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Depois do sucesso da primeira edição, o One-to-One Festival regressa à Fábrica da Pólvora, em Oeiras, nos dias 15 e 16 de novembro, reafirmando-se como uma celebração da proximidade e da experiência partilhada entre artista e público. Organizado pela Companhia Gato Escaldado, o festival propõe um conjunto de performances desenhadas para serem vividas de um para um, num encontro íntimo e irrepetível entre quem cria e quem assiste.
Nesta segunda edição, nove artistas de vários países, entre os quais Portugal, Finlândia, Itália, Ucrânia e Croácia, apresentam propostas que atravessam o teatro, a dança, a música e as artes visuais, mantendo viva a ideia de que a arte pode ser um gesto profundamente pessoal.
O Coffeepaste conversou com Ana Isabel Sousa e David Correia, fundadores da Gato Escaldado e responsáveis pela organização do festival, para saber mais sobre a origem do projeto, o impacto deste formato singular e os desafios de continuar a dar-lhe vida num contexto internacional e colaborativo.
Como nasceu a ideia do One-to-One Festival e o que vos atraiu neste formato tão íntimo de encontro entre artista e público?
A ideia do One to One foi nos apresentada pelos nossos parceiros do Keha Festival que este ano organizaram a 10ª edição do festival em Oulu. Tentámos adaptar o modelo deles à nossa realidade. A primeira vez que o festival foi feito na Finlândia, foi a pensar nas pessoas que estavam hospitalizadas e que não podiam assistir a espetáculos. Cada artista teria que se dirigir a uma cama de hospital e fazer a sua performance de um para um. One-to-one. Ao perceberem que as performances tinham qualidade e que criavam momentos únicos, os nossos parceiros pensaram que os artistas deviam ter um espaço onde podiam apresentar os seus trabalhos neste formato, e assim surgiu o Festival em Oulu. O que nos atraiu foi isso mesmo, a intimidade entre artista e público, onde partilham um momento único, que vai nascer e morrer ali na sala onde está a acontecer a performance. Essa "magia" de um artista estar a dar toda a sua criatividade, toda a sua arte naquele momento só para uma pessoa, pareceu-nos um conceito que gostaríamos de explorar, pelo encontro único que acontece naquele momento.
O que distingue, na vossa perspetiva, a “arte one-to-one” das outras formas de performance participativa ou imersiva?
É verdade que a arte One-to-One também é muito participativa e imersiva. Mas o que a distingue das últimas é a intimidade e exclusividade da mesma. Tivemos a oportunidade de participar no festival realizado na Finlândia como público. E não há palavras para o luxo que se sente em ter um artista a dedicar-se inteiramente a ti, só a ti. Com uma performance totalmente personalizada para ti, que pode ser modificada pela tua presença. E que sem ti ali não aconteceria. O "teatro" está vazio sem ti e está esgotado contigo. Sentimo-nos mesmo especiais.
Que linha curatorial orientou esta segunda edição? O que procuraram ao escolher os nove artistas e as suas propostas?
Este ano tínhamos mais responsabilidade, é a segunda edição do festival, e tínhamos de provar que a ideia de One-to-One não se esgota nas performances que tinham sido apresentadas no ano anterior. Tivemos isso em conta: apresentar performances diferentes das do primeiro ano. Apostámos em performances viradas para o digital, por exemplo, em performances que pudessem criar sensações diferentes às pessoas que quisessem voltar a participar no festival.
Mas também mostrar que apesar de serem performances mais curtas do que aquelas que estão normalmente nos grandes teatros, conseguimos dar uma experiência única e inesquecível a quem venha participar. Por isso, procurámos performances originais, inovadoras e que em poucos minutos mostrassem a qualidade deste tipo de arte.
A Fábrica da Pólvora tem uma presença forte no Festival. Como é que o espaço influencia a experiência artística?
A Fábrica da Pólvora é um sítio lindo, com uma energia muito própria, e um local que muita gente ainda não conhece. Podermos utilizar a beleza das salas que nos foram disponibilizadas, como a central a diesel ou a central hidroeléctrica, é algo que é um acrescento enorme para o festival. As famílias podem vir, passear pelo parque, disfrutar de um momento ao ar livre e assistir a objetos artísticos. Parece-nos uma conjugação de fatores espetacular.
O formato um-para-um desafia tanto quem cria como quem assiste. Que tipo de impacto têm observado nos artistas e no público?
A experiência do ano passado superou todas as nossas expectativas. Os artistas estavam super contentes pela receptividade do festival, por ter tanta gente disposta a esperar para assistir às suas performances, sim, porque paciência é algo muito importante no nosso festival. Como cada performance é para uma pessoa de cada vez, temos de esperar pela nossa vez. Mas apesar disso, das filas, da chuva, dos tempos de espera, o público deu-nos um feedback super positivo.
Pessoas que vieram nos dois dias, pais que vieram sozinhos e voltaram no dia seguinte com os filhos porque diziam que eles tinham de passar por aquela experiência, pessoas que sugeriram o festival a amigos. Na nossa opinião, a recepção que tivemos da parte do público no ano passado ultrapassou todas as nossas expectativas iniciais.
Há sempre uma dimensão de vulnerabilidade. Como se cria segurança e confiança nesse encontro tão direto?
Todos os artistas têm sempre alguém da nossa equipa a acompanhá-los. Essa pessoa que está à porta tem a função de fazer o público sentir-se seguro e apoiado. E principalmente, que pode sair a qualquer momento. No entanto, como organizadores temos a obrigação de selecionar objetos artísticos que sabemos que não irão meter ninguém em perigo.
O projeto One-to-One Art envolve parceiros da Finlândia e da Croácia. Como tem sido trabalhar neste contexto europeu?
Temos tido a sorte de trabalhar na Hungria, na Grécia, na Polónia, na Croácia, na Finlândia e é algo difícil de pôr em palavras. Tem sido uma experiência tão enriquecedora, conhecer todas estas culturas, diferentes pessoas, diferentes formas de pensar, diferentes realidades. Temos crescido como pessoas e como artistas. E no mundo atual, é uma oportunidade maravilhosa, conhecer, conviver e trabalhar com todas estas pessoas. Mostra-nos que temos de continuar a abrir mentalidades, que fecharmo-nos na nossa "bolha" não é e não deve ser uma solução.
Aceitar o outro, respeitar as diferenças é um caminho que todos devíamos ter a oportunidade de percorrer.
Acreditam que este tipo de formato tem potencial para crescer e consolidar-se fora dos circuitos mais experimentais?
Acreditamos que sim. É um formato bastante difícil de ser prolífero, tendo em conta que não vende muitos bilhetes. Mas acreditamos que poderiam existir mais eventos com este formato, e que o público ia gostar.
O projeto também se estende a contextos sociais e de saúde. Podem dar um exemplo concreto de como a arte one-to-one atua nesses ambientes?
O projeto cresceu nesses ambientes, e só depois se transformou em algo "maior". Este ano tivemos a oportunidade de ir à Finlândia e levar vários dos projetos que vão estar em Portugal para serem apresentados em lares de idosos, em clínicas psiquiátricas, em centros de apoio a antigos militares e foi uma experiência muito gratificante. Ver algumas daquelas pessoas a ter a possibilidade de participar nestas performances, e dar-lhes um momento diferente no seu dia-a-dia, foi muito bonito. Esse momento, a experiência que aquelas pessoas tiveram naquele dia, é algo que não tem preço, por instantes, esqueceram os problemas, estavam a desenhar, a fazer música, a ver um espetáculo de magia. É criar um momento diferente, é colocar um sorriso na cara de pessoas que na maioria dos seus dias têm de viver com os seus problemas e com os seus fantasmas, e que ali naqueles 5, 10 ou 15 minutos têm uma experiência completamente única, e podem desligar do que se passa à sua volta.
O que podemos esperar a seguir? Já há planos para uma terceira edição ou outras ramificações do projeto?
É bastante difícil pensar numa terceira edição sem apoio financeiro. Gostaríamos também de fazer uma versão do festival apenas com artistas nacionais mas mesmo essa necessita de apoio para se realizar. O nosso plano é fazer uma nova candidatura para que este projeto tenha continuidade.
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