
Colon of Duty
O que é e como surgiu a Rabbit Hole?A Rabbit Hole foi criada a 12 de Fevereiro de 2011, é uma plataforma artística com várias valências criativas e tem por objetivo fomentar a criação de um espaço de mostra e liberdade expressivas, promovendo um espaço seguro e de inclusão para a expressão de ideias alternativas ou até, questões banais mas exploradas sob novas perspetivas. Focamo-nos na organização de eventos e plataformas que fomentem a criação e projeção de novos trabalhos artísticos. Estes movimentam-se em regiões limítrofes da criação artística, servindo uma ética crítica transversal a todas as temáticas que abordamos. Por exemplo, na plataforma da Fat.Riot.Ima decidimos pegar na Aparição de Fátima, uma efeméride icónica de uma portugalidade religiosa e conservadora e, tal como João Paulo Ferreira fez no filme Fatucha Superstar – Ópera Rock… Bufa, exibido na abertura da plataforma, decidimos reescrever a história e torna-la atual. A meio do nosso DJset encenámos a aparição de Fátima, uma travesti de 18 anos dá um show em playback, de pastorinhos ajoelhados a seus pés que a determinado momento rasgam as roupas, vestem umas balaclavas, derrubam Fátima no palco e recriam o concerto “Punk Prayer” na Catedral de Cristo Salvador – que nosso caso acabou por ser o Teatro do Bairro. Isto permitiu-nos unir a ideia de festa a um espaço de crítica social e política onde questões como o feminismo, o corpo, a sexualidade e a religião são discutidas num formato menos convencional e onde todas as pessoas participantes no evento se tornam personagens integrantes da questão em discussão.
Todos os anos celebrávamos em casa o ano novo Chinês. Jantávamos, vestíamos de forma alusiva ao animal representante do novo ano, víamos filmes e de seguida enlouquecíamos. O desejo de partilhar esta experiência com mais pessoas levou-nos a realizar a festa na sede da ILGA, em 2011, ano do Coelho, cunhando assim o nome da Rabbit Hole. Os eventos seguiram-se uns atrás dos outros, foram-se criando colaborações e parcerias, nomeadamente com a Galeria Zé dos Bois, Teatro do Bairro, o Queer Lisboa, entre outras, que nos possibilitaram crescer de evento para evento, fidelizar um público e, finalmente, construir uma equipa. Inicialmente uma festa, a Rabbit Hole depressa cresceu para uma celebração maior, passando a incluir um espaço para a mostra de diversos objectos artísticos, entre os quais concertos, performances, filmes e ciclos de cinema com temáticas que sentimos serem relevantes para a nossa actualidade, promovendo também debates e conversas sobre estas e muitas outras tempestivas questões que nos vão assolando. A festa passou a uma plataforma e a equipa organizou-se como um coletivo – estrutura pensante e executante de todos os projetos da Rabbit Hole.

Alguns membros do coletivo durante a Biennale Artesanal
Que espaço no panorama cultural pretendem ocupar e quais os vossos principais objectivos?A plataforma artística da Rabbit Hole apresenta uma proposta programática que colmata uma lacuna nos modos formais de curadoria. A partir do cruzamento disciplinar, colocam-se tanto em relação quanto em oposição, objectos provenientes dos mais diversos campos (cinema, fotografia, performance, música, pintura, vídeo e escultura) dando lugar a uma reflexão liberta da uniformização dos meios de produção. Pretendemos ser um espaço ou base para que artistas de diversas proveniências e variados graus de experiência possam apresentar novos objectos artísticos e criar uma rede de networking e partilha transversal a todos os nosso projetos. Para tal, temos uma Call for Entries para cada plataforma de forma a nos abrirmos a novas e originais ideias e conceitos que possam enriquecer o nosso próprio programa.
Ao se instituir como plataforma de criação cultural, a Rabbit Hole vem colmatar uma falha na oferta do actual panorama cultural: há uma necessidade de espaços de experimentação e liberdade de partilha. Não é simplemente a criação de uma festa a que propomos, mas sim a criação de um espaço com características únicas, que se abre não só para os elementos do próprio panorama cultural mas para todos que queiram criar e partilhar os seus produtos e valores estéticos e éticos. Uma utopia das possibilidades, politicamente consciente, tentando criar um espaço de igualdade, especialmente sensível às questões do género e da sexualidade, mas transpondo-as transversalmente a outras temáticas por nós exploradas. Trata-se de um local de encontro de corpos e identidades, uma “pornotopia” de debate de ideias e expressões marginais.
Consideram-se um projecto subversivo?Gostaríamos de dizer que sim, mas seria uma resposta muito longa.
Querem destacar algum projecto que tenham levado a cabo?No final de 2013, começou a nossa parceria com o DNA Lisboa, nosso parceiro associado e espaço que desde então nos passou a acolher, sendo a Rabbit Hole agora um projecto residente. Esta situação coincidiu também com a criação da Associação Cultural Rabbit Hole para além da constituição de um colectivo com um núcleo de elementos fixos mas ainda assim aberto a outras pessoas que queiram participar. Para partilhar estas novidades com o público e agentes culturais, teve lugar a Conferência D. Impren$a a Fevereiro de 2014 que, como o nome indica, se tratou de uma conferência de imprensa realizada num formato informal e performático culminando num beberete como se quer.
Em Março de 2014, teve lugar a Colon of Duty, uma plataforma artística multidisciplinar que durou dois dias e englobou concertos, performances, instalações e DJ sets. Esta plataforma foi um passo muito importante para a Rabbit Hole devido à sua envergadura em termos organizacionais e ao número de novidades que foram implementadas neste novo formato de plataforma. Pela primeira vez foi oficialmente aberta uma Call for Entries (já era possível fazê-lo no nosso site no entanto nunca tínhamos feito um apelo público), reforçando o nosso interesse em receber novas propostas de artistas e pessoas interessadas que se identifiquem com as filosofia da RH. Foi também a primeira vez que acolhemos uma residência, com o artista francês Mathieu Schmidlin que nos trouxe numa instalação, deu um fantástico concerto, deu um workshop e uma masterclass na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Tratou-se de um projeto de curadoria artistica muito desafiante mas que no final se revelou na criação de um espaço rico em partilha entre todas as pessoas participantes – artistas, público, coletivo. A grande adesão levou-nos a manter esta estrutura para futuros projetos.

Fat.Riot.Ima
Em Junho do mesmo ano, o colectivo foi convidado a participar no projecto de curadoria de João Pedro Vale e Nuno A. Ferreira “Intendente” para o evento Red Bull O Santo Vertical. Durante uma semana, artistas de diferentes áreas criaram vídeos para capturar o imaginário do Largo Intendente, Rua do Benformoso e dos Anjos, articulando-o com os bares, tornados espaços de exposição. A instalação da Rabbit Hole foi recebida no bar “Cantinho” com o vídeo “Lugar às Noivas”, uma apropriação da estética tradicional das noivas de Santo António trazida ao processo reabilitador dos bares do Intendente. Queríamos aproveitar a vaga gentrificadora, tomar parte dela para de certa forma a contrariar ou força-la a trabalhar com a comunidade do Intendente. O resultado foi muito positivo pelo que acabámos por continuar a nossa colaboração com o bar Cantinho e trazer alguns dos seus elementos, como uma das baristas que encarnou Xana Cente, a personagem principal da seguinte plataforma artística, a Biennale Artesanal.
Quais as vossas próximas iniciativas?No início deste ano, foi criada a Associação Cultural Rabbit Hole, a componente estrutural do coletivo artístico que visa acompanhar e sustentar o crescimento do fenómeno Rabbit Hole. Veio servir de apoio para projetos futuros que se apresentam mais complexos em termos de programação e de produção assim como identidate central de candidatura a fundos e apoios. Esta evolução de complexidade da Rabbit Hole está relacionada com o amadurecimento artístico dos elementos do coletivo e com a vontade de abordar sempre novas temáticas e novas questões. As nossas próximas iniciativas irão refletir também a rede de colaborações que foi formada ao longo da curta mas prolífica vida da Rabbit Hole. Diversos parceiros irão co-produzir diferentes projectos. Em Setembro, iremos colaborar com Queer Lisboa - Festival de Cinema Queer de Lisboa e em Outubro com o DocLisboa – Festival de Cinema Internacional. O teor destas colaborações visam, à semelhança de anteriores, intersetar um elemento específico dos festivais – um filme, uma secção. Para Novembro, planeamos duas colaborações com a Galeria Zé dos Bois: uma nova plataforma artística e um evento em co-curadoria que englobará a exibição de um filme, concertos e performances com artistas nacionais e internacionais. Em Dezembro será apresentado o resultado final de um projecto co-produzido com o DNA Lisboa, nosso parceiro associado, dentro do programa BIP/ZIP promovido pela Câmara Municipal de Lisboa. Tratar-se-á de uma apresentação pública de uma peça de teatro desenvolvida com a Universidade Sénior de Santa Catarina em Lisboa, dirigida por elementos do colectivo. Fomos também convidados a estender o nosso projeto de curadoria e mostra artistica até ao Porto no qual iremos fazer uma residência artística a convite de uma companhia de teatro, para o final do ano ou início de 2015. Temos mais projetos em mente no entanto estes já se encontram bastante distantes no futuro...
Saibam mais sobre a Rabbit Hole em http://rabbithole.pt