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FUSO 2025: quando os Verões Quentes se cruzam com a videoarte

Por

 

Pedro Mendes
August 20, 2025

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FUSO 2025: quando os Verões Quentes se cruzam com a videoarte

De 26 a 31 de agosto, Lisboa volta a ser palco do FUSO – Festival Internacional de Videoarte, um evento único que cruza obras históricas e contemporâneas, promove novos talentos e ocupa jardins, museus e palácios da cidade com sessões ao ar livre e de entrada gratuita. Criado em 2009, o FUSO tornou-se uma referência incontornável no panorama artístico nacional, trazendo todos os anos propostas curatoriais de nomes portugueses e internacionais.

Em 2025, o festival inspira-se no tema “Verões Quentes”, evocando simultaneamente a memória do intenso verão político de 1975 em Portugal e a urgência atual do aquecimento global. Entre sessões históricas, programas de curadores convidados, a já emblemática Open Call e o FUSO Insular, a programação desta 17ª edição promete lançar olhares diversos sobre os desafios políticos, sociais e ambientais do nosso tempo.

À conversa com a Rachel Korman, coordenadora geral e curadora do FUSO, exploramos as ideias que atravessam a edição deste ano, a diversidade de espaços e colaborações internacionais, e a forma como o festival continua a construir pontes entre arte, público e sociedade.

O tema deste ano, “Verões Quentes”, articula o verão de 1975 com o aquecimento global. Como definiriam os contornos desta “amálgama de acontecimentos” que inspira o festival?
Em 2025 assinalam-se os 50 anos do que ficou conhecido como "Verão quente" em Portugal (1975). Em princípio, todos os Verões são quentes, mas aquele fora-o particularmente, na sequência da vivência mais intensa, e extrema, da Revolução de Abril de 1974. Hoje os extremismos são outros. Não se prendem com a sobrevivência e justiça social, mas com a demagogia e a desinformação. A cultura continua a ser das linguagens mais eficazes no caminho da tolerância, inteligência, superação e empatia.

Por que razão consideram este tema particularmente urgente ou relevante em 2025? Há desafios ou reflexões artísticas que consideram latentes nesta edição?
O mundo sempre foi complicado — e continua sendo, talvez mais do que nunca. Para a abertura do festival desafiamos a historiadora e crítica de arte contemporânea, Isabel Nogueira, para uma conversa informal com o público sobre acontecimentos revolucionários, num contexto em que o ‘Calor’ assumiu um novo e mortífero significado, o aquecimento global da Terra, que conduz cada vez mais a fenómenos climáticos extremos, colocando um desafio aos artistas. As curadorias desta edição do FUSO atravessam paisagens que oscilam entre o visível e o invisível, dá especial atenção ao corpo e ao movimento em espaços naturais, urbanos e pós-industriais, propõe uma viagem audiovisual por práticas artísticas que se debruçam sobre territórios em transformação — geográficos, afetivos, espirituais, ecológicos e políticos. A nossa relação com o mundo é permanentemente afetada por tudo isso, e é a isso que os artistas também devem responder.

O FUSO decorre em múltiplas localizações – MAAT, bibliotecas, museus e jardins na cidade. Como se desenhou esta diversidade de espaços? E que impacto acreditas que isso tem na experiência do público?
Desde a sua criação, em 2009, o FUSO acontece durante o verão, com sessões ao ar livre em jardins e claustros de museus e palácios de Lisboa, com entrada gratuita. Essa estratégia tem se mostrado bem sucedida, desde as parcerias estabelecidas com os espaços que se renovam todos os anos, como com a fruição do público, desejoso de novas experiências e de encontros em locais agradáveis para estar nas noites quentes do verão lisboeta. Associar este bem estar à exibição de obras de videoarte raramente vistas nas telas portuguesas, fazem do FUSO um programa especial.

A programação inclui seis dias de atividades. Quais dos momentos que consideras centrais no diálogo com o tema “Verões Quentes”? E que público esperas atrair para cada um deles?
Todos os anos definimos um ‘tema guarda-chuva’ para a edição do FUSO. Este tema funciona como uma diretriz para as escolhas das curadoras/curadores, que têm carta branca para programar obras e artistas que fazem parte do seu campo de pesquisa e interesse. Três das sessões curatoriais programadas para esta 17ª edição do FUSO mostram bem esta amplitude do tema Verões Quentes.

Manuela Marques, artista franco-portuguesa a viver em Paris, foi desafiada a mergulhar na coleção do Centre National des Arts Plastiques (CNAP-França), de onde selecionou seis vídeos que têm como denominador comum a areia, como espaço físico e mental. São filmes que trazem mais perguntas do que respostas e abrem portas para paisagens sensíveis, que oscilam entre o visível e o invisível. Com o título "Sob a areia", a sessão acontece no dia 28 de agosto no MNAC.

No dia 29 de agosto, no Palácio Sinel de Cordes, Greg de Cuir Jr, co-fundador e diretor artístico do Instituto Kinopravda (Sérvia), apresenta uma seleção de obras de cineastas e videoartistas do sudeste Europeu que destaca a variedade de estéticas e práticas artísticas, e a abrangência de diversos contextos sociopolíticos, fio condutor da obra destes artistas.

Para a sessão na Biblioteca Palácio Galveia no dia 30 de agosto, a equipa curatorial da Bienal Walk&Talk (Açores) - Claire Shea, Fátima Bintou Rassoul Sy, Jesse James e Liliana Coutinho - propõe obras de quatro cantos do mundo - Açores, Coreia, Catalunha e Suíça, que traçam percursos entre a memória e o mito, a denúncia e o sonho, a terra e o corpo.

Estas três propostas, associadas à já tradicional sessão histórica programada pela curadora Lori Zippay para o último dia do festival no Museu da Marioneta - que este ano apresenta obras da norte-americana Lynn Hershman Leeson, uma artista visionária que desde a década de 1960 tem antecipado o impacto das tecnologias sobre o indivíduo e como elas moldam a cultura - são, sem dúvida, um grande atrativo não só para o público já fiel ao FUSO mas também para muitas pessoas que descobrem o festival, seja pelo concurso Open Call, pela divulgação nos média ou por recomendação.

A Open Call recebeu 208 candidaturas e selecionou 13 obras que transitam entre humor, sensibilidade e inteligência. Como foi este processo de seleção e que critérios orientaram a escolha?
Mais do que nunca, a selecção foi difícil, penosa, talvez injusta, ao oferecer ao público treze obras que pretendem apenas elaborar um inventário - fragmentário - da videoarte em Portugal. Mas essas obras não são exceção a uma característica observada nas edições anteriores: uma grande diversidade de origens (desde as artes visuais à performance ao vivo), idades (na verdade, quase três gerações), métodos de produção (da pós-graduação à produção profissional), nacionalidades e locais de residência. É bastante artificial identificar temas, ainda que as preocupações sociais de hoje encontrem eco: a questão de género e o decolonialismo estão, logicamente, presentes nas obras apresentadas. Mas o que mais chama a atenção é sobretudo a expressão de uma visão do mundo, de uma sensibilidade, de uma inteligência e de um sentido de humor. São critérios fundamentais para a escolha dos vídeos a concurso. Como disse Nelson Goodman (Languages of Art, 1968), “um artista tem muitas vezes razão ao adotar a perspetiva da inocência do olhar.”

As obras selecionadas serão apresentadas no dia 27 de agosto, no Pátio do Carvão do MAAT-Central. Haverá algum tipo de interação ou conversação com o público nesta sessão?
Esta é a segunda etapa do concurso Open Call. Primeiro, realizou-se a seleção entre as mais de 200 obras inscritas, que resultou na escolha dos 13 vídeos que serão apresentados na sessão do dia 27 de agosto, no MAAT-Central. Estas 13 obras concorrem a dois prémios: o Prémio Aquisição pela Fundação EDP/MAAT, no valor de €3.500, e o Prémio Incentivo, atribuído pela DUPLACENA, promotora do festival, no valor de €500. No caso do Prémio Aquisição, a escolha é feita pelo diretor do MAAT, João Pinharanda. Já o público elege o vídeo vencedor do Prémio Incentivo, através do voto. Assim, na sessão do dia 27, a participação do público é da maior importância, pois são as pessoas da audiência que destacam a obra que mais lhes agrada e comove.

O FUSO destaca-se por conjugar obras históricas e contemporâneas, além de promover talentos emergentes — e ainda circula por outras cidades e países. Como equilibrar tradição, inovação e internacionalização na curadoria?
A programação do festival propõe juntar obras já canónicas dos primórdios da videoarte com as mais contemporâneas, promovendo uma visão mais ampla da evolução da videoarte ao longo dos últimos 60 anos. As curadorias de excelência garantem a consistência e qualidade da programação, composta por obras de artistas de renome internacional em paralelo com obras de jovens artistas, quer portugueses quer estrangeiros. O convívio diário de curadores e artistas durante a semana do festival proporciona o estabelecimento de novas parcerias, gerando uma rede de conexões e colaborações. Este é o espírito do festival. É a partir desta interação que surgem a circulação e a internacionalização dos artistas e das suas obras. Além disso, o FUSO é apresentado, a convite, em diversas cidades portuguesas e de outros países, desenhando diferentes formatos de exibição adaptados a cada local. Desta forma, acreditamos que o FUSO cumpre a sua missão de fomentar a diversidade cultural e de contribuir para a divulgação dos artistas portugueses dentro e fora do país.

A presença de curadores internacionais — como o Instituto Kinopravda no dia 29 — reforça esta margem global. Como avalias o impacto dessas parcerias na programação e no público?
Ao convidar curadoras e curadores internacionais para programar as sessões do FUSO, sabemos de antemão que teremos boas surpresas. Buscamos sempre associar o festival a importantes coleções internacionais, que possuem obras de videoarte raras de se ver nos ecrãs portugueses. O Instituto Kinopravda, sediado em Belgrado, é um bom exemplo. O programa apresenta vídeos de artistas oriundos da Sérvia, da Croácia, da Bósnia & Herzegovina, da Albânia… Da coleção do CNAP (França) temos obras de artistas da França, mas também do Irão, do Marrocos… A Bienal Walk & Talk traz os Açores, mas também a Espanha, a Suíça e a Coréia do Sul até às nossas telas… Tudo é novidade! Esta programação, associada às obras de artistas nacionais da sessão Open Call fazem do FUSO um festival diversificado e eclético, que abraça a pluralidade, mistura estilos e proporciona ao público um leque de experiências variadas, inclusivas e enriquecedoras.

O festival insere-se nas Festas na Rua 2025, e conta com o apoio da Direção-Geral das Artes, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa Cultura, EDP/MAAT, Institut Français, entre outros. Como é que esta rede de apoios se traduz em oportunidades para o festival e no seu legado cultural?
O apoio financeiro institucional da DGartes e da Câmara Municipal de Lisboa são fundamentais para a concretização do FUSO. Sem ele o festival não existiria. Estar inserido nas Festas da Rua, por meio do Lisboa Cultura, faz com que cheguemos a um público ainda maior do que o habitual do FUSO e isso é essencial. A parceria com a Fundação EDP/MAAT, que vem de longa data, garante não só o concurso Open Call com o Prémio Aquisição, cujo vídeo selecionado integrará a coleção da instituição, como o acolhimento da sessão no Pátio do Carvão, na segunda noite do festival. Aliás, é de se ressaltar as parcerias estabelecidas, e renovadas a cada ano, com os espaços que acolhem as sessões: MNAC, que associado ao Museu da Polícia nos recebe no belo Pátio da Parada; a Trienal de Arquitetura que acolhe uma das sessões no jardim do Palácio Sinel de Cordes; a Biblioteca Palácio Galveias e o Museu da Marioneta, estes dois últimos geridos pela Egeac, parceria imprescindível para garantir nosso propósito de ocupar jardins e claustros de palácios e museus da cidade, com sessões de videoarte ao ar livre nas noites de verão lisboeta. Sem esquecer, claro, da importante parceria com instituições internacionais, como é o caso do Institut Français du Portugal, que há 3 anos consecutivos nos apoia com as curadorias baseadas em França. Costumamos dizer que essa é a família FUSO, que garante a realização e consistência de um festival que acontece há 17 anos ininterruptos!

Que tipo de mediação e envolvimento público está previsto? Haverá sessões para famílias, comunidades escolares, ou diálogos com artistas?
Todas as sessões são precedidas de uma conversa com a curadora ou curador responsável pela programação daquela noite. Este ano quem mediará as conversas é a investigadora e curadora Cristiana Tejo. O propósito é dar oportunidade às pessoas que programaram a sessão de falar sobre suas escolhas e preparar o público para o que irão assistir em seguida. A comunidade escolar está representada na sessão programada pelo Departamento de Cinema e Imagem em Movimento do Centro de Arte e Comunicação (Ar.Co). Esta sessão acontece no último dia do festival. Há 5 anos o FUSO estabeleceu parceria com o Ar.Co, abrindo espaço para a promoção da nova criação nacional.

Como defines o papel da coordenação geral e curatorial que assumiste neste FUSO? Houve decisões estruturantes que refletem uma visão particular tua?
O FUSO faz-se em equipa. Estou à frente da coordenação geral e curatorial do festival desde 2017, mas o conceito e a formatação vem de há muitos anos - o FUSO foi criado em 2009 pelo António Câmara - direção e Jean-François Chougnet - direção artística. Trabalhamos de forma totalmente horizontal, desde a definição do tema da edição às escolhas das curadorias a serem convidadas. Sugiro nomes, eles sugerem outros e assim montamos o elenco que irá programar cada edição do FUSO. Depois é meu papel coordenar as excelentes equipas que fazem o FUSO acontecer, com a Ana Calheiros na direção de produção, o Alexandre Coelho na direção técnica, a Rita Bonifácio na comunicação e as Ilhas (Catarina Vasconcelos e Margarida Rêgo) responsáveis pelo desenho gráfico.

Se pudesses destacar uma obra ou momento da programação que, para ti, simboliza o espírito do festival 2025, qual seria e porquê?
É impossível escolher uma só obra ou um momento da programação… afinal o espírito do festival está presente todas as noites, desde o momento em que chegamos aos espaços e somos recebidos com um copo de vinho e um petisco até o final da sessão, quando saímos com o coração cheio de alegria pela certeza de ter proporcionado um momento especial ao público.

Mas vou aproveitar esta última pergunta para destacar uma programação que me é muito especial: a Mostra FUSO INSULAR. O Fuso Insular é um programa de residência criativa e uma Mostra de Videoarte que acontece na ilha de São Miguel (Açores) desde 2019, na sequência do FUSO Lisboa. No programa de residência - Laboratório Imagem em Movimento, as pessoas que vivem nos Açores - sejam ou não artistas – que se interessam pelas artes cinematográficas, têm a oportunidade de realizarem os seus projetos em vídeo, com o apoio de profissionais com larga experiência na área. Os trabalhos que apresentamos nesta edição do FUSO foram criados durante o Laboratório de 2024, sob orientação da realizadora Catarina Mourão e do artista André Laranjinha. Em encontros semanais e num processo colaborativo, os participantes propuseram ideias, criaram guiões, captaram imagens e sons e aventuraram-se por ilhas de edição, para contarem as suas histórias. O público poderá assistir aos vídeos em sessões consecutivas a serem exibidas de 27 a 31 de agosto, entre as 15h e 18h, no espaço Duplacena, 77 (rua Regueirão dos Anjos, 77).

Foto: © Alípio Padilha

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