The Architect: Distopia próxima

Uma cidade de Oslo sem carros, num futuro não muito longínquo. Um dia a dia higienizado, sem grande intermediação humana nos serviços, nomeadamente na interação com o banco. Os cães passeiam-se quase sozinhos, e os gadgets são omnipresentes.

Julia, uma estagiária de arquitetura, vê-se obrigada a viver numa garagem, numa cidade cuja pressão imobiliária se faz sentir ao extremo. Mesmo as pessoas que conseguem um apartamento sentem grandes dificuldades para o manter.

A firma de arquitetura onde Julia trabalha concorre à construção de 1 000 apartamentos a preços controlados. Ela consegue, por meio de um estratagema com um colega, concorrer, o que lhe valerá um grande prémio monetário caso vença. Seguimos o seu dia a dia, com os colegas e com a vizinha de garagem, uma jovem também em dificuldades financeiras. 

As relações humanas são, nesta Oslo imaginada, transacionais, e a emoção só a muito custo é expressada. É como se as pessoas se aproximassem, em características, da tecnologia que utilizam.

Das peripécias e da resolução da trama não irei falar, dado que são elementos a experienciar ao assistir a esta série, premiada no festival de Berlim. Direi apenas que há vários elementos de humor e de ironia, mesmo num cenário de crise iminente.

Numa altura em que a questão da habitação, e das dificuldades em encontrar alojamento condigno a preços acessíveis, está na ordem do dia em Portugal, esta série não podia ser mais atual.

Há quem pense que a história termina com uma nota de esperança, mas não a descortinei.

“The Architect” é uma série distópica, em que o imaginado pode muito bem tornar-se realidade em poucos anos, com consequências traumáticas.

A série de 4 episódios, da dupla de argumentistas Nora Landsrød e Kristian Kilde e do realizador Kerren Lumer-Klabbers, estreia em exclusivo na Filmin a 5 de setembro de 2023.