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Luís Vieira e Rute Ribeiro - Entrevista

May 14, 2022

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Luís Vieira e Rute Ribeiro - Entrevista
A 22.ª edição do FIMFA Lx - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas realiza-se em Lisboa, de 13 de maio a 5 de junho, uma produção da companhia A Tarumba - Teatro de Marionetas, com direção artística de Luís Vieira e Rute Ribeiro. Conversámos com a dupla para saber mais sobre o evento.

Que palavras-chave caracterizam a edição de 2022 do FIMFA?
Pensar o corpo, o objeto, a imagem, a matéria, o movimento. A liberdade de sermos quem quisermos ser, sem preconceitos. A liberdade de pensamento. A liberdade de ser diferente. A experimentação sem limites. O sonho. A concretização. O futuro de braço dado com a tradição.

O FIMFALx22 tem como mote ‘Pensar o Futuro’. É um futuro esperançoso ou preocupante?
O tempo passou muito depressa. Chegamos à 22.ª edição, depois de todos termos passado por acontecimentos que nos deixaram constantemente na corda bamba, mas de alguma forma sentimo-nos “rejuvenescidos” e com um misto de emoções, após dois anos que foram muito intensos, e em que mesmo com a pandemia ativa, conseguimos sempre fazer o FIMFA ao vivo! Demos tantas voltas, procurámos muitas soluções, numa verdadeira espiral de sentimentos.

Quando começámos a esboçar o programa deste ano, o futuro era esperançoso, e devemos dizer que agora esse sentimento até nos parece quase que algo ingénuo, com a sombra da guerra. É um futuro preocupante com os conflitos que assolam o mundo e os atentados às nossas liberdades. Mas a esperança mantém-se.

Precisamos de escutar o coração e olhar em frente. Por isso, convidámos a artista Moran Duvshani a trazer o seu “Cardiophone”, que permite ao público escutar individualmente a melodia única dos seus próprios corações, através de um aparelho para fazer eletrocardiogramas e de uma caixa de música. Um momento delicado e único, com as partituras produzidas por cada coração.

Quais os temas que atravessam a programação desta edição?
Pensar o corpo, o objeto, a imagem, a matéria, o movimento. Questionar a nossa relação com o outro - a tecnologia - a biologia - a robótica - o ambiente. A pandemia confrontou-nos com as distâncias entre os corpos. Tocar ou abraçar pode ser perigoso. Quais os limites?

O corpo artificial, como lhe dar vida e interagir com ele e o nosso corpo? Como estabelecer relações com o que nos rodeia? Quais os limites entre o objeto e o ator-manipulador? A junção entre a matéria e o corpo. Vamos poder assistir ao nascimento de uma canção, escutar o nosso coração ou até ensinar robots a dançar, mas também pensar o que pode colocar em causa as nossas liberdades e que futuro queremos.

Como é o vosso processo de escolha das obras a apresentar?
Pensamos cada edição do FIMFA como se estivéssemos a criar uma obra, um espetáculo, como um todo. Mostrar trabalhos inéditos, com temas atuais, mostra o melhor do futuro e o melhor do passado. Sem barreiras ou fronteiras. O mais importante? O fator-chave? A qualidade dos trabalhos.

Que destaques fariam da programação de espectáculos?
Começamos já com o espetáculo de abertura do FIMFA Lx22, o imperdível “Work” do coreógrafo Claudio Stellato! Um espetáculo fascinante, que decorre numa oficina surrealista e onde é criada uma sinfonia insólita com matérias-primas. Pregos, madeira, tinta, argila, ferramentas, e até uma betoneira, são utilizados de uma forma absolutamente inesperada. Verdadeiras pinturas ganham vida com a transformação dos materiais e elementos cenográficos. Um espetáculo-objeto, difícil de classificar, onde a bricolagem se transforma em arte, entre dança, novo circo, escultura, happening dadaísta ou teatro visual. Um espetáculo radical para ver dos 8 aos 108 anos! [13 e 14 de maio, São Luiz Teatro Municipal]

Jean-Pierre Larroche e a sua companhia, Les Ateliers du Spectacle, mostram a história de uma canção em construção. No cenário incrível imaginado por Larroche, um palco suspenso, um músico esculpe sons, rodeado de teclados eletrónicos, mesas de mistura e outras máquinas. À distância, uma cantora puxa os fios para ativar mecanismos sonoros suspensos à volta do músico que, aos poucos, vão afirmando a sua autonomia. Em “Le Présent c’est l’Accident” o duo de electropop UTO faz-nos descobrir os felizes acidentes que ocorrem entre os motores mecânicos ou eletrónicos e os humanos. [14 de maio, São Luiz Teatro Municipal]

“Simple Machines” ou como ensinar robots a dançar faz parte das experiências a não perder! Uma conferência-espetáculo de Ugo Dehaes, que conta a história de um coreógrafo que tenta ser substituído pela tecnologia. Ugo conta-nos como nascem os robots, desde casulos viscosos a máquinas brilhantes e constrói um universo povoado por organismos mecânicos que treinam e aprendem a tornarem-se artistas por conta própria. Ugo traz também a instalação “Arena”, em que o público é convidado a interagir com oito robots e a ajudá-los a tornarem-se melhores bailarinos. [21 e 22 de maio, São Luiz Teatro Municipal]

“Frankenstein” da companhia Karyatides é também um dos grandes destaques. Esta companhia belga gosta de revisitar os clássicos através do teatro de objetos e, desta vez, escolheu o romance visionário de Mary Shelley para criar um trabalho impressionante, algures entre o teatro de objetos e a ópera. Dois atores-manipuladores, uma cantora de ópera e um pianista, ajudados por uma multidão de bustos e de objetos oferecem uma leitura ímpar do famoso romance e convidam o público a questionar o que são - ou quais deveriam ser - os limites humanos, em termos de igualdade, justiça, responsabilidade e compromisso. Na banda sonora: Verdi, Ives, Rachmaninoff e até Celine Dion... [19, 20 e 21 de maio, Teatro Nacional D. Maria II]

Realce para Marta Cuscunà que vai apresentar a sua última criação, “Earthbound”. Um espetáculo de marionetas de ficção científica para uma atriz e criaturas animatrónicas, que transforma em teatro o pensamento ecofeminista de Donna Haraway no livro Staying with the trouble. As singulares criaturas ganham vida através das técnicas animatrónicas projetadas por Paola Villani e inspiradas nas obras da artista australiana Patricia Piccinini. Na sua construção colaboraram também artistas portugueses. [20 e 21 de maio, São Luiz Teatro Municipal]

Johanny Bert traz HEN, o cabaré de uma marioneta queer e punk, que ultrapassa as fronteiras de género e faz voar todas as algemas! Com uma manipulação prodigiosa, HEN é uma marioneta única e não pode ser limitada a uma categoria. O seu rosto e o seu corpo são múltiplos: mulher e homem, feminino e masculino. Diva enfurecida e viril de saltos altos, que se expressa ao cantar o amor, o prazer, a sexualidade com liberdade. Dois músicos acompanham HEN no seu cabaré louco e insolente, que encontra a sua inspiração num sonho de Björk ou no fumo ondulante de Brigitte Fontaine. [26, 27 e 28 de maio, Teatro do Bairro]

Destaque ainda para “Ersatz”, um teatro de objetos futurista, no cruzamento entre teatro e artes visuais, Jacques Tati e Black Mirror, sob o olhar atento de Alan Turing, que mostra o brilho gelado de um futuro já presente. Cheio de humor, com a manipulação e precisão de um bisturi, esta criação mostra os superpoderes dos objetos, porque o futuro é agora, mas não é real. [2, 3. 4 de junho, Teatro do Bairro]

Para os mais novos, salientamos ainda “Karl” e “Hermit”, que vão ser apresentados no LU.CA - Teatro Luís de Camões, duas criações que, embora muito diferentes, começam a partir de um cubo, e que vão maravilhar o público de todas as idades.

Na criação portuguesa o Teatro de Marionetas do Porto apresenta o seu último trabalho, “Jardineiro Imaginário”, com encenação de Isabel Barros. O Teatro de Ferro mostra-nos o segundo momento do seu ciclo dedicado aos objetos, “A Revolta dos Objetos - Uma Conferência Animada”. Os Bonecos de Santo Aleixo, laureados com o Prémio Henrique Delgado, fazem uma nova visita ao FIMFA. Paulo Duarte, marionetista português radicado em França, regressa ao FIMFA com dois espetáculos “Pour Bien Dormir” e NOVO. A Trupe Fandanga e o seu “Qubim”, revela-nos um palco que é uma carrinha cheia de caixas com marionetas. Susana Domingos Gaspar apresenta em estreia absoluta “As Amigas da Gaspar”, que junta marionetas, duas bailarinas e uma cantautora. Uma criação inspirada na série televisiva para crianças “Os Amigos do Gaspar”, de João Paulo Seara Cardoso.

Mas o melhor é irem ao nosso site e viajarem pelo programa: http://tarumba.pt/2022/pt/fimfa

Falem-nos um pouco das atividades complementares a que poderemos assistir este ano
No dia 15 de maio temos já a Masterclass de Claudio Stellato e para os mais pequenos começarem nestas lides, há oficinas de marionetas no LU.CA - Teatro Luís de Camões, dirigidas pela companhia portuguesa Trupe Fandanga.

No cinema, e em parceria com a Cinemateca Portuguesa, no dia 16 de maio, podem ver ou rever “A Dupla Vida de Véronique”, uma das obras-primas do realizador Krzysztof Kieslowski, com as maravilhosas cenas com marionetas realizadas pelo marionetista americano Bruce Schwartz. E na Cinemateca Júnior- Salão Foz, “Os Marretas” de James Bobin, para os mais novos começarem a conhecer as famosas personagens criadas por Jim Henson.

Vamos também ter conversas online sobre marionetas “de cá e de lá do atlântico”, com artistas que se dedicam ao Teatro Dom Roberto, aos Bonecos de Santo Aleixo e ao Mamulengo, formas tradicionais de marionetas de Portugal e do Brasil.

E fiquem atentos aos Encontros com Criadores, que vão decorrer após alguns espetáculos.

A que outros mundos está aberta a marioneta contemporânea?
As artes da marioneta já se entranharam, desde há muitos anos, em todos os domínios artísticos, porque a marioneta é ambígua, híbrida, multifacetada e simboliza o nosso tempo invadido por imagens e objetos.

As artes da marioneta estão abertas a todos os mundos, daí a visão abrangente que está contida neste conceito e pelo poder de metamorfose inerente à marioneta. Esta ideia abrange a sua diversidade atual, incluindo a sua aproximação a outros mundos, e a animação de vários materiais, imagens, sons.

Nas artes visuais, por exemplo, é notória a sua influência, inspiração ou a utilização de algumas das suas técnicas, basta pensar em nomes como Christian Boltanski, na Kara Walker ou em Ron Mueck, que embora muitos não saibam, começou a sua carreira como construtor de marionetas e colaborou com Jim Henson.

É um teatro da matéria, de sombras, de figuras, objetos, artes digitais, visuais, fotografia, cinema, mas também marionetas de fios, de luva, de vara, em miniatura, de tamanho humano ou gigante...

Como convive uma arte antiga como a da marioneta, com o mundo da tecnologia?
A resposta a esta pergunta obrigaria a considerações muito longas, mas poderemos falar de alguns tópicos.

A arte de dar vida a algo está presente nos tempos mais remotos da humanidade. Ainda num artigo recente sobre robótica e marionetas, era referido que os marionetistas animam objetos há milhares de anos – e eles têm muito a ensinar a uma indústria de robótica sem alma... Já no século V a.C., Heródoto mencionou figuras operadas por fios em antigas cerimónias e procissões no Egipto.

Elizabeth Jochum, investigadora de robótica e performance, refere que muito antes dos computadores, os engenheiros construíam objetos mecânicos projetados para serem parecidos e terem movimentos semelhantes aos humanos, animais e outras criaturas fantásticas, ao lado de máquinas mais práticas. Em 70 d.C., o inventor da “máquina a vapor”, Heron de Alexandria, construiu teatros de marionetas mecânicos, usando a pneumática e a hidráulica. Mas também poderíamos falar dos bonecos mecânicos Karakuri do período Edo do Japão (1603-1868), muitas vezes designados como os primeiros “robots”...

Mas existem muitos robots contemporâneos que se baseiam nas técnicas de marionetas tradicionais, seja em performances ou para outras ações. Como ainda afirma Elizabeth Jochum, a influência das marionetas na arte da robótica e no desempenho dos robots não é apenas histórica, mas fundamental para que sejam concebidos robots criativos e expressivos.

Às artes da marioneta estão intrínsecas as técnicas de manipulação (de sólidos, de fluxos luminosos, de todos os tipos de materiais ou até de ondas sonoras). Nos últimos anos, os marionetistas têm-se interessado pelo que as últimas novidades tecnológicas digitais e cibernéticas podem oferecer como espaços de experiência para os seus espetáculos.

Já para não falar da marioneta no cinema, nos efeitos especiais... Sim, a marioneta já está no mundo do amanhã.

Peço-vos um desejo para a arte da marioneta em Portugal
Esta é difícil, há muitos desejos para as artes da marioneta em Portugal... Que seja reconhecida em termos de igualdade com as outras artes.

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