, proporcionando ao público a possibilidade de perceber diferentes formas do fazer teatral.

De que formas chegam junto das comunidades?
O CTCMCB já se encontra enraizado no concelho. No início foi a fase de dar a conhecer o projeto à população através de diversos desafios, espetáculos de teatro e intervenções públicas juntos das crianças, jovens e adultos. Nos últimos anos tem sido a fase de consolidação e amadurecimento e agora, para além do desafio da reinvenção, estamos confiantes e motivados para a fase de continuidade e expansão. Ou seja, não existe nesta terra ninguém que não saiba o que é este projeto e a importância que representa para o desenvolvimento cultural de Cabeceiras de Basto, e por isso é muito fácil chegar à comunidade e desafiá-la para qualquer criação ou proposta arrojada. Todos querem participar. Saliento que nas nossas grandes produções envolvemos cerca de 80 a 90 pessoas em palco, entre as quais associações, e com centenas de espectadores a assistir. Esse é o sinal de que estamos a cumprir o nosso objetivo, de que estamos no caminho certo. O que seria de um projeto que se diz de comunidade se não envolvesse e atraísse a comunidade?

O que esperar do espectáculo “Circo Lar”?
Este espetáculo foi criado para chegar a todos os cabeceirenses. Serão 33 apresentações distribuídas por todo o concelho. Mais próximo da comunidade que este formato é impossível. Aquilo que eu espero é que todos venham assistir e que sejam bastante compreensivos com as normas recomendadas pela DGS: tais como a reserva de lugares e o uso de máscara.
Essa é a primeira expectativa, a segunda e não menos importante, é que entendam a mensagem que queremos passar: perante as dificuldades que a vida nos dá, o importante é não parar e encontrar sempre formas de contornar a questão. É uma clara analogia aos tempos que estamos a viver.

Estar fora dos grandes centros urbanos é um desafio acrescido?
O desafio é sempre grande quando estás a trabalhar com a comunidade, seja dentro ou fora dos centros urbanos, porque para além de artístico, o trabalho passa também para o nível educacional e social, é sério e tem de ser feito com responsabilidade, entrega e sentido de compromisso. E não acredito que seja um desafio acrescido, aliás até é mais vantajoso, na minha opinião, porque nos concelhos do interior existe um fator muito importante: a proximidade. Conhecendo as pessoas e os seus nomes é mais fácil de desafiá-las para as nossas produções. O maior exemplo que posso dar é que há oito anos que lançamos dezenas de desafios aos cabeceirenses e não me lembro um que não aceitasse participar. A única desvantagem que vejo é mesmo um pouco de preconceito em relação ao interior, uma vez que a ideia generalizada é que nas grandes cidades é que se fazem coisas de valor, importantes, com interesse e impacto mediático, de grande qualidade artística. Não é verdade! E este projeto cultural, como vários espalhados pelo país, é um dos muitos exemplos disso.
Estamos aqui, a criar e a fazer acontecer.

Como vês o teatro em Portugal?
Com muito bons olhos. Há 21 anos que sou ator e sinto que nunca como agora se viram tantas ideias inovadoras e tanta gente que trabalha na área artística a querer fazer mais e diferente, e felizmente começam também a surgir mais projetos como o nosso, que não só trabalham com a comunidade como também trabalham para o desenvolvimento do interior o que me deixa bastante esperançoso em relação ao futuro.
Acho que já deu para entender que sou a favor de projetos desse género. A única coisa que ainda me revolta é esta luta constante que nós artistas temos tido em relação à criação de mais apoios e estruturas que possam contribuir para um boom cultural em Portugal, ainda para mais neste momento tão difícil para todos nós. Enquanto as forças políticas e também a população, não entenderem que a Cultura é tão ou mais importante que a Educação e a Saúde e o no contributo fulcral no desenvolvimento do país, não conseguiremos reunir as condições necessárias para fazer o nosso trabalho. O primeiro passo é esse, a mudança e construção de mentalidades e consciencialização dos portugueses em relação à Cultura, não posso falar com conhecimento de causa sobre a realidade no resto do País, mas em Cabeceiras de Basto essa perceção e valorização está a acontecer através do CTCMCB.

O segundo passo parte de nós, artistas. Devemos começar por pôr o nosso ego de parte e ter a humildade suficiente para perceber que se todos nos unirmos será certamente mais fácil criar e produzir, e até mesmo lutar pelos nossos direitos e defesa do nosso trabalho. Como? Através de trabalho em rede e criação de parcerias entre artistas, companhias de teatro, e outras entidades. Desta forma maximizamos a massa criativa, as produções, os recursos humanos, os espaços e equipamentos culturais. Já defendo essa ideia há bastante tempo, e agora mais pertinente se torna fazê-lo. Não digo que isso já não esteja a acontecer, atenção. O que acho é que não acontece na proporção necessária ao que o momento está a pedir. Estamos todos dentro do mesmo barco, cada um com o seu remo é certo, temos é de levá-lo a bom porto e para que isso aconteça só existe uma forma de o conseguir: remar para o mesmo lado, juntos.
Nós estamos cá, de portas e braços abertos dispostos a criar e a produzir coletivamente.

Mais sobre o CTCMCB em https://www.facebook.com/ctcmcb/

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