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A Cinderela que nunca deixou de ser Borralheira

Por

 

Statt Miller
February 3, 2024

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A Cinderela que nunca deixou de ser Borralheira

Cinderella inaugura a temporada teatral de 2024 dos Primeiros Sintomas. A partir da obra do autor suíço Robert Walser, conhecido pelos seus textos compostos por versos pouco convencionais, que brincam com as noções dos contos tradicionais, o espectáculo compõe-se a partir de uma dramaturgia que revela as influências de outras versões do conto de fadas de outros autores como os irmãos Grimm ou Perrault, entre outros. De fora ficou a versão da história da Disney, animação que popularizou a história da Gata Borralheira: numa cena sobretudo sombria cuja cor de eleição é o preto, o cenário sugere mais um palácio assombrado do que o luminoso lugar onde o príncipe vive, que conhecemos dos desenhos animados.

 

A partir de sinédoques, o espaço cénico serve simultaneamente de casa do pai de Cinderella, de aposentos do príncipe e de castelo do Rei. Numa moldura cenográfica original e de forte composição da autoria de Stèphane Alberto, esta é acompanhado por figurinos, registo cénico e sonoridades cuja inspiração que se guiam por uma certa sensação de obscuridade e terror - numa estética que se tem evidenciado como assinatura de Bruno Bravo.

 

À lareira encontra-se a cinzenta Cinderella, interpretada com candura por Nídia Roque, cuja paixão pela vida serviçal que tem levado, nesta versão, torna-se quase ridícula, tornando-se, no entanto, paradigmática da ideia de Gata Borralheira que o texto descreve. As ominosas irmãs (Joana Campos e Joana Campelo), funcionam como par simétrico uma da outra, com movimentos precisos e anti-naturalistas que simultaneamente desenham com precisa coreografia, ao atormentarem a bela protagonista da narrativa com as suas variadas exigências.

 

A personagem do Rei é desenvolvida a partir do lirismo operático da voz de Tiago Amado, o que cria uma certa confusão no registo escolhido para a peça. O príncipe é entregue à serenidade da interpretação de João Dantas, que é acompanhado pelo seu bobo, com a interessante interpretação de Catarina Pacheco, cuja fisicalidade e movimento sugere a expressão de marioneta. Finalmente, a Fada Madrinha, Sofia Marques, que entrega os sapatos de prata a Cinderella para que esta possa ir ao baile, é regida por uma estranheza que contrasta com a sua própria figura, que durante todo o espectáculo baloiça ao fundo de cena, de modo tenebroso.

 

Toda a interpretação é praticada de modo extremamente formal, numa escura melancolia que envolve o elenco numa posição quase sempre frontal relativamente ao público, o que resulta numa encenação praticamente estática dos actores (habitual marca de pensamento cénico dos Primeiros Sintomas). Tal como o cristal dos sapatos de Cinderella (que nesta versão não existe, pois os sapatos são “de prata”), o exercício cénico de Bruno Bravo é frágil e delicado pela sua dramaturgia complexa, não só pelo modo como é dirigida a interpretação, como também pelos momentos musicais e momentos de voz off em diferentes línguas – que se instituem como calcanhar de Aquiles desta sua encenação. Apesar de equilibrado relativamente ao ritmo, o mesmo, por não criar momentos climáticos suficientemente expressivos, salvo alguns momentos cantados, vive quase de uma letargia cénica.


Destacam-se as interpretações do par de Joanas, o ambiente sonoro de Sérgio Delgado e a escolha da versão particular da narrativa de uma Cinderela que, no fim, sem redenção, com um belo vestido pérola que contrasta com a restante materialização do conto, entrega-se à vida serviçal junto do príncipe. Apesar das suas fragilidades, é forte o aspecto estético do espectáculo no seu todo, linguagem que Bravo tem vindo a desenvolver ao longo das suas encenações.


Encenação e Dramaturgia: Bruno Bravo. Música: Sérgio Delgado. Cenário e Figurinos: Stéphane Alberto. Desenho de Luz: Alexandre Costa. Interpretação: Catarina Pacheco, Joana Campelo, Joana Campos, João Pedro Dantas, Nídia Roque, Sofia Marques e Tiago Amado Gomes. Operação Técnica: António Vilar. Assistentes de Cenografia: Daniela Cardante e Tatiane Oliveira. Construção: David Paredes. Costura: Atelier Oficina. Direcção de Produção: Telma Grova. Assistentes de Produção: Inês Félix e Rafael Ligeiro. Frentes de Sala: Lyudmyla Yankovska e Etivaldo Camala.

 

21 de Janeiro 2024, Primeiros Sintomas, CAL.

 

Este texto está também publicado em www.ocalcanhardeaquiles.wordpress.com

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