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José Luís Ferreira - Entrevista

December 3, 2013

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José Luís Ferreira - Entrevista
©João Tuna ©João Tuna

Esta semana entrevistamos José Luís Ferreira, Director do Teatro S. Luiz


Que balanço faz do tempo que está à frente do Teatro S. Luíz?
Não tenho a certeza de conseguir fazer um balanço muito preciso destes quase três anos, na medida em que o jogo entre deves e haveres se arrisca a ficar sempre um pouco aquém da paixão com que enfrentamos uma missão em que acreditamos. Espero que as dezenas de co-produções que empreendemos tenham acrescentado algo aos artistas e companhias que, assim, puderam trazer o seu trabalho a públicos mais alargados e fintar um pouco da crise que assola a criação artística. Espero que as dezenas de milhares de espectadores que nos visitaram e se defrontaram com os espectáculos, os concertos, as conversas, as leituras, os lançamentos que lhes propusemos tenham sentido que essas propostas trouxeram algo de importante às suas vidas. Creio que, ao longo destes três anos, o Teatro intensificou a sua imagem de lugar aberto, plural, apostado em demonstrar que as artes, o exercício da inteligência e da sensibilidade, são lugares decisivos de maturação de uma sociedade e da sua capacidade de se reinventar, de ser a um tempo crítica e construtiva. Pessoalmente, vivi estes três anos entre o quase excessivo prazer de descobrir formas de propiciar  o encontro entre as artes e a cidade e a angústia e a dúvida que a gestão contingente do tempo, dos recursos e do meu próprio talento acaba sempre por impor…




©Tiago Oliveira ©Tiago Oliveira

Já trabalhou em Coimbra, Porto, e agora Lisboa. Que principais diferenças encontra entre as várias estruturas por onde passou?
Não apenas se trata de três cidades diferentes, como o enquadramento institucional e a missão de cada uma das estruturas em que trabalhei não é propriamente coincidente, como ainda, finalmente, desenvolvi o meu trabalho em cada uma delas em tempos diferentes da minha vida. Há vinte anos, aprendi o vocabulário e os princípios básicos desta actividade no Teatro Académico de Gil Vicente, um teatro universitário que vivia tempos de mudança e de maior ambição. Aprendi a fazer fazendo, de uma maneira muito transversal, e tive ainda a sorte de encontrar pessoas cuja visão, capacidade de trabalho e horizonte artístico me apontaram o caminho. Há quinze anos, integrei o Teatro Nacional São João, um projecto modelar de estrutura pública de criação, com uma identidade muito forte e com uma firmeza de propósitos e uma liberdade de acção que serviram para estruturar a minha prática e aprender a arriscar para além daquilo que julgava serem os meus próprios limites. Neste últimos três anos, a responsabilidade de dirigir o São Luiz fez-me encontrar um teatro que tem como missão construir uma identidade sobre uma ideia de pluralidade, que procura ser popular sem diminuir a sua exigência, que vive e deve afirmar-se num contexto de oferta muito mais alargada. Três cidades, três teatros, três tempos que no fundo nos demonstram que, sendo Portugal um país pequeno, conhece assimetrias relativamente exageradas que devemos combater. O direito de cidadania que está contido no acesso à criação e à fruição das artes é universal e deve tocar o território de uma maneira inteligente, potenciando e amplificando os recursos que existem.


Pode-se dizer que há um publico tipo do São Luiz?
A intensidade e a pluralidade da programação do São Luiz implicam elas próprias públicos diversos e com interesses diferentes. A nossa ambição será, dentro dessa pluralidade, criar alguma constância na forma como os diferentes públicos se relacionam com a casa e com a instituição. E criar, de uma forma tão universal quanto possível, o desejo de relação dos cidadãos com as artes. Não apenas visitando e relacionando-se com os objectos artísticos que aqui são criados ou apresentados, mas também exercendo progressivamente o seu direito à curiosidade intelectual e à interpelação da sociedade através do exercício das linguagens artísticas.


Quais os principais objectivos do São Luiz para esta temporada?
Não encontro uma forma melhor de responder a esta questão que não seja repetir as palavras que escrevi no caderno de programação: «Sabendo que a cidade apenas pode rever-se e projectar-se no discurso que produz sobre si própria, a prática artística assume uma importância particular na economia geral da vida. É, por isso, importante reconhecê-la e dar-lhe lugar, sempre admitindo a possibilidade do erro, saber propiciar o espaço vazio do qual, segundo Peter Brook, pode emergir o sentido. É esta, cremos, a missão de um teatro da cidade. Abrir-se aos criadores, escutar as vozes dos autores e os modos dos intérpretes e assumir o desejo nobre de os transportar aos cidadãos. Sem a presença empenhada dos artistas, não há objecto. Sem a reverberação que os públicos geram na relação com os objectos, não chega a haver obra. Nem cidade.»




©José Frade ©José Frade

O que gostaria de destacar da programação deste ano?
Será provavelmente a pergunta mais incómoda para quem tem a responsabilidade de programar algumas dezenas de projectos em cada temporada e gostaria que cada um deles se afirmasse único na sua importância. Ainda assim poderei destacar as catorze co-produções, nos domínios do teatro, da dança e da música, que estruturam todo o programa da temporada e trazem até nós criadores importantes como João Brites, Luís Miguel Cintra, Beatriz Batarda, Tiago Rodrigues, Miguel Moreira, José Eduardo Rocha, António Sousa Dias… Ou companhias como o Pigeons Théâtre, de Montréal, os Circolando, do Porto, a Mala Voadora, uma das companhias importantes da cidade de Lisboa… Ou poderia também pôr o acento numa ideia de repertório, das palavras que a história da nossa cultura nos empresta para que possamos rever-nos a nós próprios: as de Shakespeare, as de Beckett ou as de Saramago, as de Cervantes ou as de Tabucchi… Ou ainda recorrer ao brilho suplementar que as presenças do Théâtre du Soleil ou de Raimund Hoghe implicam. No fundo, talvez o destaque vá para os cerca de cinquenta mil espectadores que acompanham toda a programação e constroem eles próprios percursos que muitas vezes não podemos entrever…


Como vê o panorama cultural português?
Vejo com muita preocupação… Em quarenta anos de democracia e liberdade, construímos muito. Deixámos de ser um país com uma taxa de analfabetismo assustadora e empreendemos um caminho de qualificação das práticas artísticas e de familiarização dos cidadãos com essas práticas. O ensino artístico, embora haja ainda muito a fazer, propiciou a emergência de um conjunto alargado de artistas com qualidades bastante afirmativas. Mas todo este edifício foi quase sempre sendo construído numa base voluntarista, apesar da inconstância política, apesar dos recursos absurdamente limitados que esta missão de serviço público tem à sua disposição, apesar da distância com que os meios de comunicação tratam o universo das artes. Hoje, face ao desprezo evidente na forma como os poderes públicos se relacionam com as artes e os artistas, face à ideologia dominante que apenas atribui importância àquilo que é imediatamente quantificável, todo este edifício frágil ameaça ruína. Ela ainda só não aconteceu, e desejavelmente não virá a acontecer, porque a energia própria que os agentes culturais demonstram, a sua capacidade de resiliência, vão assegurando uma continuidade precária. Valham-nos ainda alguns oásis no meio do deserto, de que é exemplo a Câmara Municipal de Lisboa. Porém, há muito poucas autarquias que reúnam vontade política e alguma capacidade financeira para poder intervir em contra-ciclo.

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