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Luísa Correia da Silva: Sempre houve mulheres compositoras de excelência

Por

 

Pedro Mendes
September 15, 2025

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Luísa Correia da Silva: Sempre houve mulheres compositoras de excelência

O CRIVO – Festival Mulheres Compositoras estreia-se em Lisboa de 18 de Setembro a 2 de Outubro de 2025, trazendo à cena obras de mais de 30 autoras, da Idade Média aos nossos dias. À frente do projeto está Luísa Correia da Silva, diretora do festival, que se lançou nesta aventura depois de descobrir, quase por acaso, um universo vastíssimo de criação musical feminina tantas vezes esquecido da História. Nesta entrevista ao Coffeepaste, fala sobre a origem do CRIVO, os desafios da primeira edição e o impacto que espera ver no panorama cultural português.

Como nasceu a ideia de criar o CRIVO e porquê agora?

Em Setembro de 2023, por interesse e curiosidade, e sem sonhar o que aí viria, inscrevi-me num curso livre da NOVA FCSH chamado “Mulheres Compositoras: História da Composição no Feminino desde a Idade Média até ao Século XXI”. 

Depois de duas ou três aulas, estava completamente pasmada com a quantidade e qualidade de mulheres compositoras que sempre tinha havido e com a sua aparente ausência da nossa cultura. Foi assim, logo em Outubro de 2023, que surgiram a vontade e os primeiros esforços para organizar um festival que mostrasse alguma desta música maravilhosa - que estava, pelas razões erradas, “fora do radar”. 

Fiquei também muito encantada com a professora, Inês Thomas Almeida, que para além de ser uma fonte de conhecimento impressionante, é uma comunicadora excepcional e deslumbrante.

Não posso deixar de  recomendar a toda a gente este curso. Qualquer pessoa se pode inscrever, não precisa de ter conhecimentos musicais, é uma vez por semana, e o que se ouve (tanto a música como as histórias) é fascinante.

Estamos numa altura interessante: por um lado, há algum esforço e trabalho para conhecer e divulgar as obras e o papel das mulheres (na música e não só), sobretudo na academia. E há também consciência do público de que há muito para descobrir e curiosidade em descobri-lo. Mas por outro lado, ainda há pouca oferta e representatividade. Na prática, há muito por fazer - e há quem queira que nós o façamos (o que é excelente, por oposição a coisas que é preciso fazer e que ninguém quer que se façam). Por exemplo, a ideia deste projecto sempre colheu imenso entusiasmo e interesse, seja de instituições, participantes ou público - o que diz muito da nossa altura. Só faltava alguém fazê-lo, agora.

Qual foi a principal motivação para lançar um festival exclusivamente dedicado a mulheres compositoras?

A principal motivação é tratar-se de boa música que raramente é encontrada na oferta cultural.  Não estamos a fazer o festival por caridade ou para mostrar uma sub-secção, de maneira nenhuma. Fazêmo-lo porque acreditamos que o programa que propomos, pela sua qualidade, merece ser apresentado e ouvido. 

E procuramos ainda desmistificar a ideia de que as compositoras não teriam obra meritória, nem importante, nem reconhecida, ou que escreviam todas pequenas peças menores, de forma anónima, ou com pseudónimo, ou escondidas. Naturalmente, tendo existido tudo isso, queremos mostrar, também, a obra e o legado das imensas mulheres que foram famosas, influentes, premiadas e até agraciadas em vida, ombreando em qualidade com os seus congéneres masculinos, e cuja obra não passou o crivo dos séculos por razões em tudo alheias ao seu grau de qualidade, reconhecimento ou mérito. 

O que significa para ti dar início a esta primeira edição em Lisboa?
Este festival é uma autêntica aventura e repleto de estreias a todos os níveis: é o meu primeiro projecto independente, é a primeira edição do festival e oferecemos um programa inédito. Por isso, quis começar em Lisboa, onde sempre vivi. Por ser o território que habito, conheço e onde mais facilmente executaria uma primeira edição. Não obstante, o CRIVO gostaria de levar a música de mulheres compositoras a todos os cantos do país e reconhece a importância da descentralização. Com tempo (e trabalho, claro), espero que surjam essas oportunidades. 

A seleção de mais de 30 compositoras atravessa séculos e geografias. Como foi feita esta seleção?
Uma das coisas que mais me marcou no curso da Inês Thomas Almeida foi justamente aperceber-me que a produção musical feminina, para além de vasta, era transversal. Em qualquer século, país ou estilo, elas estão lá e há peças maravilhosas para descobrir e ouvir. Por isso, a ideia de apresentar tantos séculos e países é a de demonstrar que sempre houve mulheres compositoras de alta qualidade e que há de tudo para todos os feitios! Quando uma pessoa se apercebe disto, é mesmo um mundo que se abre!

Com este programa, quis dar a entender isso ao público. O programa corresponde a uma tentativa, bonita e felizmente impossível, de “mostrar um pouco de tudo”. 

No fundo, da mesma maneira que existe “Uma História da Música” - que por agora é, injustamente, masculina - quisemos fazer um pouco o mesmo para a composição feminina. 

A curadoria do programa musical é da Inês Thomas Almeida e as únicas indicações que dei foram: 4 concertos, da Idade Média ao Presente, compositoras de vários países, incluindo Portugal, em todos os concertos. 

Que critérios orientaram a escolha dos concertos e das formações artísticas convidadas?
Tudo começou pelo repertório. A qualidade e a relevância artística e histórica das peças orientaram a escolha do programa. E depois, convidámos músicos de excelência já consolidados, em quem podíamos confiar completamente para assumir este desafio, e que conferiam credibilidade ao festival. Para o Concerto Vocal, vamos poder contar com a participação do Grupo Vocal Olisipo; para o Concerto de Piano, Voz e Cordas teremos, respectivamente, o Raúl da Costa, a Camila Mandillo e a Camerata Atlântica. O Concerto Barroco, que trata um repertório muito específico, mesmo nos instrumentos utilizados, ficará a cargo da Real Câmara Orquestra Barroca, que nas suas palavras, é uma orquestra “historicamente informada”. E para o Concerto Sinfónico, tivemos o privilégio de poder contar com o enorme apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da sua Orquestra. 

Qual consideras ser a maior descoberta que o público fará nesta edição?
Creio que a maior descoberta que o público fará nesta edição será a surpreendente diversidade de compositoras e a riqueza das suas histórias de vida e criação. Para muitos, será possivelmente a primeira vez que terão contacto com estas autoras. Um dos grandes trunfos do CRIVO é cada concerto iniciar-se com uma contextualização feita pela Inês Thomas Almeida, que nos conduz pelas biografias, os contextos e os percursos destas compositoras, mas também pelas próprias obras que vamos escutar - revelando-nos detalhes, escolhas estilísticas e caminhos criativos. A partir daí, cada pessoa poderá criar ligações pessoais, identificar as suas compositoras preferidas e aprofundar os seus universos. Como já referi, apresentamos peças e compositoras muito diferentes - e é isso que torna esta edição tão especial.

Em Portugal ainda se ouve muito pouco repertório de mulheres compositoras. Que mudanças gostarias que o CRIVO ajudasse a promover?
Esperamos que este festival contribua para uma mudança de paradigma, para uma oferta cultural mais diversificada e rica, e em especial para uma visão mais completa, justa e verdadeira da História da Música e do papel da mulher na sociedade e na cultura; e levar aos espaços, às equipas, aos maestros, aos intérpretes, aos professores, aos alunos e ao público as obras de mulheres compositoras.

Como vês a importância de incluir estas criadoras nos programas pedagógicos do ensino da música?
A inclusão de mulheres compositoras nos programas pedagógicos é fundamental para garantir uma formação musical completa, crítica e justa. Estudar música não deve significar apenas dominar técnica e repertório, mas também compreender a história em toda a sua complexidade. O repertório que se aprende durante a formação influencia profundamente não só a estética e os caminhos criativos de cada músico, mas também a sua actuação enquanto agente cultural. Se essa base já nasce enviesada, perpetuam-se desigualdades e visões parciais da cultura musical, empobrecendo tanto o ensino quanto a prática artística.

Pensas que este festival pode influenciar a programação de outras instituições culturais?
Pode e está a influenciar! O CRIVO promove 7 eventos em 5 espaços diferentes da cidade de Lisboa: Carpintarias de S. Lázaro, Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Goethe-Institut e NOVA FCSH. Tudo instituições de peso na nossa vida cultural, que generosa e entusiasticamente recebem o CRIVO e as mulheres compositoras. Esta é já uma influência muito feliz e significativa. Para além disso, temos todo o tipo de agentes do tecido cultural (músicos, maestros, directores artísticos, programadores) a contactar pela primeira vez com este repertório, o que pode deixar uma semente muito interessante.

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