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Um teatro tem de estar aberto ou fechado

May 16, 2020

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Um teatro tem de estar aberto ou fechado
Por Jorge Silva Melo

Il faut qu´une porte soit ouverte ou fernée (Uma porta tem de estar aberta ou fechada) é como se chama uma leve comédia (1845) de Alfred de Musset, romântico e escritor de teatro que mal era representado na sua breve e tumultuosa vida.

Penso nisso agora que vou lendo as propostas de regulamentação de uma eventual abertura dos teatros daqui por dias: e é verdade, ou estão abertos ou estão fechados.

Mas não sei como conseguiremos abrir um teatrinho no centro da cidade de Lisboa, falamos disso e não sabemos, não sabemos.

Não se trata de discutir o plano de contingência que o Ministério divulgou solicitando (ainda bem) críticas e ajustes. Li-o várias vezes desde que chegou e não sei como o criticar, nem sei o que propor. Outros saberão, eu não sei.

Sei fazer teatro. Mas não sei como arranjar dinheiro para pagar o pessoal extraordinário que será necessário para limpezas, acolhimento, desinfecção, medição da febre, acompanhamento dos poucos possíveis espectadores aos poucos e desinfectados lugares sentados, não sei. Nem sei como poderá funcionar uma bilheteira “sem contacto”, não sabemos e não vale a pena especular. Estivemos a ver quanto custará a reabertura e, pelas minhas contas, numa sala de aproximadamente 20 lugares (máximo) teremos um aumento de despesa entre os 5.000 e os 7.000 euros por mês. Não sei onde os encontrar - com a queda total de receitas e a melancólica perspectiva de, no máximo, “fazermos” 200 euros por récita... menos de 4000 euros / mês e isso seria se a sala estivesse magramente esgotada todos os dias.

Sim, somos uma das “entidades” (antigamente chamava-se “companhias”) com apoio sustentado quadrienal. Neste ramo do negócio somos altamente privilegiados. Mas o financiamento da Direcção-Geral cobriria no máximo 45% das despesas previstas. Podemos cortar despesas e viver só desses 45%? (Mas as despesas são quase todas vencimentos... e pouco maiores do que o ordenado mínimo...) Podemos chegar ao fim do mês com contas certas?

Com lotações drasticamente reduzidas (e incertas), teremos coragem para abrir a porta? Teremos coragem para dizer aos espectadores que podem entrar e que vão ser felizes? Podemos dizer aos actores que podem tirar a máscara e até abraçar-se? (Ou mesmo beijar-se?) Podemos pedir que projectem a voz quando sabemos que uma voz competente atinge 8 metros (com as suas agora chamadas “gotículas”, outrora “perdigotos”) ? Podemos desejar a quem nos procura “uma noite feliz”? E não é isso o teatro, o desejo partilhado de “uma noite feliz”?

Não, não se trata de escolher repertório adequado. Durante estes dois meses, temos lido, analisado, discutido, desejado, temo-nos até entusiasmado com hipóteses que julgamos justas. E, dois dias depois, não sabemos. Nem se trata de repensar os horários (espectáculos à noite? Ou só ao fim da tarde? Matinés ao domingo, agora que será possível – talvez- passear nas praias?)

Não sabemos.

Servimos para quê?

Abrimos os teatros para quê?

E penso naqueles muitos que só podem abrir com a perspectiva de receitas que lhes garantam o pagamento da “folha de companhia”, os que não têm qualquer apoio institucional (nós temos). Como podem abrir? Com que despesas e com que expectativas?

Os teatros podem abrir daqui por uns dias, sim.

Mas serão teatros?

Ou só umas fachadas a fingir que vivemos “normalmente”?

Pode haver teatros se não há cidade? E a cidade – que nestes últimos anos de cruzeiros à porta morria da desenfreada especulação e se desertificava – não foi isso que morreu?

Pode haver cidade se não houver abraços?

Vivi a minha adolescência numa cidade - Lisboa – onde era proibido beijarmo-nos na rua. E sonhava com Paris onde os “os rapazes e raparigas da minha idade / caminhavam a dois e dois/ e sabiam o que era ser feliz / e de olhos nos olhos, de mão na mão / não tinham medo do amanhã”, tão linda a Françoise Hardy.

Pode haver rua, pode haver cidade, pode haver teatro se tivermos – como temos - medo?

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