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José Russo (CENDREV) - Entrevista

January 15, 2016

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José Russo (CENDREV) - Entrevista
JoseRusso

Esta semana entrevistamos José Russo, Director do CENDREV.

O CENDREV surgiu no pós 25 de abril. Qual o balanço que faz destes 40 anos de actividade?
O ano 2015 foi, na vida do Cendrev, mais um das quatro décadas que acabam de passar desde que um grupo de homens e mulheres chegaram a Évora determinados em contribuir para a História de um país que acabava de acordar para a liberdade. A descentralização cultural em Portugal foi uma prioridade que resultou da revolução de Abril de 1974.Era necessário recuperar de um período negro da nossa História.

Ao longo deste tempo, foi possível experimentar e desenvolver, no nosso país, um conjunto de projectos culturais que surgiram a partir de companhias profissionais de teatro que foram desenvolvendo a sua actividade fora dos grandes centros urbanos.
A existência dessa rede de companhias que logo se constituíram em parceiros privilegiados das autarquias, criou um conjunto de centros de dinamização da vida cultural espalhados um pouco por todo o país, garantindo a realização de novas criações teatrais dirigidas a diferentes segmentos de público e a programação e gestão de espaços culturais, fossem eles públicos ou privados. O Cendrev, mais do que uma companhia de teatro, é um verdadeiro centro de acção teatral onde se cruzam diversas áreas e componentes da vida do teatro.
Aqui chegados, não restarão dúvidas quanto à valia destes processos no desenvolvimento cultural das comunidades do interior e, consequentemente, no desenvolvimento do próprio país, uma vez que foi também através de algumas destas companhias que se criaram e desenvolveram programas de intervenção cultural que são hoje exemplo reconhecido no país e no estrangeiro. A recuperação do importantíssimo espólio dos Bonecos de Santo Aleixo, associado à realização da BIME - Bienal Internacional de Marionetas de Évora, é uma bela demonstração dessas práticas consequentes.

A formação foi uma das componentes do CENDREV durante bastante tempo. A que se deveu essa aposta e porque terminou?
A formação de profissionais que pudessem corporizar o movimento que estávamos a iniciar, foi então definida como área de intervenção prioritária devido à absoluta necessidade de implicar gente qualificada e disposta a percorrer o caminho da descentralização cultural, empreender o processo da acção cultural a partir do teatro nas aldeias e vilas deste país. Criámos, com o apoio da Fundação Gulbenkian, uma Escola de Formação Teatral que depois funcionou com financiamentos do Fundo Social Europeu. Formámos dezenas de actores, técnicos e animadores culturais que foram criando ou integrando companhias de teatro e trabalhando em projectos municipais um pouco por todo o país.

Essa importante componente do nosso trabalho terminou devido à ausência de financiamentos que a sustentassem, o Fundo Social Europeu deixou de financiar formação com o formato que desenvolvemos. Por outro lado, assistimos também ao significativo esvaziamento das comparticipações do estado para a actividade cultural e para a formação nas áreas artísticas.

De que forma é envolvida a população local nas vossas atividades?
Um dos elementos estruturantes da actividade da companhia é o trabalho de itinerância uma vez que corresponde a cerca de 50% das sessões que realizamos anualmente. Sublinhamos também a atenção que dispensamos à intervenção junto dos vários estabelecimentos de ensino e do movimento de teatro de amadores, através de inúmeras acções na área da formação, da sensibilização e do apoio às actividades que organizam. Estes factores, a que atribuímos particular importância, têm contribuído significativamente para a qualificação, alargamento e renovação do público que frequenta o Teatro Garcia de Resende onde mais de 70% dos espectadores são jovens entre os 16 e os 30 anos.

O universo vicentino é também um universo que tem merecido, da nossa parte, uma particular atenção, porque se trata de uma obra que é, não só, a principal referência teatral portuguesa, mas também uma das maiores, do seu tempo, em todo o espaço europeu. Daí a importância do Painel Vicente, a que nos temos dedicado desde 1975, e da sua relação com o público, em especial com os públicos populares onde o acolhimento tem sido verdadeiramente caloroso e, por outro lado, com os jovens alunos do ensino secundário que durante o estudo das suas obras têm tido, desde logo, a possibilidade de ver os espectáculos, para além de poderem igualmente conhecer os próprios processos de construção dos mesmos.

Que tipo de linguagem teatral procuram nos vossos espetáculos, e como escolhem os textos?
Trabalhando numa cidade do interior do país com uma população de 50.000 habitantes, que atinge picos de cerca de 60.000 em virtude, sobretudo, da presença da Universidade, um projecto que habita o principal espaço cultural da cidade tem necessariamente que diversificar a sua actividade para poder tocar diferentes segmentos de público. É isso que procuramos fazer com o painel de actividades que, ano após ano vamos concretizando.

A primeira e principal linha de trabalho do nosso projecto centra-se na produção e apresentação de espectáculos, actividade em torno da qual sempre se desenvolveu e toda a nossa acção.

Em Portugal, só depois do 25 de Abril de 74 foi possível experimentar e desenvolver, no território nacional, um conjunto de projectos culturais que surgiram a partir de estruturas profissionais de teatro que, ao longo dos anos, foram desenvolvendo a sua actividade fora dos grandes centros urbanos dando forma a uma nova realidade cultural, a descentralização teatral. Passados estes anos, seria interessante conhecer as actividades desenvolvidas pelas companhias a partir das cidades de pequena e média dimensão, bem como o peso relativo dos apoios do Estado e avaliar a importância dessa actividade na prossecução dos processos de desenvolvimento das comunidades do interior e, consequentemente, do país.

O cuidado que temos dado às dramaturgias portuguesas é também um eixo programático do nosso projecto, tem constituído uma importante via para nos aproximarmos quer do público escolar, quer de um público mais popular que habita este imenso espaço rural onde intervimos regularmente.

A experiência de trabalho em co-produção na perspectiva da melhoria e qualificação das nossas intervenções e de uma maior rentabilização do trabalho tem-nos permitido concretizar algumas opções dramatúrgicas que não seriam possível de outra forma, como será o caso da montagem do “Auto da Barca do Inferno” que em 2016 vamos realizar com a Escola da Noite.

Como classifica o atual panorama cultural de Évora?
O Alentejo é um espaço rural de uma enorme valia cultural que importa preservar e melhorar. Para trilhar esse caminho há duas condições determinantes: A ligação à terra, enquanto factor de produção e de criação de riqueza, e a existência da escola enquanto núcleo vital para a fixação das famílias. Abater uma escola é fechar uma aldeia.

Évora tem sabido manter e recriar, ao longo de gerações, a sua identidade alicerçada no cruzamento de saberes que emerge do fundo dos tempos. Nas últimas décadas a classificação como Património Mundial, pela UNESCO, o grande crescimento da população universitária, a abertura de licenciaturas no âmbito das artes, reforçaram a importância de Évora como Pólo regional.

Apesar dos enormes constrangimentos a que a autarquia está sujeita em virtude da divida monstruosa que herdou, o novo ciclo político aberto com as últimas eleições autárquicas e agora também com a nova realidade nacional, estamos convencidos que esta cidade tem todas as condições para retomar o seu lugar no panorama da vida cultural deste país mas também no universo mundial com os milhares de turistas que acolhe todos os anos.

cendrev-40Quais os projetos futuros em que o CENDREV vai estar envolvido?
A organização da 14ª edição da Bienal Internacional de Marionetas de Évora, BIME, cuja primeira edição teve lugar em 1987, com a sua enorme capacidade de atrair o público da cidade e também muita gente da região e do país. Dispomos, como se tem comprovado, de condições verdadeiramente excepcionais para a concretização do projecto: um Centro Histórico que é um verdadeiro palco natural ao ar livre, o centenário Teatro Garcia de Resende como centro vital do evento e os Bonecos de Santo Aleixo que, sendo os dignos anfitriões da BIME, são também a imagem de marca desta iniciativa que foi alcançando um assinalável prestígio também no estrangeiro, sendo hoje um dos festivais internacionais de referência. O desenho deste projecto ganhou forma a partir do trabalho que iniciámos em 1980 com os Bonecos de Santo Aleixo que constituíram então “nova família” no Teatro Garcia de Resende para aí continuarem o trabalho que outras gerações de titeriteiros garantiram ao longo dos tempos.

A gestão do centenário Teatro Garcia de Resende é também uma actividade de enorme relevo, sobretudo se se considerar que anualmente acontecem neste espaço, em média, 170 sessões com o envolvimento de mais de 30 mil espectadores. O Cendrev, companhia residente apresenta em Évora, no próximo ano, duas novas criações e uma reposição que será apresentada para o público escolar. Em digressão a companhia apresentará também mais dois espectáculos em reposição.

Ainda que a cultura continue a ser o eterno parente pobre dos Orçamento de Estado, não deixaremos de contribuir, com muito esforço é verdade, para a manutenção da vida cultural da cidade património mundial e continuaremos a nossa intervenção na região, no país e no estrangeiro, assegurando com toda a dignidade o cumprimento de serviço público que continuamos a perseguir.

Uma medida para o Ministro da Cultura aplicar já amanhã.
A democracia, tal como a cultura, implica uma acção sistemática focada nas necessidades dos cidadãos.
O Teatro tem cumprido ao longo dos tempos um importante papel na dinamização cultural das comunidades e a sua função educadora intervém activamente na formação crítica dos cidadãos.

Nunca, como hoje, vivemos uma situação tão degradante e não estamos de acordo com os valores atribuídos à cultura, uma vez que atingem patamares meramente residuais.

A medida que reclamamos, á semelhança do que está a acontecer noutros sectores de actividade, é a reposição imediata do que nos foi retirado e, a breve prazo, a assunção de um valor digno para o financiamento da actividade cultural.

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