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O ajuste de contas da gente de São Pedro da Cova

Por

 

Joana Neto
February 3, 2024

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O ajuste de contas da gente de São Pedro da Cova

Tribunal Mina (que surge na sequência do trabalho, a Mina) é um espetáculo da companhia Hotel Europa, que se tem dedicado ao teatro documental. A peça é construída a partir do legado, passado através de gerações, dos mineiros de São Pedro da Cova. 


Este trabalho, em cena de 1 a 4 de fevereiro, pode ser visto no Teatro Carlos Alberto, no Porto e, no dia 4 de fevereiro, conjuntamente com a peça Mina.


Tribunal Mina reconstitui a história do depósito de resíduos tóxicos da antiga Siderurgia Nacional da Maia (privatizada na década de 90) nos terrenos das antigas minas de carvão, em São Pedro Cova, entre junho de 2021 e fevereiro de 2022. 


São Pedro da Cova foi o destino de resíduos rejeitados pelo presidente da Câmara do Seixal, onde funcionava, à data, a outra Siderurgia existente no país e depois do Major Valentim Loureiro, presidente da Câmara de Gondomar, ter decidido ser aquele o lugar para enterrar "veneno" convertido em pó. Seixal não. São Pedro da Cova sim. As primeiras denúncias partiram de autarcas da CDU que alertaram para o que Governos, Ministros e autarcas tinham deixado passar incólume. Só anos mais tarde, em 2010, uma reportagem da TVI, levou o governo a solicitar um estudo ao LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil. A partir de então mais vozes se juntam na defesa da remoção dos resíduos. A remoção avança, bem como um processo longo que se arrastou em tribunal durante 6 anos, culminando com a absolvição dos arguidos, em 2021, no Tribunal da Comarca do Porto. São Pedro da Cova, à data do trabalho jornalístico que desencadeou o processo, estava a abrir noticiários e a população tinha, pela primeira vez, algum palco e palavra, mas não fez vingar a sua voz. Tratava-se, na versão do narrador, o ator André Amálio, de um crime ambiental que passou impune nos tribunais. A absolvição dos arguidos, engenheiros, raia miúda, e a prescrição do processo judicial criaram um sentimento de injustiça de uma população que conviveu com aqueles resíduos durante mais de 20 anos. Gente que cresceu, namorou, casou, brincou, estudou, deu o primeiro beijo, naquela terra intoxicada, finalmente tem a palavra e está em cena para nos contar a sua história e assim, com sotaque do Norte, dizer o que lhes vai na alma. Naquele tribunal popular, à semelhança do Tribunal Russell-Sartre, pretende-se recuperar o sentimento de justiça, fazer um ajuste de contas com o passado que é, afinal, presente. Terão mesmo sido removidos todos os resíduos? Essa incerteza ainda paira. Às vezes, o tempo da justiça não é o tempo da vida das pessoas, não responde às necessidades. Para preparar este trabalho, André Amálio tinha reunido, sem gravação, com um advogado e o jornalista da TVI que fez a reportagem sobre o caso e ali conseguiu encontrar o fio da verdade. O Estado nunca assumiu responsabilidades, as populações não foram ouvidas. A incidência de cancro e até de AVC's na região são sinal de alarme, mas falta comprovar o tal nexo causal em terra de mineiros, já fustigada por esses males mesmo sem aquela terra preta nos pulmões.


A riqueza deste espetáculo está na interpelação ao público, no lugar que somos chamados a ocupar que não é o de espectadores passivos, é o de participantes na decisão do tribunal popular, mas, sobretudo, no ato político de dar a palavra à gente de São Pedro da Cova. Os intérpretes são atores políticos que estão ali para nos dar o testemunho e para reencontrar justiça.


A cenografia e o desenho de luz garantem harmonia entre fundo e forma. 


A peça traça um genuíno compromisso entre a história de gente esquecida que quer e merece ser lembrada e a radiografia de um crime ambiental que pode ser um exemplo para futuro.


Como depois compreenderão, talvez São Pedro da Cova seja mesmo a nossa Ostrava...E é, sobretudo, a voz, o clamor desse povo que se levanta do chão, como Saramago desvendou na literatura, que nos fica a ecoar quando saímos da sala

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