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Pedro Baptista - Entrevista

June 21, 2018

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Pedro Baptista - Entrevista
Foto de cena "Prosopopeia". © Alípio Padilha


Pedro Baptista é um jovem actor, encenador e autor com várias criações sob o seu nome. Comversámos sobre o seu percurso artístico, sobre o seu próximo espectáculo, "Prosopopeia", e sobre o estado das artes performativas em Portugal. "Prosopopeia" estará em cena no Teatro da Politécnica (Lisboa), de 28 a 30 de junho de 2018.

Fala-nos um pouco do teu percurso artístico
Iniciei o meu percurso artístico algures em 2010, a frequentar aulas, workshops ou pequenos cursos de teatro e de dança. No entanto, creio que o ano de 2012 foi o ano determinante para o arranque do percurso que tenho vindo a desenvolver, pois após integrar um espectáculo com a Madalena Victorino, decidi escrever e encenar o primeiro espectáculo "NÓS ou ensaio sobre a metamorfose" na Comuna-Teatro de Pesquisa. Creio que esse foi o grande ponto de viragem - ou o ponto determinante - do meu percurso, na medida em que, desde aí, tenho vindo a procurar aprofundar e desenvolver o meu trabalho num sentido de pesquisa e de criação, tanto quanto intérprete como encenador e autor.

Enquanto intérprete, posteriormente a Madalena Victorino, trabalhei com o Jorge Andrade e com o José Capela (mala voadora), com o Mário Coelho (com quem continuo e pretendo continuar a colaborar), entre outros. Presentemente, e desde o ano passado, estou a trabalhar com o Jorge Silva Melo nos Artistas Unidos.

Enquanto encenador, depois da minha primeira criação em 2012, encenei e escrevi um solo, que interpretei na Comuna, intitulado "Purgatório"; dirigi e adaptei para teatro a curta "Rabbits" de David Lynch (na Manteigaria e na mala voadora); escrevi e encenei o espectáculo "Paisagem" na Comuna; e agora estou com esta nova criação: "Prosopopeia".

Como chegaste a "Prosopopeia" para título do espectáculo?
Raramente tenho a ideia para um espectáculo/performance antes de começar, de facto, a criar... mas desta vez foi diferente. A ideia para o espectáculo surgiu através do próprio conceito que dá título ao espectáculo: "prosopopeia", que se pode definir como a figura em que o orador atribui o dom da palavra e do sentimento a seres inanimados ou inertes, aos mortos ou aos ausentes. Eu gosto de pensar sobre como e quando fazemos os mortos falar. Talvez por estar relacionado com o teatro, ou com a arte num sentido lato. Quando invocamos as palavras de um autor damos voz a "ele" - porque ele é de algum modo as suas palavras. E ele não está lá. Está ausente. Talvez morto, se se der o caso. Mas basta ele viver e não estar presente para ele ser essa entidade ausente, fantasmagórica, que fala através daqueles corpos - porque brotou dele aquelas palavras, na medida em que foi ele que as escreveu. Morto ou vivo, ele não está lá, concretamente. Mas falamos dele. Do texto dele. É um acesso algo fantasmático e ao mesmo tempo bastante concreto: porque estivemos lá e vimos corpos vivos, concretos, que nos entregaram aquelas palavras. E depois as palavras passam a ser deles, porque são eles que as veiculam. E eles são esses corpos-veículos, cuja identidade desconhecemos. E mesmo que conhecamos algum performer, quando o vemos actuar ou agir, se reconhecemos que estamos a assistir a um espectáculo ou performance, a sua identidade fica meio suspensa. É ele/ela e não é ele/ela. Então estamos todos... "mortos", mascarados. Ou meio mortos. E não mortos num sentido físico, obviamente. Mas talvez identitariamente... Talvez. Não sei. Aliás... Paul De Man descreve a "prosopopeia" como a “voz que se ouve por debaixo da tumba”, e depois parte para a ideia de que toda a linguagem funciona, de algum modo, como uma forma de prosopopeia, pois é precisamente através da linguagem que cada indivíduo constrói as suas próprias máscaras. A origem etimológica da palavra prosopopeia advém do latim “prosopon poein”, que significa “atribuir uma máscara ou um rosto (prosopon). Ou seja, é tudo sobre máscaras, sobre pequenas mortes. Basta falarmos ou existirmos e lá está. A linguagem. A interpretação. A percepção. As pequenas mortes.

De que nos fala o espectáculo?
É sempre difícil para mim responder a esta pergunta, porque, na maioria dos projectos que venho a criar, não existe propriamente um "tema", nem uma narrativa concreta. Na maioria das vezes parto de "algo" que me interessa comunicar, uma urgência, uma ideia do mundo, mais ou menos detectável enquanto "isto" ou "aquilo"... ou seja, não há uma tese concreta que pretendo veicular. Ainda que este espectáculo parta de um conceito - "prosopopeia" - não é "sobre" isso... "sobre o conceito". Eu procuro sempre não definir "sobre" o que são os meus espectáculos. Eventualmente, quando percepcionados e detectados, serão sobre algo. Mas isso é depois. Quando se revelam.

O que poderei dizer, procurando ser justo e para não escapar inteiramente à pergunta, é que este espectáculo segue uma estrutura composta por quatro monólogos, na qual cada um disserta sobre mais ou menos o mesmo: a vida, a morte, o sentido da vida, o não sentido da vida, a existência ou inexistência de Deus, o que é aquilo a que chamamos de identidade... ou seja, a vida: tudo e... nada. É por isso que me é tão difícil responder a esta pergunta. O espectáculo "fala"... aliás, nele há quatro corpos que falam... E eu estarei lá para os ouvir. E espero que muita gente também.

Que inquietações te interessa comunicar enquanto criador?
Creio não ter inquietações que me interessem comunicar. Inquietações tenho. Muitas! Mas não consigo dizer quais são, porque vão variando de dia para dia, de situação para situação, de contexto para contexto... e às vezes são difíceis de detectar. De qualquer forma elas comunicam-se a si mesmas, através de mim... Mas isso é algo que me escapa. E ainda bem...

Pedro Baptista. © Jorge Gonçalves


Como vês o estado das artes performativas em Portugal?
Vejo com algum desalento e muita tristeza. Os cortes sucessivos que temos vindo a sofrer, no apoio às artes, é algo incompreensível para um país que, mesmo atravessando uma crise económica que, infelizmente, não é de agora, tem algum dinheiro que, de facto, poderia fazer chegar a estruturas artísticas, sobretudo as independentes, que por si só subsistem, de algum modo, sem qualquer financiamento ou subsídio. Aliás, muitas delas são reconhecidas junto de quem as segue - pelo que o seu trabalho é encarado como sendo pertinente... No entanto, esta situação precária em que temos vindo a sobreviver (na qual, mesmo os que conseguem um salário nalguma estrutura, têm os seus vencimentos em atraso... para nem falar de quem sobrevive sem qualquer apoio ou subsídio) não parece vir a atenuar-se... Mas esperemos melhores dias. Nunca passivamente, mas lutando e reivindicando o nosso direito à cultura - quer enquanto artistas, quer enquanto público.

O que faz falta para animar a malta?
Talvez um pouco mais de atenção para com o outro... mesmo no meio do desalento em que vivemos. Evitar uma "desumanização" da vida (embora entenda que possa parecer meio moralista ou até perigoso dizer algo assim)... Mas é isso...

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