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Clube dos Poetas Moribundos
coordenação de Teresa Coutinho
A poesia é um lugar estranho. Não configura por si só um espetáculo, mas trata-se de uma mise-en-scène de palavras e de imagens que, de tão particular, acabou por encontrar pernoita debaixo das arcadas do Teatro Nacional D. Maria II. É lá, e na Casa Fernando Pessoa, nesses lares de acolhimento, que Teresa Coutinho tem tratado de a nutrir e fazer florescer até nos ouvidos mais duros e nos corações mais frios — são já seis anos de curadoria de um projeto ímpar no que ao casamento ente as artes preformativa e literária diz respeito.
Vítima do seu próprio sucesso, é conhecida a luta do projeto Clube dos Poetas Vivos, de há alguns anos a esta parte, em encontrar a sua cada vez mais escassa matéria-prima: poetas, do tipo vivo. Como sabem as gentes do mar, a pesca intensiva reduz o cardume, e ao que parece, a pequena lagoa a que se chama Portugal já secou as suas águas por esta época. A crescente dificuldade em arranjar poetas/autoras ou autores/cantoras ou cantores/ativistas pertinentes e carismáticas, residentes em Portugal ou com possibilidade de marcar presença num destes eventos mensais, levou mesmo a esforços hercúleos e a medidas extremas por parte da curadora deste ensemble: veja-se uma das últimas edições onde Marcaram presença crianças e jovens finalistas do Concurso Nacional de Poesia Infantojuvenil, ou daquela outra vez quando a convidada foi uma bordadeira de poemas populares em ponto-cruz e tricô. A pergunta sempre pairou no ar, quando iremos nós esgotar os nossos poetas vivos?, e parece agora aproximar-se de uma forçosa e irredutível resposta.
Apesar de ter já aludido à pesca parece que a solução se extrai, afinal, da agricultura: talvez seja preciso uma estação de pousio. Por isso, conforme lançado na programação vindoura do Teatro Nacional D. Maria II, agora com nova gerência, a atriz e encenadora irá revestir o projeto de uma nova roupagem, redirecionando o foco poético e mediático para outra população e batizando-o em consonância: o Clube dos Poetas Moribundos.
Estando interdita a programação física no referido Teatro — graças às tão aguardadas obras de reabilitação do mesmo — Teresa Coutinho irá dirigir esta nova vertente do projeto em estreita articulação com lares, centros de dia, cuidadores informais e casas de repouso, no que se aproximará, julgo, a uma versão elevada e cultural do grande Natal dos Hospitais. Sem querer levantar demasiado o véu, sabemos que apostou num trabalho de terreno extensíssimo para encontrar poetas em fim de vida que possam e queiram, ainda assim, assinalar a sua obra e recordar as respetivas lutas que, infelizmente, podem ser ainda as de hoje. A lê-los terão, como seria de esperar, atrizes e atores provenientes da Casa do Artista que emprestarão as suas vozes, Profundas e calejadas pelas tábuas do palco, aos poemas da sua geração.
Naturalmente, e dada a natureza dos convites feitos, não foram partilhados para já os nomes das e dos envolvidos, uma vez que a qualquer momento poderá dar-se o infortúnio de cair um dos convidados, figurativa ou literalmente. Já com essa ressalva em mente assegura-se, porém, que estão a ser estabelecidos compromissos com a mínima antecedência possível para que o trabalho de preparação e curadoria não seja constantemente em vão, até porque isso obrigaria o nome do Clube a retornar ao título do famoso filme de Peter Weir, uma marca mais que registada. Resta ao público cruzar os dedos para que a sua ou o seu poeta moribundo favorito tenha saúde e destreza para chegar à data acordada entre as partes.
Teresa Coutinho assegura que, à margem desta nova vertente do projeto, cogita refrescantes formulações: Clube dos Poetas Recém-Nascidos — dedicados à leitura de poemas a bebés —, Clube dos Poetas de Casa-de-Banho — uma tradição inolvidável do sanitário público —, Clube dxs Poetxs — para poesia criada pelas mãos LGBTQI+ —, Clube dos Clubes dos Poetas Vivos — numa parceria entre os seus pares internacionais —, e o Clube dos Poetas Que Ensinam A Cair — numa parceria com o afamado movimento das redes sociais, O Poema Ensina a Cair, e envolvendo conversas influencers poéticos especialistas em tornar a poesia instagramável —, entre outras.
Independente da formulação, é louvável a persistência, erudição, inspiração e carinho que Teresa Coutinho emprega em todos os Clubes que orienta: passados, presentes e futuros. E isso é poesia.
@ autor@ não escreve ao abrigo do acordo com a realidade.
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