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Muitos Anos a Virar Frangos: por dentro da exposição com SUPERFICIAL

Por

 

Pedro Mendes
July 18, 2025

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Muitos Anos a Virar Frangos: por dentro da exposição com SUPERFICIAL

A exposição Muitos Anos a Virar Frangos, com curadoria da SUPERFICIAL e promovida pela Adriparte no âmbito do projeto P_ARTE, propõe um encontro inesperado entre o saber-fazer tradicional português e a linguagem da arte contemporânea. Num espaço urbano em transformação, a mostra afirma-se como um tributo à persistência, à mestria e à materialidade enquanto traços vivos da cultura nacional. Em entrevista com Mariana Baião Santos e Eleanor Swire, exploramos como esta curadoria equilibra o passado e o presente, selecionando artistas que trabalham técnicas ancestrais com liberdade, respeito e inovação. Com humor, intuição e rigor curatorial, Muitos Anos a Virar Frangos reconfigura o olhar do público, convidando-o a reconhecer, na superfície dos objetos e na textura dos gestos, a continuidade de uma herança que se reinventa no presente.

A exposição "Muitos Anos a Virar Frangos" cruza a tradição com a contemporaneidade. Como é que a SUPERFICIAL, através da sua curadoria, equilibrou esses dois elementos para criar uma narrativa coesa e impactante?

O equilíbrio entre tradição e contemporaneidade é inevitável, porque tudo parte sempre de algo anterior, toda inspiração é, de certa forma, um reuso do passado pelas mãos do presente.

A SUPERFICIAL, através da sua curadoria, reconhece isso e trabalha com artistas cujas práticas contemporâneas dialogam com técnicas e saberes tradicionais. São criadores que olham para a mestria do que foi feito antes, não apenas como referência, mas conscientemente como ponto de partida para reinventar, expandir e aprofundar as suas próprias linguagens. 

A exposição presta tributo à "persistência, mestria e ao saber-fazer que se transmite de geração em geração". Poderias dar exemplos de como os artistas em destaque reinterpretam técnicas e materiais tradicionais, propondo uma leitura contemporânea da herança material portuguesa?

Um dos exemplos mais evidentes desta releitura contemporânea da herança material portuguesa está no trabalho do duo de design MACHEIA. As suas peças combinam a técnica ancestral da cestaria - um saber tradicional transmitido de geração em geração - com estruturas em metal de linguagem mais contemporânea. Dois dos objetos apresentados na exposição são assentos que exemplificam este diálogo: materiais e técnicas do passado encontram formas e funcionalidades do presente, criando um equilíbrio estético e conceptual entre o “antes” e o “agora”.

Noutra perspetiva, o trabalho de Diana Cerezino oferece uma abordagem mais subtil mas igualmente rigorosa. A artista explora a cor e a forma através da pintura com extrema paciência e precisão. As suas esquadrias revelam uma investigação profunda sobre as qualidades formais da pintura e da perceção visual. A repetição meticulosa dos gestos traduz uma persistência quase meditativa, refletindo a mestria técnica e a dedicação que também definem os saberes tradicionais, mas aqui transpostos para uma prática claramente contemporânea.

Temos ainda o trabalho de Jéssica Ifu-soi que, embora exista de forma autónoma e não se proponha a fazer uma citação direta, evoca fortemente a tradição da olaria de Bisalhães: nomeadamente o barro preto e as suas formas orgânicas e expressivas. A conexão pode não ser literal, mas há algo na materialidade, nas texturas e na presença escultórica das suas peças que nos remete para esse universo ancestral. É uma forma contemporânea de dar continuidade a uma linguagem profundamente enraizada na terra e no gesto, que sobrevive através da experimentação, da intuição e do respeito pelo material.

A escolha do nome "Muitos Anos a Virar Frangos" para a exposição é intrigante. Qual é a profundidade e o significado por trás dessa expressão popular no contexto da arte e da temática da exposição?

O título "Muitos Anos a Virar Frangos" carrega, ao mesmo tempo, humor e profundidade, é uma expressão popular que remete à ideia de persistência, dedicação e experiência acumulada, exatamente os valores que a exposição procura destacar. Nada do que é apresentado aqui surgiu do nada. Cada peça, cada gesto artístico, está enraizado numa longa história de cultura material e de técnicas tradicionais riquíssimas em Portugal. O que mostramos é apenas um vislumbre de como os artistas contemporâneos se relacionam com esse legado, reinterpretando-o com respeito e criatividade.

Ao mesmo tempo, a escolha deste título, com a sua irreverência e informalidade, quebra a solenidade que muitas vezes envolve este tipo de exposição. Ninguém diz “muitos anos a virar frangos” com total seriedade, e isso faz parte da intenção: tornar o convite mais acessível, mais descomplicado. Acreditamos que este tom mais leve e espirituoso pode atrair um público mais diverso, incluindo quem normalmente não se sentiria à vontade ou representado num contexto expositivo mais tradicional.

A Adriparte, promotora do projeto P_ARTE, escolheu associar-se à SUPERFICIAL para colocar a materialidade no centro da curadoria. Como é que essa parceria influenciou o processo curatorial e a seleção das obras? 

O que nos uniu foi uma vontade comum de celebrar a cultura portuguesa e o que é “nosso”: a nossa história, as nossas técnicas, os nossos artistas. A Adriparte, sendo uma entidade 100% portuguesa, com projetos enraizados em território nacional, partilha esse compromisso.

Estamos profundamente gratas pela liberdade que nos foi dada durante a curadoria e pela confiança no nosso trabalho. É raro encontrar parceiros que compreendam tão bem o valor de oferecer espaço - físico e simbólico - para a criação artística. O trabalho que a Adriparte tem vindo a desenvolver, ao ativar espaços de transição e transformá-los temporariamente em palcos para arte e cultura, é notável. Permite que projetos como este ganhem vida em contextos inesperados e convida novos públicos a reconhecer o poder que a arte contemporânea — arte que é feita hoje em dia — pode ter no quotidiano e no espaço urbano.

Enquanto promotora imobiliária boutique, a Adriparte distingue-se pela sua abordagem diferenciadora, com uma curadoria criteriosa dos projetos que desenvolve e um forte compromisso com a qualidade e a exclusividade. Esta visão mais ampla, que integra cultura, identidade e sofisticação no próprio ADN do imobiliário, torna possível criar espaços com alma — espaços que não servem apenas para habitar, mas para viver, sentir e imaginar. Esta exposição é um reflexo direto dessa filosofia.

E sendo este um espaço tão central, atravessado por centenas de turistas por dia e marcado por uma presença internacional cada vez mais dominante, sentimos que esta exposição é também uma forma de fazer um “reclaim” da cultura portuguesa — de reocupar este território simbólico com vozes, técnicas e práticas que nascem daqui. Ao trazer artistas que trabalham a partir da nossa herança material e visual, estamos a afirmar que a cultura portuguesa não é uma peça de museu, nem uma imagem para postal: é viva, contemporânea, feita hoje, e merece espaço no centro, com visibilidade e intenção.

A escolha deste local tem também um caráter estratégico. Trata-se de uma zona em crescimento, com enorme potencial, que se está a afirmar como um novo polo de cultura, design e comércio qualificado. O perfil do público que aqui circula — entre residentes, criativos e turistas com curiosidade cultural — está perfeitamente alinhado com a proposta da exposição. Ao ocupar este espaço com arte e identidade, estamos não só a valorizar o local, mas também a demonstrar como projetos culturais podem coexistir com o desenvolvimento urbano de forma intencional e significativa.

A exposição desafia a percepção do público sobre tradição e inovação, revelando novas formas de interagir com o que é familiar através da memória tátil, da textura e da emoção do gesto manual. Poderias descrever como é que a SUPERFICIAL incentivou os artistas a explorar essas dimensões sensoriais nas suas obras?

As obras apresentadas na exposição não foram comissões, o nosso ponto de partida foi encontrar artistas cuja prática já explorava estas dimensões sensoriais de forma autêntica e consistente. A missão da SUPERFICIAL foi reconhecer esse trabalho e criar um contexto curatorial que o celebrasse e amplificasse. Mais do que direcionar os artistas, quisemos criar um espaço onde as qualidades táteis, a textura dos materiais e a emoção contida no gesto manual pudessem ser experienciadas de forma plena. Ao reunir estas vozes distintas, mostramos como o vínculo entre tradição e inovação pode ser sentido tanto através do olhar como através da memória sensorial, revelando novas formas de interagir com o que nos é familiar. Foi esse o foco da curadoria: criar ligações, oferecer contexto e permitir que cada obra comunique o seu próprio percurso, com toda a sua carga emocional e material.

A SUPERFICIAL "nasceu de uma paixão pela arte de superfície". Como é que essa paixão se reflete especificamente nesta exposição e na escolha dos artistas e obras?

A SUPERFICIAL nasceu de uma paixão pela arte de superfície por tudo aquilo que é táctil, visualmente rico, trabalhado à mão e profundamente ligado à materialidade, o que vai para além da tela e enriquece o espaço vivido. Essa paixão está no centro desta exposição, pelas práticas que valorizam o detalhe, o gesto manual, a textura, tudo o que se manifesta na “superfície”. 

Para além da curadoria de exposições, a SUPERFICIAL trabalha também através de comissões, consultoria cultural e consultoria de arte, ajudando a criar pontes entre artistas, espaços e públicos, e apoiando projetos que valorizam a cultura material e o artesanato contemporâneo.

O nosso papel é o de catalisadores e mediadores, aproximando saberes tradicionais de linguagens contemporâneas e promovendo práticas que celebram a materialidade como elemento central da criação. Muitos Anos a Virar Frangos é, assim, uma expressão clara da nossa visão: valorizar o que está para lá da superfície aparente, reconhecendo a profundidade, a história e a inovação que existem em cada detalhe.

A Adriparte posiciona-se como uma nova geração de promotores que "veem a cultura como motor de identidade, sofisticação e pertença". Como é que a SUPERFICIAL contribuiu para essa identidade cultural através da curadoria desta exposição?

A SUPERFICIAL vê-se como um catalisador dentro desta visão mais ampla da Adriparte para o projeto P_ARTE. Acreditamos que "Muitos Anos a Virar Frangos" demonstra o potencial transformador que a arte contemporânea pode ter quando inserida em contextos inesperados — neste caso, um espaço em transição, ativado temporariamente com um propósito cultural. Este tipo de ação é essencial para reconfigurar a forma como o público se relaciona com a arte e com o espaço urbano, e está perfeitamente alinhado com a missão da SUPERFICIAL: criar pontes entre práticas manuais, saber-fazer tradicional e linguagens contemporâneas.

A parceria com a Adriparte vai muito além da cedência de um espaço. Assenta numa visão comum: a de que a cultura pode e deve estar no centro da vivência urbana, contribuindo para a identidade, sofisticação e pertença. A SUPERFICIAL contribui para essa identidade cultural ao trazer para o centro da curadoria artistas que trabalham com a matéria, com a memória e com a herança visual portuguesa — não de forma literal ou folclórica, mas com liberdade, experimentação e profundidade estética.

Neste contexto, o Alure — o edifício que acolhe a galeria pop-up — assume um papel simbólico e estratégico. Situado numa zona em crescimento e com enorme visibilidade, tem todas as condições para se tornar uma referência no panorama artístico e cultural contemporâneo da cidade. A presença da galeria neste local é uma mais-valia para o projeto e para o bairro, reforçando a ideia de que espaços de excelência podem (e devem) abrir-se à cultura e à criação artística.

A longo prazo, a SUPERFICIAL vê-se a continuar a colaborar com a Adriparte na construção de uma programação que seja ousada, relevante e enraizada no que é nosso,  contribuindo para ativar o espaço urbano com arte que se sente e se vive.

Quais são os principais objetivos da SUPERFICIAL com esta exposição, para além de celebrar a arte contemporânea e a tradição portuguesa? Há alguma mensagem específica que a SUPERFICIAL espera que os visitantes levem consigo?
Para além de celebrar a arte contemporânea e a tradição portuguesa, um dos principais objetivos da SUPERFICIAL com esta exposição é desafiar a ideia de que tradição e inovação são opostos. Queremos que os visitantes saiam com uma sensação de continuidade, de que o que é feito hoje está profundamente ligado ao que veio antes, e que a beleza reside muitas vezes nos detalhes, nos materiais, na paciência de um gesto.

Adicionalmente, é tornar este tipo de mostra mais acessível e menos intimidadora. Ao usar humor no título, ao ocupar um espaço inesperado e ao dar visibilidade a práticas manuais e materiais, queremos desmontar a ideia de que a arte contemporânea é apenas para alguns. Acreditamos que todos têm lugar neste diálogo, porque todos temos memória tátil, referências visuais, ligações afetivas à matéria.

Se há uma mensagem que esperamos que os visitantes levem consigo, é esta: que há valor nas mãos que fazem, nas histórias que os objetos carregam, e que a cultura, longe de ser algo distante ou elitista, é algo que se vive, se toca e se reinventa todos os dias em todos os lugares.

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