Marlene Monteiro Freitas estreia em Portugal “Nôt”, depois do Festival de Avignon

O espetáculo “Nôt”, da coreógrafa cabo-verdiana Marlene Monteiro Freitas, chega a Portugal em setembro, depois da estreia mundial a 5 de julho, no histórico Palácio dos Papas, na abertura da 79.ª edição do Festival de Avignon. A peça, encomendada pelo diretor do certame, o encenador português Tiago Rodrigues, terá apresentação nacional entre 11 e 14 de setembro na Culturgest, em Lisboa, e a 19 e 20 de setembro no Teatro Municipal do Porto.

Inspirado livremente em As Mil e Uma Noites, o trabalho parte da ideia de Xerazade, que conta histórias para salvar a vida, transformando a imaginação em arma de sobrevivência. A coreógrafa descreve a criação como uma “fábula em miniatura”, construída a partir da acumulação de múltiplos contos sobre o amor, a guerra, as viagens e criaturas fantásticas.

Em palco estarão oito intérpretes – Ben Green, Henri “Cookie” Lesguillier, Joãozinho da Costa, Mariana Tembe, Marie Albert, Miguel Filipe, Rui Paixão e Tomás Moital –, num exercício que confronta temas como vida e morte, prisão e liberdade, desejo e realidade. O título “Nôt” evoca tanto a palavra “noite”, em crioulo cabo-verdiano, como a palavra inglesa “not”, que remete para negação, interrupção ou desobediência.

A cenografia é marcada por grandes grelhas metálicas brancas que dividem o espaço, funcionando como biombos transparentes onde se projetam imagens de corpos disformes, rígidos ou em movimento hipnótico. Cadeiras, camas, jarros de água e panos coloridos completam o ambiente visual, num dispositivo cénico que se reinventa em cada apresentação, revelando novas camadas de interpretação.

Marlene Monteiro Freitas, fundadora da estrutura P.OR.K em 2015, é uma das coreógrafas mais reconhecidas internacionalmente, distinguida com o Leão de Prata na Bienal de Dança de Veneza em 2018. As suas criações, que cruzam drama e comédia, destacam-se pela intensidade, originalidade e hibridismo, reunindo elogios da crítica e do público.

Ao longo da sua carreira, a criadora trabalhou com nomes como Loic Touzé, Emmanuelle Huynh, Tânia Carvalho e Boris Charmatz, e assinou peças como “Canine Jaunâtre 3” (2024), “LULU” (2023), “ÔSS” (2022), “Pierrot Lunaire” (2021), “Mal – Embriaguez Divina” (2020) e “Bacantes – Prelúdio para uma Purga” (2017), entre muitas outras.

Com “Nôt”, Marlene Monteiro Freitas volta a afirmar a sua visão singular sobre a dança contemporânea, transformando o palco num espaço de confronto e encantamento, onde a sobrevivência se conquista através da imaginação.

Foto: Nôt, de Marlene Monteiro Freitas © Christophe Raynaud de Lage / Festival d'Avignon

Notícia adaptada. Fonte: LUSA