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O ÁGORA regressa ao Castelo de Leiria de 19 a 21 de setembro, assumindo este ano um novo formato concentrado em apenas um fim de semana. O projeto, que cruza música, artes performativas e instalações, transforma o castelo num espaço de encontro entre património material e imaterial, presente e futuro, artistas e comunidade. À frente da programação está Gui Garrido, programador artístico, que reflete nesta entrevista sobre os desafios e potencialidades de criar um evento num espaço tão singular, as linhas de pensamento que orientam as escolhas artísticas e a forma como o ÁGORA procura deixar um legado de empatia, diálogo e pertença.
O ÁGORA regressa este ano ao Castelo de Leiria num formato concentrado em apenas um fim de semana. O que vos levou a optar por esta intensidade programática em três dias?
Foram muitos os ponderadores para a alteração do formato do Ágora, que nos últimos anos, sempre se assumiu como um ciclo cultural ao longo de 3 fins-de-semana, mas que este ano se concentra em 3 dias mais intensos de programação, que antecedem o equinócio de outono.
Esta alteração deve-se a um pensamento e planeamento dos diversos projectos culturais que desenvolvemos na nossa estrutura, a CCER Mais/Omnichord, de forma a conseguirmos ter mais tempo para aprofundar cada um dos projectos e seguindo uma dramaturgia que se vai alterando ao longo das 4 estações do ano.
O projeto cruza música, artes performativas e instalações. Como pensas esta relação entre disciplinas artísticas no contexto tão particular do Castelo de Leiria?
É nesse cruzamento de pensamento, disciplinas, artistas, formadores, públicos, que um lugar se torna ainda mais rico, diverso e plural. Sendo um Castelo de Leiria um lugar que já teve várias vidas e perspectivas, faz-me sentido como programador, desenhar um programa que possa também possibilitar diversas linhas de pensamento e formas de fruição artística.
A arquitectura imponente do Castelo de Leiria no seu alto, os seus diversos espaços e cantos, são sempre possibilidades de (re)pensar os lugares e criar novas memórias neste lugar com tantos anos de histórias.
Um dos eixos do ÁGORA é a relação entre património material e imaterial. Como é que este diálogo se traduz na programação deste ano?
Cada artista tem em si um “património”, tem uma história para contar, para se ouvir, para dialogar. São diversas vidas a coabitar o mesmo lugar, com experiências e visões distintas que irão partilhar com o público. Acredito também que os lugares onde se apresentam, são parcialmente responsáveis pela experiência, por essa renovação do momento vivido entre públicos e artistas e que criam um novo legado no seu trajecto.
Na fruição de manifestações artísticas em património material, neste caso no Castelo de Leiria, há uma sempre uma construção partilhada de património imaterial, muitas vezes invisível, mas que se torna parte das memórias de tem esteve presentes e vivenciou esse momento.
O Ágora apresenta um programa eclético, com artistas de diversas geografias, que generosamente partilham as suas obras e que criam novas relações com este lugar e o público.
Entre os artistas convidados encontramos nomes muito distintos, como Abdullah Miniawy, Tó Trips & Fake Latinos, Memória de Peixe ou Raquel André. Qual foi o critério de escolha e que ligações procuraste estabelecer entre eles?
Como programador artístico, interessa-me cruzar diversos mundos e realidades, que consigam encontrar chão comum no complexo momento atual do mundo, que constroem pontes e não muros, e que têm em si viagens de um passado, mas que se “atiram” para um futuro neste presente. São propostas onde a dramaturgia opera muitas vezes como uma possibilidade de tentar criar a sensação de “pairar e esticar o tempo” e encontrar espaço para uma viagem de reflexão interna, mas também com o sentimento de colectivo. É nessa diversidade, espelhada na programação, que se encontra a complexidade da coexistência, e a importante noção da profunda necessidade de diálogo e de escuta.
O espetáculo de Raquel André aborda o tema da pertença. De que forma esse conceito ressoa com o espírito do ÁGORA?
Estamos muito felizes e é uma honra acolher o espectáculo da Raquel André, que para além de abordar as diversas possibilidades ou noções de pertença, ela tem vindo a fazer um trabalho extraordinário de acessibilidade e participação com diversos públicos.
Há sempre uma enorme vontade de pertencer, não como sentimento de posse, mas muito mais de comunhão, participação, fazer parte de, construir com, partilhar vida e sentir que tens lugar neste momento e pertences com a tua plenitude ao aqui e agora. É nesse sentimento que nos revemos, nesse sentimento e responsabilidade de pertença que nos acarinha e nos dá a mão quando somos deitados ao chão. Nessa dança de reciprocidade que é dar e receber, que é ser trampolim para o salto, mas também para a queda, e que estamos aqui como facilitadores de encontros, passíveis de nos emocionar com a arte e que ela tem a sua forma política de afectos. Desejamos pertencer a algo, porque significa que fazemos parte de algo, e que esperamos sempre que seja maior que nós, pois é esse todo que importa.
O Castelo de Leiria é mais do que cenário, é protagonista do evento. Que desafios e oportunidades oferece este espaço a nível artístico e logístico?
O Castelo de Leiria é um lugar carregado de história, que paira no alto da cidade de Leiria com os seus mil recantos, pedras e encantos, que em conjunto criam ambientes e cenários únicos para a criação e fruição de um projecto artístico. A mística deste lugar, proporciona aos artistas e ao público, experiências diferenciadas, seja pela acústica de cada lugar, a envolvência natural, o horizonte para a cidade, ou pelo sentimento de estarmos numa edificação milenar.
O maior desafio nos dias que hoje, é exactamente o motivo pelo qual os castelos eram construídos, para serem “difíceis de aceder”. Apesar do grande trabalho realizado para se aceder às portas do Castelo de Leiria e ao seu primeiro plano, uma vez lá dentro, é um espaço muito difícil para pessoas de mobilidade reduzida ou condicionada, para acederem à parte superior do castelo e conseguir visitar o seu todo. Logísticamente é também um espaço muito desafiante, exigindo generosidade das equipas técnicas e artísticas, mas é nesse desafio que se encontra a especificidade do Ágora. O mais importante é conseguirmos tornar a programação do Ágora o mais acessível possível, mas sabendo sempre que estamos num castelo com milhares de anos e encontrar esse equilíbrio entre respeitar as possibilidades que este extraordinário espaço oferece.
Sendo um projeto que se afirma como lugar de encontro entre o presente e o futuro, que impacto gostarias que o ÁGORA tivesse na comunidade local e no público que o visita?
O que desejamos sempre nos nossos projectos, é que eles criem um “empacto”, palavra que escrevo pela primeira vez, e que para mim é uma constante tentativa de sedimentar um pacto pela necessidade de mais empatia. E nessa empatia existem muitas virtudes e fragilidades, vontades e necessidades, possibilidades de cada um criar ao seu tempo e capacidade, momentos de encontro e partilha.
É importante reconhecer também o nosso lugar de privilégio, que é estar neste lugar milenar e ser presenteados com imensas manifestações artísticas, em que cada uma traz um pouco do seu mundo e partilha de forma generosa com quem se encontra presente. Não há futuro sem um presente, não há um depois sem um agora, pelo que é importante reconhecer a nossa responsabilidade conjunta em criar legado de empatia e irmos construindo um presente e futuro melhor.
O acesso gratuito para residentes em Leiria é uma forma de aproximar a comunidade. Tens sentido essa adesão e participação ativa da população local?
Nas últimas edições do Ágora temos tido a felicidade de ter sempre um público atento, curioso e generoso, que preenche os lugares com vontade de ver, ouvir e sentir as propostas artísticas apresentadas. Desejamos sempre que exista uma participação ativa das comunidades locais, e tentamos desenvolver um programa artístico, em que o público sinta que irá experenciar algo especial neste ícone da cidade de Leiria.
A equipa do Castelo de Leiria tem feito um trabalho extraordinário ao longo dos anos, ativando o castelo através de diversas propostas culturais para diversos públicos, então essa aproximação à comunidade é fruto de um trabalho continuado.
O ÁGORA é também uma experiência de fruição coletiva. Que tipo de relação entre artistas e público procuras estimular?
Ao entrar no Castelo de Leiria, desejamos que o público se sinta abraçado por essas muralhas que ladeiam a toda a sua volta, e não que sintam quem é um “muro afastar do exterior”. Temos como mote no Ágora: quem tem pedras para construir uma muralha, também tem pedras para contruir uma ponte.
Dentro do castelo, há diversas micro realidades, distintas pela sua construção, vegetação, acústica, escalas, mas interessa-nos sempre criar espaços de proximidade, escolhendo maioritariamente lugares dentro do castelo que nos remetem a essa proximidade física e a uma escala mais “comum” num lugar tão imponente. É importante percebermos que deveríamos estar mais no mesmo plano, numa relação mais horizontal uns com os outros, em que a partilha de conhecimento e a proximidade, é a única forma de avançar neste presente, de forma a construir um futuro melhor.
Para ti, enquanto programador, qual é o maior risco e a maior recompensa de criar um evento como este?
Muitas vezes a maior recompensa é realmente poder correr alguns riscos, e falo com a humildade necessária do “risco”, que é pensar e criar um programa artístico num lugar tão emblemático como o Castelo de Leiria. Fico feliz que tenhamos a possibilidade e liberdade de o fazer desta forma, tentando sempre que o programa reflita de forma ora mais, ora menos visível: diversas preocupações com o estado atual do mundo, a liberdade de expressões, potenciar encontro e que os projectos culturais possam sempre ser plataformas de diálogo e reflexão. Tentamos em equipa, criar continuamente momentos para alargar horizontes, pois acreditamos que a arte e a cultura, são sem dúvida ferramentas e metodologias de mudança.
Foto: © Vera Marmelo
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