A exposição Ressintonização Afetiva é uma nova instalação desenvolvida para o espaço da Appleton box que aprofunda e dá continuidade à investigação desenvolvida pela artista, centrando-se na exploração do papel da consciência na relação entre mente e corpo com especial interesse no impacto direto que esta relação tem nas emoções, na saúde e nas construções sociais, de identidade e de possíveis futuros.
Em Ressintonização Afetiva apresenta-se a construção de uma instalação multidisciplinar a fim de criar um ambiente coeso e imersivo decorrente da interação das obras justapostas pela luz e movimento das projeções de vídeo. Estas projeções são desenhos em movimento no caso das animações frame by frame e desenhos projetados que fortalecem a unidade da instalação e que na sua totalidade perfazem o desenho de luz da exposição.
Este novo espaço resultante da instalação pode admitir a função de porta ou caminho, caminho que transporta de obra em obra e faz o convite a examinar as múltiplas conversas internas. A proposta para esta viajem introspetiva por caminhos e portas de um espaço sensorial que está para cá e para lá das obras, para cá e para lá do interior do individuo, apresenta-se como um convite ao exercício de tomada de consciência da ligação mente-corpo e os múltiplos desdobramentos que tal relação tem no bem-estar individual e consequentemente coletivo.
O objetivo é trabalhar para que esta ideia saia do campo da imaterialidade e se traduza em conhecimento empírico e numa prática diária que tem um impacto direto nas emoções, na saúde e nas construções sociais, de identidade e de novos possíveis futuros.
A investigação contínua, que é a estrutura interna e linha condutora do processo criativo, tem um forte interesse numa abordagem mística aliada a referências científicas e literárias que se estendem pela filosofia, medicina, ciência, poesia e investigação acadêmica. Inclui autores como António Damásio, Gabor Maté e Thomas Metzinger, acompanhados pelos reinos de William Blake, Fernando Pessoa e Aldous Huxley. A investigação é alimentada pelo interesse na interseção de temas, como práticas místicas/espirituais antigas e modernas, e os paralelos que podem ser estabelecidos com a ciência, particularmente a neurociência, e sua abordagem sobre o impacto na experiência humana pela experiência não material.
A obra é caracterizada por um profundo compromisso com as questões fundamentais que sustentam a nossa experiência do mundo ao nosso redor. Pretende explorar o impacto das experiências místicas na consciência e vivência humana, em como percebemos a tecnologia - tanto moderna quanto antiga, material e imaterial. Em última análise, o processo criativo é impulsionado pelo desejo de explorar os limites da experiência humana e ultrapassar as fronteiras do que atualmente entendemos sobre a natureza da realidade.
A prática artística multidisciplinar resultante abrange os mídias de instalação, desenho, vídeo, pintura e escultura, compondo um corpo de trabalho coeso, contínuo e imersivo. A essência desta prática artística reside no diálogo entre os diferentes mídias. Através dessa troca, encontrar diferentes formas de compreender o nosso entorno e mergulhar nas possibilidades de habitar dimensões múltiplas simultaneamente. Esse diálogo também é o motor da curiosidade por perspetivas alternativas, novas interpretações e potenciais futuros.
Catarina Mil-Homens
Maio 2024
Uma produção Balaclava Noir